5 perguntas para Grazi Mendes, head de diversidade da ThoughtWorks

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Redação Fast Company Brasil 4 minutos de leitura

Executiva, professora, escritora, futurista, líder de diversidade e inclusão e, acima de tudo, sonhadora. Grazi Mendes foi eleita uma das 100 afrofuturistas mais influentes do mundo pela Organização das Nações Unidas (ONU) em setembro e acaba de lançar o livro "Ancestrais do Futuro: Qual a Mudança que a Sua Caneta Alcança" (editora Benvirá).

A diretora de diversidade, equidade e inclusão da ThoughtWorks convida líderes a refletir sobre o poder transformador da imaginação como tecnologia ancestral. Grazi é uma liderança que inspira pela coragem e por sua capacidade de lembrar que o futuro será tão diverso e inclusivo quanto formos capazes de sonhá-lo.

Seu impacto vai além do mundo corporativo. Como idealizadora do projeto Voa, Papagaio!, ela abre caminhos para que jovens da periferia tenham acesso ao ensino superior, reforçando seu compromisso com a democratização de oportunidades.

Na academia, Grazi combina seu espírito questionador e sua expertise prática: é mestre em design de futuros, professora convidada na Fundação Dom Cabral e fellowship do Columbia Women’s Leadership Program.

Nesta entrevista à Fast Company Brasil ela fala sobre o livro, sonhos, futuro e ancestralidade. “A ancestralidade nos ensina resiliência e adaptação, valores essenciais para enfrentarmos as incertezas e transformarmos nossos futuros com respeito e responsabilidade".

FC Brasil – Você acaba de lançar o livro "Ancestrais do Futuro" e a publicação já está esgotada. Estamos em um momento desafiador do planeta. O que a força ancestral pode nos ensinar sobre passado, presente e futuro?

Grazi Mendes – A força ancestral nos oferece raízes e orientação, especialmente em tempos de crise global. Os conhecimentos ancestrais são repletos de práticas que valorizam a conexão com a natureza, a solidariedade e a coletividade.

Essas lições nos lembram que o passado não é apenas algo a ser superado, mas uma fonte de sabedoria que orienta nosso presente e ilumina caminhos futuros. A ancestralidade nos ensina resiliência e adaptação, valores essenciais para enfrentar as incertezas e transformar nossos futuros com respeito e responsabilidade.

FC Brasil – Na sua opinião, como podemos descolonizar a imaginação, pela possibilidade de haver futuros mais plurais? Como desenvolver uma abordagem mais coletivista dessa imaginação de futuros?

Grazi Mendes – Descolonizar a imaginação exige que revisitemos e questionemos as narrativas dominantes que ditam o que é “possível” e “desejável”. Essa prática passa por reconhecer e amplificar histórias e visões de mundo que foram marginalizadas.

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O design de futuros coletivista, apoiado na imaginação radical, incentiva uma construção compartilhada e plural, integrando perspectivas diversas que enriquecem o repertório de futuros imagináveis. Isso significa priorizar processos colaborativos, que respeitam saberes locais e propõem alternativas de desenvolvimento menos predatórias e mais inclusivas.

FC Brasil – Você defende que sonhar é essencial na criação de futuros desejáveis. Como manter a esperança e a imaginação para sonhar em ambientes hostis? Que estratégias você utiliza para manter o otimismo e a energia ao promover essas ideias de futuros inclusivos e sustentáveis?

Grazi Mendes – A esperança é um ato de resistência. Manter o otimismo em ambientes hostis requer uma prática consciente de buscar espaços de cuidado, acolhimento e troca. Me apoio em minha rede de apoio, em atividades que me conectem à minha essência e em estudos que me desafiem a ampliar minhas visões de futuro.

Um exercício que utilizo é o da “imaginação radical”, que permite sonhar o improvável, rompendo com o que é considerado “realista” e permitindo que eu mantenha a chama da transformação acesa. Com isso, renovo minha energia para insistir em futuros nos quais acredito.

FC Brasil – No último ano, você passou por um tratamento de câncer de mama. Você compartilhou parte do processo publicamente e também dividiu pesquisas sobre a desigualdade em relação ao acesso à saúde. Como fazer com que a frase “vidas negras importam” não seja apenas um slogan e se traduza em ações?

Grazi Mendes – Para que “vidas negras importam” se traduza em ações reais é essencial que haja políticas públicas que combatam desigualdades estruturais, com investimentos em saúde, educação e oportunidades econômicas para populações negras e outras minorias. 

o passado não é algo a ser superado, mas uma fonte de sabedoria que orienta nosso presente e ilumina caminhos futuros.

Em minha jornada pessoal, passei a me engajar ativamente em iniciativas que ampliam a conscientização sobre a desigualdade no acesso à saúde, destacando a importância de uma abordagem que reconheça as necessidades específicas de cada grupo.

Ações assertivas vêm de uma sociedade que se compromete a desmantelar o racismo institucional, com cada pessoa assumindo seu papel e compromisso nessa transformação.

FC Brasil – Você comenta que o livro "Ancestrais do Futuro" veio de um sonho de menina. O primeiro capítulo começa com uma história sobre sua mãe, dona Fatinha, e suas irmãs. Com o que você sonha agora? Qual o seu futuro imaginado?

Grazi Mendes – Sonho com um futuro em que direitos não sejam confundidos com privilégios – onde todos tenham o direito ao sonho, ao cuidado e a uma vida digna. Imagino um mundo em que a fome seja inconcebível e onde nossa sociedade trate essas questões com a urgência e a compaixão que merecem.

Vejo a tecnologia sendo criada e acessível para enfrentar problemas reais, como a desigualdade social, o câncer e outras mazelas, e não apenas gerando riqueza para um grupo muito pequeno de pessoas. Esse é o futuro que imagino: inclusivo, justo e compassivo, com inovação voltada ao bem-estar coletivo.


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