5 perguntas para Jeff DiLullo, CEO da Philips para a América do Norte
De exames mais rápidos a diagnósticos precoces, a empresa aposta em IA para melhorar o atendimento e aliviar a sobrecarga dos profissionais de saúde

A inteligência artificial está, pouco a pouco, redefinindo a eficiência, o alcance e o potencial da área da saúde. A Philips – que deixou de ser apenas uma fabricante de eletrônicos para se consolidar como uma gigante da tecnologia médica – está na linha de frente dessa revolução, usando IA para acelerar diagnósticos e tornar o cuidado ao paciente mais ágil e preciso.
Em entrevista ao podcast Rapid Response, apresentado por Robert Safian (ex-editor-chefe da Fast Company), Jeff DiLullo, CEO da Philips para a América do Norte, conta como a tecnologia já vem impactando resultados clínicos – de exames de imagem a diagnósticos de câncer – e o que líderes de qualquer setor podem aprender ao repensar processos para atender melhor às demandas atuais.
Rapid Response – O que a inteligência artificial já consegue entregar hoje na área da saúde, em comparação ao que poderá oferecer no futuro?
Jeff DiLullo – Publicamos recentemente o relatório Future of Health Index. O que vimos foi que, em algumas áreas, a IA já está bastante avançada, com aprovação da FDA [órgão regulador dos EUA responsável pela proteção e promoção da saúde pública] e uso clínico seguro. Em outras, ainda é experimental. O maior desafio, neste momento, é a confiança: ela é a principal barreira para a adoção em larga escala.
Rapid Response – Cerca de 65% dos médicos confiam na IA, mas, no caso dos pacientes, essa proporção cai para apenas um terço. Como reduzir essa diferença?
Jeff DiLullo – Tenho dois filhos da geração Z e um millennial. Eles lidam com tecnologia com naturalidade, não têm qualquer receio em relação aos modelos de inteligência artificial porque já estão acostumados a usá-los. Pacientes mais velhos, no entanto, têm mais desconfiança.
O fator decisivo é a relação médico-paciente. Se o profissional confia na ferramenta, sabe que ela é confiável e a utiliza para complementar – e não substituir – o diagnóstico, o paciente tende a confiar também.
Nosso papel é oferecer soluções seguras, aprovadas e eficazes. Se médicos e enfermeiros perceberem que a IA libera tempo para se dedicar mais ao paciente e ainda ajuda a reduzir a pressão do dia a dia, acredito que a adoção vai aumentar rapidamente.
Rapid Response – Muitos associam IA a tarefas administrativas. No atendimento direto ao paciente, como ela já funciona na prática?
Jeff DiLullo – A radiologia é o melhor exemplo. Antes, um exame de ressonância levava cerca de 45 minutos. Hoje, pode ser feito em 20. Isso porque a IA integrada ao sistema acelera o processo, mas sem “inventar” dados: ela apenas remove o ruído da imagem.

O resultado é um exame mais rápido e com qualidade superior. Se um radiologista analisava de 12 a 15 exames por dia, agora pode chegar a 20. Isso significa mais pacientes atendidos, mais eficiência para o hospital e melhores resultados para todos.
Além disso, a IA já consegue destacar pontos de atenção diretamente nas imagens, ajudando o especialista a focar no que é mais crítico. E com a patologia digital, diagnósticos que antes levavam dias agora podem sair em poucas horas. É uma grande mudança de escala no fluxo de trabalho.
Rapid Response – E quanto às chamadas “alucinações” da IA? Isso também preocupa na área da saúde?
Jeff DiLullo – Hoje já temos aplicações concretas: exames mais rápidos, reuniões de comitês clínicos feitas em poucas horas, consultas online sob demanda. Tudo isso já está disponível, mas ainda poderia ser feito em maior escala.
Se um radiologista analisava de 12 a 15 exames por dia, com a inteligência artificial pode chegar a 20.
Com modelos generativos, é claro que precisamos ter cautela. Precisamos também de mecanismos sólidos de controle e de governança. Mas deixar de explorar a tecnologia não é uma opção.
Grandes instituições como a Universidade Stanford, o hospital Mount Sinai e o sistema de saúde MGB já estão treinando modelos com dados populacionais para diferentes casos de uso. O potencial é enorme.
Rapid Response – Então a prioridade agora é tornar o sistema atual mais eficiente, certo?
Jeff DiLullo – Exatamente. Quando você aprende a dirigir, não vai direto para a via expressa. Primeiro, pratica no bairro. É assim também na saúde: temos muito a melhorar no presente antes de dar o próximo salto.
A inovação é essencial para o futuro, mas 80% do impacto já pode ser alcançado hoje. Isso muda completamente a forma como cuidamos dos pacientes. E acreditamos que, com tecnologias de IA e recursos virtuais mais maduros, veremos transformações profundas nos próximos anos – até porque a necessidade disso é enorme.