5 perguntas para Bazinho Ferraz, CEO da Atmosphera & Partners.Co

A nova empresa da holding Biosphera.ntwk passa a organizar aportes por meio de fundos de investimento e capital de risco

Bazinho Ferraz, CEO da Atmosphera&Partners.Co
Crédito: Divulgação

Redação Fast Company Brasil 6 minutos de leitura

Bazinho Ferraz está no mercado de comunicação desde o fim dos anos 1990. Em 1998, fundou a BFerraz e acompanhou as primeiras transformações da indústria em torno de experiência, conteúdo e comportamento.

Depois de integrar a operação ao Grupo ABC e retomá-la de forma independente em 2015, criou em 2018 a B&Partners como uma holding construída para conectar publicidade, tecnologia e vendas.

Agora, essa estrutura passa a adotar o nome Biosphera.ntwk, uma rede formada por 16 empresas, entre elas Ampfy, New Vegas, Nossa Praia, Snack Content e Just a Little Data que, juntas, somam R$ 650 milhões em receita.

A mudança parte da ideia de um “organismo vivo”, pensado para operar com capacidade de mutação contínua e integrar especialistas em diferentes disciplinas.

Paralelamente, Ferraz cria a Atmosphera&Partners.Co, gestora responsável por consolidar a atuação do grupo em investimentos. A nova empresa passa a organizar aportes por meio de fundos de investimento e capital de risco, além de intensificar fusões e aquisições nacionais e internacionais.

A Atmosphera já investe em negócios como DataBeats (inteligência analítica e IA) e Postmetria (reputação e experiência do consumidor em tempo real). Nesta entrevista à Fast Company Brasil, Ferraz fala sobre capital, especialização, tecnologia e os próximos ciclos da indústria.

FC Brasil – A Atmosphera&Partners.Co coloca você em diálogo direto com o mercado de capitais. Quais os desafios de fazer criatividade, comunicação, operação e mercado de capitais falarem a “mesma língua”?

Bazinho Ferraz – O grande desafio é justamente o fato de serem lógicas que, historicamente, nunca conversaram. O mercado financeiro é orientado por métricas, governança, previsibilidade, risco e retorno. Já o setor criativo opera pela sensibilidade ao comportamento humano, pela velocidade, pela experimentação e por uma dinâmica muito viva de adaptação.

O que fizemos com a Atmosphera foi criar uma ponte real entre esses universos. Ela foi estruturada exatamente para

A inteligência artificial não elimina o especialista; ela aumenta o valor do especialista.

permitir que o funcionamento de growth e tecnologia da Biosphera.ntwk dialogue diretamente com os mecanismos financeiros através de uma gestora preparada para acessar diferentes formatos de investimento – fundos fechados, fundos abertos, FIPs (fundos de investimento em participações) e toda a estrutura necessária para processos de fusão e aquisição.

Isso faz sentido porque o nosso mercado, especialmente tecnologia e criatividade, é altamente rentável, gera liquidez e cresce acima de 30% em várias frentes, num momento em que muitos investidores estão voltados à renda fixa. É um setor que, historicamente, não recebeu atenção proporcional ao seu potencial, mas que tem métricas de crescimento reais e comprovadas.

FC Brasil – A Atmosphera.VC nasce com investimentos em martechs e retailtechs brasileiras. O que você vê no Brasil, em cultura, consumo ou tecnologia, que pode se tornar uma vantagem competitiva global?

Bazinho Ferraz – O que vejo no Brasil, e que se torna uma vantagem competitiva global, é a forma como cultura, consumo e tecnologia se misturam.

Nosso mercado é complexo, desigual, rápido, criativo e, ao mesmo tempo, extremamente pragmático. Isso obriga as empresas a desenvolver soluções muito mais adaptáveis e eficientes do que as que surgem em mercados mais estáveis. O brasileiro cria tecnologia para resolver problemas reais e isso é um diferencial gigante quando você pensa em escala.

Quando olhamos para tecnologia, varejo ou criatividade no Brasil, vemos não apenas mercados promissores, mas mercados capazes de gerar produtos “globalizáveis”. 


