5 perguntas para Deives Rezende Filho, da Condurú
Com 40 anos de experiência no mercado financeiro, Deives Rezende Filho é fundador e CEO da Condurú Consultoria, especializada em implementação de programas de ética e governança corporativa. Coach e mediador organizacional, Deives ministra palestras sobre temas como ética empresarial, conflitos no ambiente de trabalho, protagonismo do negro e inclusão racial. Nesta entrevista à Fast Company Brasil, ele fala sobre inspiração, sobre boas práticas de liderança, sobre aprender a falar “não” e sobre aprender a fazer as perguntas corretas.
O que é inovação para você?
Quero sair do jargão de que inovação é novidade, é aquela coisa “nova”, é descobrir uma coisa diferente… Inovação está conectada com inspiração. Sou investidor anjo de algumas startups e escuto pitches (rodadas de apresentações de startups em busca de financiamento) de novas empresas e empreendedores que buscam investimento e acho impressionante o que esse pessoal faz de inovação. Principalmente nas áreas de tecnologia. Mas sempre pergunto: “Onde está a inspiração? O que te influenciou nessa ideia?”. A inovação vai além de fazer algo novo, é se inspirar em algo já feito. A inspiração – seja de seus antepassados, de seus professores, de seus pais, de outros produtos – é necessária para que o novo possa nascer.
O que representa o conceito de sustentabilidade para você?
Sou da época em que a sustentabilidade fazia parte do triple bottom line, que é aquilo que você faz e tem a ver com a parte econômica, social e ambiental. Hoje em dia, isso é ESG. Passando por tudo que já vi, posso afirmar que sustentabilidade vai muito além de abraçar árvores, é pegar o que já existe no mundo atual como empréstimo. Alguém te deu emprestado a natureza, a nossa atmosfera. É pegar isso por empréstimo e devolver para as próximas gerações, de forma melhorada.
Qual a habilidade fundamental do bom líder?
É olhar para o liderado, perguntar como ele está, agradecer pelo trabalho feito, perguntar se está precisando de algo. É olhar no olho. Tive um gestor que, quando eu sentava na mesa dele para conversar e ele estava digitando um e-mail, por exemplo, continuava digitando e eu ficava quieto, apenas esperando.
qualidade de vida é saber falar “não”. Ao falar “sim” para os outros, você, muitas vezes, está falando “não” para si mesmo.
Eu sempre dizia: “Vim falar com você e não com o seu computador”. Então, um bom líder precisa olhar para o colaborador, falar com ele. Se, eventualmente, o liderado está em home office, é preciso que o líder ligue de vez em quando e pergunte se está tudo bem. Se o colaborador costuma deixar a câmera aberta durante as reuniões e, em algum outro dia, mantém a câmera fechada, há algum problema. É preciso que o líder seja sensível com as pequenas coisas.
Como você define qualidade de vida?
Para mim, qualidade de vida é fazer o que você quer, é saber falar não. Poucas pessoas conseguem falar “não”. Ao falar “sim” para os outros, você, muitas vezes, está falando “não” para si mesmo. Qualidade de vida é saber falar “não” e falar “sim”. “Sim” para o que quer fazer, para o que faz sentido para você, para sua missão e propósito de vida. É fazer o que gosta e não o que lhe é imposto. Já vivi situações de gestores me chamarem para ir ao escritório domingo, às 17h. Duas semanas depois, pedi demissão. Qualidade de vida é você ter tempo para você, para as pessoas que você gosta e para os projetos de vida que você tem.
Qual o melhor conselho que recebeu na vida?
Recebi muitos. Sou aberto a receber conselhos, a conversar com as pessoas, especialmente as mais experientes – que podem ser ou não mais velhas. O que percebi nesses momentos é a necessidade de nos escutar. Escute o que seu coração está pedindo e não aceite as respostas corretas, mas aprenda a fazer as perguntas corretas. Tenho uma filosofia de vida que é “provoque a necessidade das pessoas, fale qual é a sua necessidade”. Tudo isso tem a ver com um livro de cabeceira que já li e reli diversas vezes, “Comunicação não violenta – Técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais”, de Marshall Rosenberg.