5 perguntas para Cristiano Agostini, diretor de tecnologia da Prada
Quando Cristiano Agostini se juntou à Prada, em 2021, como diretor de tecnologia, foi encarregado de reformular completamente os sistemas tecnológicos da empresa. A Prada acabara de passar pelo pior da pandemia, quando os consumidores não podiam ir às lojas e tinham que fazer compras online.
Este período deixou claro que a empresa precisava se equipar com tecnologia para estar preparada para o futuro digital. "Agora está claro que os clientes querem fazer compras na loja", diz Agostini. "Mas não sabíamos se isso aconteceria. De qualquer forma, precisávamos estar preparados para o futuro."
Assim, Agostini e sua equipe traçaram um plano que envolvia algumas medidas imediatas, como melhorar o site da marca e os sistemas de pagamento, mas também explorar as tecnologias do futuro, incluindo desde inteligência artificial generativa até o metaverso.
Nos últimos dois anos e meio, ele trabalhou para transformar os sistemas da Prada – muitas vezes, de formas não visíveis para o cliente, mas que têm um impacto perceptível em sua experiência de compra.
Nesta entrevista à Fast Company, ele conta como está pensando no futuro da tecnologia na moda de luxo.
Fast Company – Quando falamos de artigos de luxo, as pessoas tendem a pensar em experiências requintadas e produtos de alta qualidade. Como você vê a tecnologia se encaixando nisso?
Cristiano Agostini – Quando os clientes vêm até nós, acredito que estão comprando mais do que um produto bem elaborado. Eles também estão interessados em ter uma experiência altamente personalizada. E acho que temos a oportunidade de usar a tecnologia para aprimorar essa experiência.
Por exemplo, podemos usar dados para customizar melhor a experiência do cliente, tanto na loja quanto online, para oferecer a eles o produto certo, no momento certo. O cliente não necessariamente sabe que temos todas essas informações. Ele apenas recebe um atendimento personalizado do vendedor.
Fast Company – Parte do seu desafio é criar uma experiência global, mas a experiência das pessoas na internet é diferente dependendo de onde vivem. Quais são as principais diferenças na forma como as pessoas se envolvem com o comércio eletrônico?
Cristiano Agostini – Na Ásia, especialmente na China, a experiência é completamente diferente porque você está em um ecossistema totalmente diferente. Lá existe um sistema unificado de comércio eletrônico no celular.
Em uma única plataforma estão hospedados todos os aspectos de sua experiência de compra: os produtos, a forma de pagamento, os métodos de interação, o chat. E muitos clientes agora compram produtos inteiramente pelo do chat.
Nos países ocidentais, esses aspectos da experiência são todos diferentes. O site é hospedado em uma plataforma, o checkout em outra e o chat em outra ainda. Isso tem muitas implicações. Lá, seu número de telefone celular é a chave para toda a sua identidade online. Uma vez que você ativa seu celular, essa identidade única permite que você mergulhe em toda essa experiência.
Aqui, você faz login com seu e-mail e depois adiciona um número de cartão de crédito quando for pagar. Portanto, é muito importante para nós ter tecnologia que seja capaz de funcionar em todas essas geografias.
Fast Company – Existe um estereótipo de que os consumidores de luxo são mais velhos porque têm mais renda disponível. Isso é verdade? Como isso afeta sua abordagem em relação à tecnologia?
Cristiano Agostini – Quando entrei na Prada, achei que a base de consumidores era de pessoas mais velha porque é isso que você imagina com produtos de luxo. Mas não era absolutamente verdade. Nossa base de consumidores é muito mais jovem do que eu pensava.
Agora, estamos começando a ver as gerações mais jovens entrarem nas nossas lojas. Estamos vendo um movimento contínuo em direção a consumidores mais jovens, e isso significa que precisamos pensar em como eles se envolvem com a tecnologia.
Fast Company – Como você determina quais tecnologias buscar?
Cristiano Agostini – Estamos sempre nos desafiando para entender as tecnologias mais recentes disponíveis. E há pouco, analisamos todas as grandes tendências.
Quando houve o boom do metaverso, tentamos entender se poderíamos fazer parte dele. Experimentamos criar skins para espaços como Roblox e Fortnite. Depois olhamos para os NFTs e lançamos NFTs vinculados às nossas coleções mensais.
Agora é o momento da inteligência artificial. Estamos tentando descobrir se podemos mudar do comércio tradicional para uma interação mais conversacional. O cliente poderia fazer uma pergunta e depois receber uma lista de produtos gerada pela IA, muito parecido com o que você faria se estivesse interagindo com o ChatGPT.
Fast Company – Como decidir se vale a pena investir em determinada tecnologia?
Cristiano Agostini – Gostaria de poder dizer que fazemos um estudo de caso para cada uma dessas tecnologias e calculamos as implicações econômicas para a marca. Mas, às vezes, esse tipo de pesquisa não é tão relevante quando se trata de novas tecnologias. Às vezes, precisamos seguir o instinto e experimentar.
Nunca começamos com um grande projeto. Testamos as coisas e, quando elas começam a funcionar, escalamos rapidamente. Porque a realidade é que nenhum de nós é capaz de prever o futuro, então precisamos tentar de tudo.