Você confiaria em uma IA para te proteger contra golpes na internet?

Microsoft e Google estão colocando suas inteligências artificiais em dispositivos, mas será que elas são realmente nossas aliadas?

Créditos: Andras Vas/ Unsplash/ Devrimb/ iStock

Rob Pegoraro 3 minutos de leitura

Nas últimas semanas, Google e Microsoft revelaram algumas de suas grandes ambições para a inteligência artificial. Mas suas demonstrações de menor escala dessa tecnologia – que chamam de IA nos dispositivos, mas que também pode ser entendida como IA off-line ou sem nuvem – parecem as mais interessantes, embora um pouco perturbadoras.

Ambas as empresas apresentaram ideias parecidas: adicionar ferramentas de IA (que funcionarão apenas off-line) nos dispositivos, para que os usuários possam receber assistência em tempo real – como se tivessem uma pessoa experiente e confiável ao seu lado.

A Microsoft anunciou o PC “Copilot+”, que usa processamento avançado – o primeiro modelo que vem com o processador Snapdragon X, da Qualcomm, em vez dos tradicionais Intel e AMD – para integrar a inteligência artificial à experiência do Windows.

Uma das novidades é um recurso chamado Recall, que permite que o Windows localize algo que você leu, viu, assistiu, ouviu ou em que estava trabalhando meses atrás.

“Com o Recall, vamos aproveitar o poder da IA e o novo desempenho do sistema para tornar possível acessar basicamente qualquer coisa que você já tenha visto no seu PC”, diz Yusuf Mehdi, vice-presidente e diretor de marketing ao consumidor. “É como se você tivesse uma memória fotográfica.”

Crédito: Microsoft

Isso porque o Recall constantemente captura o conteúdo da sua tela, que é analisado com software de visão computacional. Ele realiza capturas “a cada cinco segundos quando o conteúdo em tela é diferente da captura anterior” e as armazena em um banco de dados criptografado no próprio dispositivo, que precisará de pelo menos 50 gigabytes de espaço livre.

Também é possível configurá-lo para que não registre dados de aplicativos específicos – e, no Edge, de sites específicos – e pausar ou parar a captura de tela. Dependendo da quantidade de espaço disponível, ele é capaz de localizar coisas de até 18 meses antes.

o Recall aproveita o poder da IA para tornar possível acessar qualquer coisa que você já tenha visto no seu PC.

Katy Asher, gerente geral de comunicações da Microsoft, disse em comunicado que o Recall já virá ativado no dispositivo, com um guia passo a passo que explica as opções de privacidade disponíveis. Este novo recurso é muito mais poderoso do que as ferramentas que qualquer aplicativo já ofereceu para pesquisar dados.

“O Recall é muito mais abrangente do que qualquer coleta de dados típica. Ele tem uma visão muito detalhada de tudo o que você faz ativamente”, afirma Blake E. Reid, professor de direito e diretor da iniciativa de telecomunicações e plataformas da Universidade do Colorado.

Reid elogia a decisão da Microsoft de manter esses dados off-line, mas alerta que isso pode ter consequências negativas. “A abrangência desses dados cria incentivos para que diversos atores busquem ultrapassar as barreiras de armazenamento local, incluindo autoridades policiais, empregadores e desenvolvedores de malware”, diz ele.

IA PARA APARELHOS ANDROID

O Google revelou sua própria versão de IA em dispositivos durante sua conferência para desenvolvedores deste ano, apresentando o Gemini Nano para aparelhos Android. “A experiência é mais rápida e, ao mesmo tempo, protege sua privacidade”, afirma Dave Burke, vice-presidente de engenharia do Google. “O Android pode ajudar a protegê-lo contra fraudes, não importa como tentem atacá-lo.”

Ele demonstrou isso atendendo a uma ligação no palco, na qual uma voz muito calma dizia estar ligando em nome do banco para relatar uma atividade suspeita em sua conta.

Quando a voz do outro lado da linha disse “vou ajudá-lo a transferir seu dinheiro para uma conta segura que configuramos para você”, o público riu e o celular de Burke exibiu uma mensagem de “provável golpe”, com o botão “encerrar chamada” em destaque.

O Gemini Nano identificou esse padrão de fraude sem usar nenhum dos serviços em nuvem do Google. “Tudo acontece diretamente no telefone, então o processamento de áudio permanece completamente privado para mim e no meu dispositivo”, acrescentou Burke.

No entanto, ele não revelou o que faz com que a IA comece a ouvir uma chamada e por quanto tempo poderia armazenar os dados da ligação. O Google também não deu detalhes sobre isso até o momento.

A proposta da Microsoft é muito mais ambiciosa do que a do Google, mas ambas nos fazem questionar se as IAs que querem colocar nos nossos dispositivos são realmente nossas aliadas.


SOBRE O AUTOR

Rob Pegoraro é jornalista e escreve sobre computadores, gadgets, mídias sociais, aplicativos e outras coisas que pisquem ou bipem. saiba mais