5 perguntas para Idit Yaniv, head de Design do WhatsApp

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Camila de Lira 6 minutos de leitura

O WhatsApp é quase uma unanimidade no Brasil. Pesquisas da We Are Social e Meltwater mostram que 93% dos usuários de internet entre 16 e 64 anos possuem o aplicativo no país. No mundo, são mais de 2 bilhões de usuários. Parte do sucesso do aplicativo é o design simples e intuitivo para a troca de mensagens. Recentemente a empresa anunciou mudanças em filtros, cores e contrastes. Pode parecer simples, mas qualquer alteração afeta a forma como as pessoas se comunicam. Nesta entrevista para o 5 perguntas, a vice-presidente e head de design do WhatsApp, Idit Yaniv, conta o que significa ocupar esse posto. Especialista em design de produto, ela está na empresa desde 2020.

De lá para cá, liderou a entrada de novos serviços e funcionalidades no aplicativo. Há um mês, a empresa anunciou mudanças na forma de buscar mensagens, entre outras novidades. Há duas semanas, Idit trouxe as últimas atualizações no design da aplicação de mensageria da Meta, relacionadas a cores e contrastes. Em meio ao debate sobre a importância do offline para a saúde mental, segundo a empresa, os novos contrastes e filtros foram feitos pensando naqueles que se sentem ansiosos com o uso excessivo do aplicativo. Já a nova cor entrou para atualizar o estilo do app e torná-lo ainda mais simples e acessível. Idit lidera esta tarefa e fala sobre os seus desafios e as suas descobertas.

FC Brasil - O WhatsApp tem 2 bilhões de usuários ativos no mundo. Mais de 90% dos brasileiros com internet usam. Quais os desafios de alterar o design de um dispositivo com essa penetração?

Idit Yaniv - Sentimos essa responsabilidade em cada pixel, em cada mudança. Minha família, por exemplo, usa o WhatsApp o tempo todo. É isso que acontece em muitos países, como no Brasil. Alterar o design é impactar a forma com que as pessoas se comunicam. Trabalhamos a partir de três princípios para guiar o design: sempre simples, acessível e atualizado. 

Para respeitá-los, a gente leva mais tempo para entender os tipos de mudança que queremos introduzir aos usuários. Somos cuidadosos em alterar ícones que mudam a memória muscular, por exemplo. Se a pessoa abre o aplicativo de manhã para mandar uma mensagem para um familiar, ela precisa saber onde ficam os botões para enviar.

O botão de enviar precisa estar debaixo do polegar, se mudamos isso, tem outras implicações. Debatemos as iterações pensando nessas implicações. Mostramos o design aos usuários, encontramos pessoas, recebemos seus feedbacks e iteramos repetidamente com base nesses feedbacks. Os feedbacks são uma das nossas maiores fontes de inspiração. 

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FC Brasil - O aplicativo é usado por pessoas de diversos países e com realidades financeiras diferentes. Como vocês equilibram as alterações de design do WhatsApp e as atualizações de dispositivos?

Idit Yaniv - Pensamos no WhatsApp como uma extensão do dispositivo. Quando projetamos algo, precisamos garantir que funcione em dispositivos e sistemas operacionais de baixo desempenho até os sistemas mais atualizados e dispositivos high end. Isso está incorporado em como projetamos, como olhamos para os arquivos de design, como testamos o design internamente. Também testamos os aplicativos nós mesmos, com diversos aparelhos, numa prática chamada "dogfooding".  Experimentamos, ajustamos e trabalhamos com o WhatsApp em aparelhos diferentes.

Nossa filosofia de design e de produto é que o aplicativo deve funcionar muito bem para a pessoa mais experiente em tecnologia, assim como para uma avó em uma vila rural. Quero garantir que as pessoas possam realmente usar e se comunicar. 

Além de pensar em dispositivos diferentes, também pensamos em como o aplicativo vai funcionar em diferentes conectividades. Entendemos que pessoas usam o app em diferentes planos de dados e tipos de Wi-Fi pelo mundo. 

FC Brasil - Algumas das alterações que anunciaram há 15 dias foram suavização na paleta de cores verde do WhatsApp e aumento do contraste das letras e dos desenhos. O que essas mudanças significam?

Idit Yaniv - Para a alteração do iOS, analisamos 35 combinações de cores diferentes, apenas para garantir que iríamos entregar o tom de verde correto. Pensamos não só como a cor fica numa tela, mas como ela aparece em todos os fluxos e componentes do aplicativo. E para nossa versão do Android, alteramos o tom da barra de navegação superior, de verde-azulado escuro para um mais claro. Atualizamos o esquema de cores. 

Outra decisão de design que tomamos foi unificar a paleta de cores entre iOS e Android. A aparência unificada é mais eficiente para o aplicativo. Podemos trabalhar ainda mais rápido para os usuários quando temos uma paleta de cores simples para as pessoas. Alteramos o contraste das bolhas de mensagem. No fundo dos desenhos, adicionamos elementos culturais dos países que o WhatsApp funciona. Outra coisa que fizemos foi aumentar o contraste para garantir a leitura melhor dos botões e das informações. 

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FC Brasil - Em média, o brasileiro passa 24,4 horas por mês no WhatsApp, segundo dados do Digital 2024: Overview Report. Em meio a discussão sobre a redução do tempo de tela e a necessidade de ficar offline, quais as ações que vocês tomam para beneficiar o bem-estar e a saúde mental do usuário?

Idit Yaniv -  O que estamos tentando fazer é melhorar a comunicação das pessoas, certo? E somos usuários do produto todos os dias. Às vezes, só quero colocar meu telefone de lado, ficar sem receber notificações. E, na verdade, ouvimos das pessoas que sentem essa ansiedade ao receber muitas notificações, principalmente porque muitos usuários utilizam o aplicativo para vida pessoal e profissional.

Com isso em mente, estamos introduzindo filtros, onde é possível separar chats individuais dos grupos, chats não lidos. As pessoas querem garantir que vão responder às pessoas depois de algumas horas, por isso o filtro de não lidos. 

A ideia para os filtros é de realmente ajudar as pessoas a organizarem suas conversas para que se sintam menos sobrecarregadas no dia a dia, para que possam usar o produto da maneira que quiserem. Então, têm essa sensação e mais ferramentas para controle. 

Queremos ajudar as pessoas a controlarem como usam o app. Os filtros são um bom passo nessa direção. Iremos aprimorar mais, conforme entendemos quais são os tipos de filtro que os usuários querem e precisam. 

Evolução da interface do aplicativo

FC Brasil - Você trabalha em design de produto há 11 anos. Destes, está no WhatsApp há quatro e é vice-presidente da divisão há dois. Qual foi a principal lição que aprendeu neste tempo?

Idit Yaniv - Quando você tem um conjunto muito claro de princípios e os desdobra, e os torna muito concretos, conseguimos tomar decisões difíceis de design de maneira mais eficiente. O produto parece coerente em todas as áreas. Parece um produto único para as pessoas. Não importa se aumentamos a equipe, se abrimos um novo projeto, realmente não importa. Tudo se encaixa nesses mesmos princípios. E todos estão pensando de uma maneira muito fundamentada. Acho que essa é a maior coisa que aprendi, não apenas sobre design, mas em geral, como tomar grandes decisões. Aprendi também quando dizer não para garantir que cada pixel esteja no lugar certo. 


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais