5 perguntas para André Vellozo, da DrumWave

Crédito: Federica Armstrong

Claudia Penteado 3 minutos de leitura

Inventor e empresário, André Vellozo mudou-se para os Estados Unidos há 10 anos para empreender e hoje lidera a DrumWave, no Vale do Silício, startup que vem subvertendo a lógica da monetização de dados. A ideia é empoderar os consumidores, com uma plataforma que lhes permite vender os dados gerados por sua relação com determinada empresa ou marca. Nesta entrevista à Fast Company Brasil, ele fala sobre disrupção, humanidade, regeneração do planeta e o poder dos bons exemplos.

O que é inovação para você?

É um fenômeno que ocorre abaixo da fronteira do modelo de negócios das companhias. Ela pode vir de dentro ou de fora. Inovação não muda a essência nem o propósito do negócio, é um ajuste fino na linguagem, no produto, na tecnologia, nos processos e, às vezes, até nas relações entre essas instâncias. Quando se inova acima da fronteira do modelo de negócios, chamamos de disrupção. Disrupção impacta a essência e o propósito do negócio.

Quais habilidades considera essenciais para os líderes do nosso tempo?

O desafio é ser capaz de operar no limite daquilo que nos faz humanos. Vivemos em um mundo bipolar, dividido e esquizofrênico, desenhado para ser viciante, amplificado e acelerado por algoritmos. Lidamos com discursos de ódio, bullying, racismo, sexismo, desigualdade e uma distorção de valores que faz muito barulho dentro e fora das companhias. Não existe mais uma nova América, ou um novo continente para um pecador arrependido recomeçar, ou para um excluído buscar um restart. As fronteiras agora são “iny”. São fronteiras internas. Líderes extremamente humanos, que entendem de dados e conseguem navegar entre passado, presente e futuro, serão essenciais neste momento.

Perseguir a felicidade é uma insanidade e não está diretamente ligado a qualidade de vida.

O que é sustentabilidade, na sua opinião?

É a relação entre o custo marginal social e o benefício marginal social de operar. Quando se transfere este custo para o meio ambiente, para as pessoas, para países menos favorecidos, deixamos um passivo, uma conta para alguém pagar. O mundo tem mais dinheiro em caixa hoje do que o GDP [Produto Interno Bruto] do planeta todo. Fizemos isso explorando fraquezas. Se hoje existe um ângulo positivo nisso, é o fato de que as maiores oportunidades de negócios são aquelas que visam regenerar os segmentos e áreas mais prejudicadas por esta mentalidade. Precisamos mais do que sustentabilidade, precisamos regenerar.

O que considera qualidade de vida?

É ter a oportunidade de dedicar sua vida a um propósito que te alimenta e ter uma boa dose de romance e aventura neste propósito. É poder ficar feliz quando é para ser feliz e ficar triste quando é para ficar triste, e não o contrário. É poder trocar com as pessoas, construir. Perseguir a felicidade é uma insanidade e não está diretamente ligado a qualidade de vida. Imagine só as condições nas quais nossos trisavós decidiram embarcar em um navio, lá na Europa, para atravessar o Atlântico em direção a América. Imagine o que os levou a fazer isso e o que encontraram quando chegaram. Pense no trabalho que devia dar para acender um fogo, conseguir comida ou curar uma infecção. Se levarmos em conta toda conveniência e comodidade a que temos acesso hoje, tecnicamente nascemos todos aposentados. Nossos trisavós buscavam um futuro melhor para si mesmos e para todos nós. Como disse William Gibson: “o futuro já está aqui. Só não está igualmente distribuído”.

Qual o melhor conselho que já recebeu na vida?

Timing é tudo. Errou o timing, errou tudo. Isso serve para tanta coisa! Até para não chegar atrasado em reuniões. Uma boa lista de conselhos para quem empreende ou lidera hoje é o “Manual da Startup”, do Marc Andreessen. Os melhores conselhos que tive foram exemplos. Tenho a sorte e a oportunidade de conviver com pessoas fantásticas. Conversando com uma delas, tentei explicar uma oportunidade que não foi capturada no passado e o quanto de valor havia sido deixado de lado. Ele sorriu e me respondeu: “André, outros tempos”.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais