Horizontes expandidos: a jornada exponencial da IA no ambiente corporativo

É cada vez mais imperativo que a adoção da IA seja pautada por princípios éticos e de confiabilidade, segurança e privacidade

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Cesar Gon 4 minutos de leitura

Tive o privilégio de participar da segunda edição do Web Summit no Rio de Janeiro, um mega evento que congrega mentes afiadas em tecnologia e inovação de todo o mundo. Raramente vi um evento desta magnitude tão centrado em um único tema: a inteligência artificial.

Em meio ao hype e ao burburinho de inovações e insights compartilhados, fica evidente que estamos à beira de um momento decisivo, não apenas na história da tecnologia, mas também na forma como conduzimos nossos negócios e na maneira como interagimos com o mundo ao nosso redor.

A inteligência artificial, outrora confinada aos romances de ficção científica e às suas maravilhosas especulações futurísticas, agora começa a emergir de forma concreta em nosso cotidiano.

A trajetória atual da IA não é fruto do acaso, mas o resultado de uma confluência de três fatores fundamentais: um avanço científico sem precedentes na área de deep learning (sim, é a nossa venerada ciência da computação seguindo a sua marcha evolutiva); um avanço exponencial na capacidade de processamento proporcionado pelas GPUs (saltando dos poderosos processadores gráficos para turbinar algoritmos baseados em redes neurais); e uma disponibilidade de dados sem precedentes, cortesia dos 64 anos desde a invenção da internet.

Crédito: Fast Company Brasil

Esses elementos catalisaram o surgimento da IA generativa, baseada nos modelos de linguagem de grande escala, culminando com a estreia do revolucionário ChatGPT, em novembro de 2022, seguido por uma proliferação de modelos fundacionais desenvolvidos tanto pelas big techs quanto por centenas de startups inovadoras. Aliás, um super Davi versus Golias está em andamento.

Conforme debati na mesa redonda da qual participei no Web Summit, a metamorfose empreendida pela IA generativa começa com o trivial – automatizar respostas a e-mails, corrigir gramática, sumarizar textos e reuniões – e gradativamente se eleva à esfera da sofisticação, traduzindo idiomas, refinando argumentos, elaborando planos e organizando ideias com uma eficácia estonteante.

A evolução não se detém: a IA agora se aventura por campos mais ambiciosos, auxiliando em pesquisas, estratégias de negócios, design e, de forma avassaladora, na programação de computadores.

Vamos transcender os paradigmas de interfaces baseadas em telas e botões para adotar um modo de interação profundamente humano.

É evidente que essa jornada evolutiva é marcada por uma progressão exponencial. Os modelos são incessantemente aprimorados para abraçar capacidades cada vez mais complexas, incluindo a emergência da multimodalidade – a fusão sinérgica de texto, imagem, vídeo, áudio, código e demais formatos de informação.

Quais são esses demais? Imagine os modelos lidando com sinais sensoriais, biométricos, táteis, olfativos, localização, linguagem de sinais, dados de tempo, informações de saúde eletrônicas, comandos de gestos, infravermelho e diversas modalidades de imagem espectral.

Isso mesmo, aperte bem o cinto, pois, além das capacidades já conhecidas, a complexidade, o tamanho e a sofisticação dos modelos estão gerando as tais capacidades emergentes, ou seja, novas habilidades não previstas estão surgindo.

Quanto ao impacto no universo corporativo, prefiro ponderar essa transformação em um horizonte de uma década, e não meramente em anos isolados. Vislumbro a disrupção promovida pela IA em três atos distintos.

No primeiro, já em curso, a hiperprodutividade toma o palco. A IA está refinando a eficiência humana, automatizando tarefas rotineiras e expandindo a nossa capacidade de resolução de problemas complexos.

Projetando um olhar para dois a quatro anos adiante, enquanto a tecnologia evolui paralelamente às mudanças de comportamento do consumidor, o segundo momento da saga — a hiper personalização — promete revolucionar nossa interação com as máquinas.

Vamos transcender os paradigmas de interfaces baseadas em telas e botões para adotar um modo de interação profundamente humano, ancorado na linguagem natural e em gestos — e em outras formas que ainda teremos que inventar.

Por fim, em um horizonte de sete a 10 anos, a terceira parte ocorre com o surgimento de modelos de negócios inovadores e disruptivos, fundamentados na redução exponencial dos custos associados à tomada de decisões complexas.

A capacidade de decisão, agora superlativamente informada por dados e algoritmos, vai propiciar inovações estratégicas e operacionais sem precedentes no cenário empresarial.

a complexidade, o tamanho e a sofisticação dos modelos de linguagem estão gerando novas habilidades não previstas.

Então, de acordo com essa reflexão que aconteceu no evento, a sequência de atos sobrepostos de disrupção no mundo corporativo será (1) eficiência, seguida de (2) experiência e depois pela (3) tomada de decisão.

Conforme avançamos nesta era, é cada vez mais imperativo que a adoção da IA seja pautada por princípios éticos e de confiabilidade, segurança e privacidade. A conformidade com as rigorosas regulamentações que certamente emergirão é crucial para assegurar o uso responsável e benéfico desta tecnologia.

A transformação é inexorável: em algumas décadas, a disparidade entre os empregos de hoje e os do futuro será tão pronunciada quanto a diferença entre ocupações medievais e formas de trabalho contemporâneas. Como líderes, devemos preparar nossas organizações para navegar por esta revolução com responsabilidade e visão de futuro.

A inteligência artificial não apenas molda nosso presente; ela redefine os contornos do futuro. Como inovadores, cabe a nós nos engajarmos nesse processo transformador de modo consciente e de forma profundamente humana.


SOBRE O AUTOR

Cesar Gon é CEO da CI&T, que fornece serviços digitais para ajudar grandes empresas a fazer mudanças em escala. saiba mais