FC Brasil – Desde 2009 você defende a “especialização da especialização”. Com a IA acelerando processos e padronizando formatos, o que passa a diferenciar o trabalho de um especialista? Onde está o valor humano que a IA não consegue replicar?

Bazinho Ferraz – Sempre ficou muito claro para mim que o mercado não caminha para o 360º (abordagem de comunicação integrada), e sim para a profundidade. Cada novo movimento – como o avanço do live commerce, a entrada de plataformas nativas e as verticalizações dentro das redes sociais – reforça que o valor está no especialista que entende um território a fundo.

Com a chegada da IA, esse movimento se intensifica ainda mais. A IA acelera, padroniza e automatiza tudo que é processo, mas ela não substitui a inteligência de craft, a sensibilidade, a leitura cultural e a capacidade de interpretar contextos complexos. 

Bazinho Ferraz, CEO da Atmosphera&Partners.Co

A IA não elimina o especialista; ela aumenta o valor do especialista. Ela reduz o peso operacional e abre mais espaço para aquilo que só o ser humano consegue entregar, como leitura estratégica, repertório, visão sênior e craft. Isso é o que realmente diferencia um trabalho.

A IA torna tudo mais rápido e eficiente, mas quem define relevância, sensibilidade, precisão cultural e sofisticação criativa continua sendo o especialista.

O valor humano está justamente na capacidade de combinar tecnologia com profundidade. A IA não cria propósito, não cria contexto e não cria visão. Ela potencializa quem tem isso. E é exatamente por isso que o especialista se torna ainda mais essencial.

FC Brasil – Você já viveu todas as grandes viradas da indústria a ascensão dos influenciadores, o ominchannel, o live commerce, o direct to consumer (D2C). Qual o próximo ciclo em que você aposta?

Bazinho Ferraz – A cada ano e a cada década surgem novas viradas que mudam completamente a dinâmica da nossa indústria. O próximo ciclo, na minha visão, já está em movimento.

Vejo um crescimento muito forte das marcas que trabalham com pensamento de “produtização”. Marcas que fazem marca vendendo e que vendem fazendo marca. Esse é o briefing que mais chega hoje e que deve se intensificar.

A vantagem competitiva do Brasil é a forma como cultura, consumo e tecnologia se misturam.

Acredito também que o live commerce será uma das grandes ondas. Na China, ele já representa quase 80% das vendas, enquanto no Brasil ainda estamos muito distante desse patamar. Mas tudo indica que esse segmento vai crescer de forma acelerada, principalmente quando combinado com influenciadores como potência de conversão.

Outro movimento que vejo ganhar força é a integração entre live commerce, influenciadores e os ecossistemas de retail media. Essa conexão traz eficiência, dados, audiência qualificada e impacto direto no sell-out, e deve se tornar cada vez mais central no planejamento das marcas.

FC Brasil – Na sua opinião, qual tendência está sendo superestimada e qual está sendo subestimada no mercado de marketing, consumo e tecnologia?

Bazinho Ferraz – Na minha opinião, a tendência mais superestimada é a dependência excessiva da performance como única alavanca de conversão. Muitas empresas concentram estratégia de vendas e geração de leads apenas em mídia de performance, acreditando que esse é o único caminho possível. Mas o mercado já mostrou que isso cria um teto.

O certo é equilibrar performance com conteúdo que gera conversão orgânica, que constrói marca no ecossistema digital e que prepara o terreno para a performance funcionar melhor.

mão clica em um produto em site de e-commerce
Crédito: Freepik

Já a tendência mais subestimada é justamente essa capacidade de fazer conversão usando todo o ecossistema digital de maneira integrada. Estou falando de e-commerce, D2C, retail media, conteúdo, influência e toda a lógica de live commerce.

Em vez de depender de uma única fonte de tráfego, a marca precisa saber operar um digital 360º, conectando plataformas, audiências e formatos.

E aqui entra algo que ainda é pouco valorizado, mas extremamente poderoso: o pensamento omnichannel real. É saber criar ações no digital que levem para o off-line e ações no offl-ine que levem para o digital, costurando uma jornada consistente e contínua.

Poucas marcas fazem isso bem, mas as que fazem conseguem resultados muito acima da média porque entendem a jornada completa do consumidor.


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