5 perguntas para Gustavo Giglio, da Omelete Company
Com experiência que vai do marketing a dono de um café, passando por música e cinema, Gustavo Giglio é head de conteúdo para marcas e relacionamentos na Omelete Company – empresa de entretenimento que, entre outros eventos, organiza a CCXP (maior festival de cultura pop do Brasil) e a Game XP.
Também é sócio do site Update or Die, fundador da Coffee Hunter e baixista da Kisser Clan (banda de Andreas Kisser, do Sepultura). O executivo faz a curadoria do Unlock CCXP, evento que antecede o grande evento de cultura pop e reúne os principais nomes da indústria de entretenimento do Brasil.
Nesta entrevista à Fast Company Brasil, Giglio fala sobre os potenciais do mercado geek, as facetas exigentes da geração Z e os benefícios de uma carreira multifacetada.
FC Brasil – Como curador do Unlock CCXP, você lida com o maior festival de cultura geek da América Latina. Quais são os critérios que te guiam nessa curadoria e quais os seus aprendizados sobre o que funciona ou não?
Gustavo Giglio – O processo e os critérios para decidir os temas, o fio condutor da linha editorial e quem subirá ao palco do Unlock é um trabalho contínuo. Estou sempre com o radar ligado para o que está acontecendo no mercado e, principalmente, em mudanças comportamentais. Minha listinha de “desejos” de pessoas e conteúdos é um organismo vivo.
Com o tempo, essa experiência vai ganhando novos contornos e a capacidade de identificar e selecionar o que é importante e novo – e o que tem possibilidade e qualidade para ser relevante para o público e para o segmento – muda também. Isso é um aprendizado importante.
Como uma conferência de negócios voltada aos bastidores da indústria da cultura pop e da CCXP, todos respiram esse ecossistema de forma apaixonada. Para mim, isso conta bastante.
Alguns critérios que julgo importantes:
- Identificação à comunidade: os convidados falarem a nossa língua e fazerem sentido ao universo da CCXP.
- Reputação no mercado.
- Contextualização: o conteúdo selecionado ser importante e ter relevância para o momento.
- Compartilhar, de forma genuína, o que aprendeu.
- Uma boa curadoria requer organização. O curador deve ser capaz de apresentar os itens selecionados de uma forma que faça sentido e seja fácil de entender.
- O curador deve ser capaz de comunicar claramente a sua seleção e as informações contextuais para o público-alvo.
- Atualização, novidades da área, tendências comportamentais e conteúdos exclusivos.
Com isso, acredito que o Unlock é uma experiência especial e única.
FC Brasil – Uma pesquisa feita pela Rakuten Digital Commerce indicou que o consumidor geek compra 40% a mais do que a média nacional. Como as marcas podem se conectar com este segmento?
Gustavo Giglio – Primeiro, é preciso entender que estamos lidando com uma comunidade absolutamente apaixonada. Um segmento/ público altamente engajado com diversos temas que se relacionam, como quadrinhos, cinema, música, tecnologia, games e séries, entre outros.
Conexões genuínas vêm por meio de conversas e trocas genuínas. Antes de criar uma estratégia para se conectar com o público geek, é importante entender quem são, quais seus interesses, hábitos de consumo e comportamento.
Ao lidar com pessoas de diferentes backgrounds e habilidades, só tenho a ganhar e a aprender.
Os geeks são altamente engajados com as marcas que oferecem experiências personalizadas, limitadas e exclusivas.
As marcas podem criar campanhas de marketing personalizadas para esse público, incluindo lançamentos de produtos exclusivos, promoções e conteúdo temático, além de experiências em eventos, como a CCXP, após a construção de uma jornada durante um período com produção de conteúdo e diversas trocas.
As redes sociais são, obviamente, ferramentas poderosas. As marcas podem criar conteúdo relevante e interessante, interagir, criar grupos de discussão e incentivar o engajamento dos seguidores.
FC Brasil – Para o seu dia a dia como empreendedor, qual a importância de trabalhar em áreas diversas?
Gustavo Giglio – Hoje, meu foco é o Omelete/ CCXP. Mas trabalhar em áreas diversas, complementares e que se relacionam satisfaz minha curiosidade, alimenta paixões. São minhas válvulas de escape e isso me permite desenvolver uma visão mais ampla do mundo (dos negócios também) e entender melhor os diferentes segmentos de mercado, tendências, inovações e, principalmente, oportunidades. É o que me faz desenvolver uma grande rede de conexões, importante para bons relacionamentos duradouros.
Ao lidar com pessoas de diferentes backgrounds e habilidades, só tenho a ganhar e a aprender. Para mim, é algo óbvio e uma conta muito simples. A diversidade de experiências estimula a criatividade, inspira novas soluções, me faz mais flexível e adaptável às mudanças. Espero estar mais preparado para lidar com desafios e imprevistos, além de me sentir apto a identificar novas oportunidades de negócios.
FC Brasil – Quais os maiores desafios para estar na conversa com a geração Z? O que tem aprendido sobre eles?
Gustavo Giglio – Acredito que o principal desafio é a atenção. Como estão constantemente expostos a uma grande quantidade de informações e distrações, é difícil capturar a atenção e mantê-la por muito tempo.
Os geeks são altamente engajados com as marcas que oferecem experiências personalizadas, limitadas e exclusivas.
Outro desafio, que pode ser uma boa oportunidade, é o grau de exigência. A geração Z é muito exigente quanto à autenticidade das marcas e empresas. Eles não se identificam com mensagens falsas ou enganosas e valorizam empresas que se posicionam claramente em relação a questões que estão em pauta e que são julgadas como importantes. É a geração nativa tecnologicamente. Logo, as experiências digitais merecem ser relevantes.
É preciso ser autêntico, transparente, engajado e estar disposto a oferecer experiências personalizadas, relevantes e ter um propósito claro e alinhado com os valores dessa geração, entregando experiências únicas.
FC Brasil – Já que estamos falando de mercado geek: qual super-herói poderia ajudar o futuro do mercado de entretenimento brasileiro?
Gustavo Giglio – A minha vontade é fazer um amálgama de várias boas habilidades gerais, mas vou tentar evitar. Então, vou escolher um dos personagens mais queridos para responder essa.
O Homem-Aranha é um personagem icônico e muito popular, tanto no Brasil como no resto do mundo. É conhecido por sua agilidade e “nerdice”, mas também pela sua humildade, humanidade, resiliência, e ainda por ser bem azarado e pelos perrengues "reais" que enfrenta como Peter Parker – boa parte de seu sucesso e identificação vem daí.
Isso o torna um candidato ideal para personificar a indústria de entretenimento brasileira e ajudá-la a se adaptar às mudanças e inovar em novos formatos. Além disso, o Homem-Aranha é um personagem que luta pela justiça social e pelos direitos dos cidadãos comuns, o que o torna um símbolo de luta e resistência.
São valores fundamentais para o mercado de entretenimento, que tem enfrentado muitos desafios nos últimos anos, incluindo crises econômicas, a pandemia e um ex-governo pavoroso e vilanesco, que nem as HQs podiam prever.
