5 perguntas para Guilherme Stefanini, CMO global do Grupo Stefanini

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Redação Fast Company 4 minutos de leitura

Guilherme Stefanini está dos dois lados da mesa quando o assunto é marcas e inovação. Como CEO da Haus, o executivo lidera o ecossistema de agências como W3Haus, Caps e Gauge, com o desafio de levar inovações tecnológicas – como inteligência artificial – aos negócios.

No papel recente (e inédito) de chief marketing officer (CMO) global do Grupo Stefanini, ele tem o desafio de atuar em mais de 40 países, disputando espaço com gigantes globais do setor. 

Na Haus, o executivo usa soluções proprietárias de IA para gerar insights e trazer eficiência. Em um grande banco brasileiro, a Haus conseguiu baixar em 85% o tempo de processamento. Já em um grupo de cosméticos, a tecnologia trouxe aumento de 42% no engajamento de campanhas.

Nesta entrevista à Fast Company Brasil, ele fala sobre o uso da inteligência artificial, da ausência de deep tech (tecnologias complexas) no Brasil e das responsabilidades do cargo.

FC Brasil – Você assumiu este ano a posição de CMO global do grupo. Quais têm sido as maiores dificuldades e os grandes aprendizados no cargo?

Guilherme Stefanini – Assumir a posição de CMO global trouxe desafios significativos, principalmente na organização e priorização de diversas iniciativas globais. O maior deles, provavelmente, é equilibrar a necessidade de manter a consistência e escala da marca globalmente, elencando o que queremos como grupo, ao mesmo tempo em que personalizamos e adaptamos para os mercados locais.

Estamos constantemente buscando mostrar o valor agregado que geramos para os clientes, mesmo sendo uma empresa com um perfil mais low profile.

Acredito que, com a governança certa, o valor da inteligência artificial pode ser maximizado.

Um dos maiores aprendizados é a importância de entender profundamente as perspectivas dos clientes. Sentar na cadeira do outro lado me permitiu compreender melhor as decisões que nossos clientes tomam.

Isso tem sido importante para orientar nossas estratégias não só para trabalhar a Stefanini no mercado, mas também para entender como podemos melhorar nossas soluções criando oportunidades para novos negócios.

FC Brasil – Como líder, de que forma você usa a inteligência artificial no seu dia a dia?

Guilherme Stefanini – A inteligência artificial é uma ferramenta que uso para diversas atividades, desde a redação de conteúdo até a análise de feedbacks de clientes. Ela me ajuda a sintetizar insights e identificar oportunidades de negócios que poderiam passar despercebidas.

A IA também é essencial para entender as dores dos clientes e encontrar possíveis oportunidades de upsell e cross-sell. De uma forma geral, a IA tem sido fundamental para o desenvolvimento de mercado e para nos ajudar a processar e analisar grandes volumes de dados, permitindo decisões mais informadas e estratégicas.

FC Brasil – De acordo com pesquisa do MIT, só 9% dos mil executivos entrevistados tinham um exemplo funcional de IA generativa. Isso porque ainda é uma questão minimizar riscos e aumentar a segurança. Vocês têm um modelo de governança para IA?

Guilherme Stefanini – Sim. A biblioteca da Stefanini dispõe de quatro mil prompts de IA que são utilizadas para apoiar as equipes internas no desenvolvimento de soluções. De forma descentralizada, permite que diferentes áreas possam criar e reutilizar soluções.

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A barreira para a adoção da IA ainda está em criar um ambiente seguro, mas isso é contornável. A grande questão está em contextualizar a tecnologia dentro dos processos de negócios.

Para isso, precisamos de dados robustos e uma implantação adequada para que, então, a gente consiga explorar o melhor dela e alavancar os resultados.

Para a Stefanini, esse processo já estava mais desenhado por termos essa expertise dentro de casa. O que temos feito é integrar a IA nos processos da empresa de forma segura e eficiente. Acredito que, com a governança certa, o valor dessa tecnologia pode ser maximizado.

FC Brasil – Por que não temos deep tech no Brasil?

Guilherme Stefanini -  A ausência de deep tech está ligada a vários fatores, como a falta de alinhamento entre academia e setor privado e a capacidade limitada de investimento em projetos de longo prazo.

Sentar na cadeira do outro lado me permitiu compreender melhor as decisões que nossos clientes tomam.

O ambiente econômico complexo e a falta de financiamento adequado dificultam o desenvolvimento dessas tecnologias, ao contrário do que acontece com China e Estados Unidos. Além disso, a escala de mercado e a distribuição no Brasil não favorecem o surgimento de deep techs.

A falta de uma cultura de formação voltada para áreas de exatas também contribui para essa lacuna. No Brasil, muitos estudos são feitos, mas raramente vemos a academia e o setor privado trabalhando juntos para transformar essas pesquisas em inovações reais.

FC Brasil – Quais os desafios de uma empresa de tecnologia brasileira no cenário de concorrência global?

Guilherme Stefanini -  Embora tenhamos uma presença global forte, uma mão de obra altamente qualificada e local, a imagem do Brasil como um país tecnológico ainda não é bem consolidada no exterior. Lidamos com desafios de idioma e com a necessidade de construir nossa reputação a partir de uma base de percepção desfavorável.

O principal ponto é que competimos com países como Índia que, apesar de desafios internos, são percebidos como referência em tecnologia. Precisamos trabalhar continuamente para mostrar que nossas soluções tecnológicas estão à altura dos concorrentes internacionais.

Mesmo que a marca Brasil ainda não seja amplamente reconhecida por sua excelência tecnológica, estamos sempre buscando reconstruir essa visão.


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