5 perguntas para Amishi Jha, neurocientista da Universidade de Miami

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Jenna Abdou 5 minutos de leitura

"Fique calmo para manter a calma”. Essa é uma das máximas da pesquisadora Amishi Jha apresentada em seu  livro "Peak Mind: Find Your Focus, Own Your Attention, Invest 12 Minutes a Day" (Mente Afiada: Recupere seu Foco, Domine sua Atenção, Invista 12 Minutos por Dia, em tradução livre). A principal recomendação para ter uma "mente afiada" é buscar a tranquilidade em vez de se cobrar ainda mais, diz ela. 

Como diretora do departamento de neurociência contemplativa da Universidade de Miami, ela também precisa lembrar a si mesma de "ficar calma para manter a calma”. Seu trabalho exige que ela controle sua atenção e, o que é mais importante, que consiga evitar a dispersão da atenção.

A pesquisadora tem ensinado como fazer isso por meio de seus programas pioneiros de treinamento baseados em atenção plena com atletas, executivos, soldados e socorristas. "Você pode até compreender o conceito do ponto de vista intelectual, mas precisa de fato praticá-lo para que isso aflore em determinado momento", afirma.

Nesta entrevista, Amishi Jha explica como fazer isso com sua equipe. 

Fast Company Como o treinamento da atenção plena melhora a nossa disponibilidade de tempo? 

Amishi Jha – Parte da resposta a essa pergunta consiste em verificar quais são os nossos maiores desperdícios de tempo. Quando temos um prazo, qual é o tipo de coisa que acontece antes de conseguirmos cumpri-lo? Às vezes, o que atrapalha é a ansiedade. Às vezes, pode ser uma resistência. Seja o que for, acontece com frequência quando estamos começando a realizar uma tarefa.

Depois, quando a tarefa está em andamento, esses pequenos momentos de tensão reaparecem várias vezes. Geralmente,

Você pode até compreender o conceito do ponto de vista intelectual, mas precisa de fato praticá-lo para que isso aflore em determinado momento.

isso passa despercebido. Achamos que estamos apenas encarando o problema. Mas o benefício de prestar atenção à nossa atenção é que nos conscientizamos de que estão acontecendo outras coisas que não estão relacionadas à nossa meta e que, na verdade, podem nos impedir de alcançá-la. 

Quando nos conscientizamos disso, é possível adquirir alguma capacidade de escolher para onde direcionamos nossa atenção. Imagine que a atenção é como uma lanterna: em todos os momentos anteriores à tarefa relacionada ao objetivo, ela está em outro lugar. Até que finalmente conseguimos direcioná-la para a tarefa que temos pela frente.

Quando você começa a ver todos os componentes de distração que estão separados da tarefa, consegue perceber que há um custo associado a eles. Com consciência e atenção, podemos ser mais eficientes na realização de nossas metas. 

Fast Company – Se houver 10 pessoas em uma reunião, cada uma vai estar com a cabeça em um lugar diferente. Como você analisa isso?

Amishi Jha – Durante metade do tempo em que estamos acordados, nossa atenção, por padrão, pode não estar na tarefa em questão. Em uma reunião de 30 minutos, isso significa que, durante 15 minutos, as pessoas não sintonizadas. Portanto, em primeiro lugar, devemos estar constantemente conscientes dessa nossa vulnerabilidade e ter a intenção de estar totalmente presentes. 

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Faço parte da diretoria do Search Inside Yourself Leadership Institute. Eles têm uma prática chamada "a moment to arrive" (um momento para estar presente). Ela diz: "quando você entra em um espaço de reunião, sabe que veio de outro lugar e que logo sairá para um lugar diferente. Mas vamos tentar estar presentes aqui e agora, juntos".

A segunda coisa é ter o entendimento compartilhado de que nem todos conseguiremos permanecer presentes o tempo todo. Observe sua mente. Esteja ciente de que você perderá informações, cometerá erros e que sua tomada de decisão será falha se você não estiver realmente presente.

Fast Company – Sua prática de "parar, largar de mão e deixar rolar" é muito útil para isso. Quando foi que ela te ajudou a liderar com intenção, em vez de reatividade?

Amishi Jha – Parar, largar de mão e deixar rolar é um método. Parar significa tomar consciência da enxurrada contínua de fenômenos mentais e deixar de participar dela. Largar de mão é deixar de se envolver com todas as histórias que possam surgir. Ou seja, é dizer: tem uma história se desenrolando aqui, vou apenas observar. Deixar rolar se refere a continuar, deixar o momento passar sem tentar se apegar a nada. 

Fast Company – Foi surpreendente descobrir que treinamentos de positividade, na verdade, esgotam nossa atenção. Por que o treinamento da atenção plena é uma opção melhor? 

Amishi Jha – A positividade deve ser usada com cautela quando se está em um período de alta demanda e muito estresse. Parte disso é essencialmente gerenciamento de recursos. A construção de um castelo no céu não acontece sem que você se esforce para criá-lo, e isso tem um custo, que é essencialmente seus recursos cognitivos e de atenção.

Esteja ciente de que você perderá informações, cometerá erros e que sua tomada de decisão será falha se você não estiver realmente presente.

Se você tiver a capacidade de fazer isso, vá em frente. Mas, se não tiver, vai esgotar os recursos de que talvez precise para fazer outra coisa.

Parte da construção dessas capacidades, por meio do envolvimento em práticas de atenção plena e compaixão, é para que tenhamos mais recursos para trabalhar. Mas também para que tenhamos mais consciência de como usar melhor esses recursos em qualquer momento em que precisarmos deles.

Fast Company – Quando é o melhor momento para se começar um treinamento de atenção?

Amishi Jha – Se você esperar pelo momento em que precisa da sua atenção para treiná-la, será tarde demais – da mesma forma que, se deixar para se exercitar quando precisar de força física, será tarde demais. É preciso se ater a essa noção de "treinar todos os dias", porque não se sabe quando vai precisar.


SOBRE A AUTORA

Jenna Abdou é criadora e apresentadora do portal 33Voices. saiba mais