5 perguntas para Kamila Camilo, fundadora da Creators Academy

Crédito: Edgar Azevedo/ Agência Brasil

Carolina De Marchi 4 minutos de leitura

Com tanto ruído rolando na internet sobre questões ambientais, entre muitos outros, é fácil a atenção se dissipar e até virar apatia. Como comunicar uma mensagem potente e engajadora nesse contexto?

A empreendedora social e ativista Kamila Camilo aposta em uma abordagem tão disruptiva quanto direta e, ainda assim, cheia de sensibilidade: levar produtores de conteúdo digital até a fonte. Um mergulho real e presencial na natureza brasileira. 

Ela fundou a Creators Academy, plataforma que promove experiências imersivas de vários dias em locais como a Amazônia. O objetivo é que influenciadores aprendam, sintam e entendam na pele as singularidades e necessidades de diferentes comunidades e biomas.

A partir da vivência, os creators se sensibilizam e são inspirados a compartilhar conteúdo sobre o meio ambiente desde um lugar autêntico, de quem pisou no território e se conectou com a natureza. Se tornam protagonistas da causa.

Está dando certo. Este ano, o projeto levou 70 comunicadores para a terra indígena Puyanawa, no oeste do Acre. Em 2022, outro grupo esteve em uma comunidade ribeirinha no Amazonas durante uma semana.

Crators na Terra Indígena Puyanawa, no Acre (Crédito: Edgar Azevedo/ Agência Brasil)

Kamila se considera uma hacker social e acredita no poder da comunicação como vetor de transformação do mundo. Ela estará na terceira edição do Innovation Festival, nos dias 29 e 30 de novembro de 2023, no Cubo Itaú (SP), para contar mais sobre sua trajetória e a Creators Academy. 

Aproveite para saber mais sobre o evento e garantir o seu ingresso aqui.

FC Brasil – Como aproximar as pessoas das questões climáticas, um tema tão sensível e importante, mas que às vezes pode afastar, já que existe tanto ruído na internet?

Kamila Camilo – Precisamos encontrar as pessoas onde elas estão. Existe muito conhecimento técnico à disposição. Mas, sem despertar o interesse, a vontade de zelar, não vai funcionar. Costumo dizer que "a gente cuida daquilo que a gente conhece". Sem conhecer e se relacionar com a natureza, as pessoas não terão disposição de mergulhar nas questões climáticas.

Como organização, criamos um espaço de vivência e transbordamento da pessoa para natureza e da natureza para a pessoa. Quando vemos que a simbiose aconteceu, oferecemos um conjunto de informações mais analíticas, porque aí elas passam a ser base para o processo de tomada de decisão.

FC Brasil – Por que é importante levar creators fisicamente até a Amazônia? Qual é o poder dessa imersão profunda?

Kamila Camilo – Creators são os principais canais de mídia hoje quando falamos em comportamento. A gente não compra o estilo de vida de um jornal, por exemplo, a gente almeja o estilo de vida de uma pessoa. Quando essa pessoa admirada, seguida, literalmente consumida como conteúdo, é transformada, sua audiência também será impactada.

Considerando-se que 75% dos jovens no Brasil já fizeram alguma compra por indicação de creators, temos uma oportunidade de influenciar a mudança de comportamento para um futuro social economicamente justo e ecologicamente correto.

Ressalto que o aprendizado por experiência pode acelerar a mudança de comportamento de qualquer pessoa. É comum eu ouvir pós-imersão: "essa viagem mudou a minha visão de mundo". Isso porque, com frequência, habitamos bolhas.

Crédito: Edgar Azevedo/ Agência Brasil

No Creators Academy Brasil. oferecemos um espaço para furar bolhas, habitar o desconforto pelo tempo que for necessário e se lançar na mudança interna e externa.

Temos creators que se demitiram e começaram a empreender, outros que viraram a carreira para as questões ambientais e temos aqueles que, nas decisões de consumo do dia a dia, mudaram de comportamento. Isso tem surtido efeitos incríveis.

FC Brasil – Qual é o lugar das vivências presenciais em um mundo que caminha cada vez mais para as experiências virtuais?

Kamila Camilo – Em um território em que a distância e o individualismo são a regra, a exceção são o abraço, a comunidade, o pertencer em grupo. Seres humanos têm necessidade de conexão. Nada substitui a liberação de dopamina de um abraço real, o choro incontrolável diante de uma árvore de 500 anos.

Oferecemos para as pessoas um espaço de existência em grupo, desprendendo do material, da necessidade de aparentar algo que não se é. Cada um escolhe o que fazer com isso depois.

FC Brasil – Você se considera uma hacker?

Kamila Camilo – Minha definição de hackers são pessoas que encontram caminhos mais eficientes e desafiam o status quo. Com base nessa definição, eu com certeza me considero uma hacker social.

FC Brasil – Você acredita que a comunicação pode transformar o mundo?

Kamila Camilo – A comunicação já transformou o mundo, e precisa fazer de novo. É para ontem sairmos de uma fórmula de produzir comunicação pela geração de escassez, pararmos de sermos guiados pela falta.

Toda a poluição que vem do consumo exagerado é fruto da comunicação. Agora precisamos reverter a situação. Você pode voltar para mim e dizer "Kami, mas é o consumo que paga nossas contas". Eu respondo: "a humanidade já teve conhecimento para produzir tecidos e louças que duraram milhares de anos. Não podemos voltar a consumir qualidade e não quantidade?"

Desafio toda a indústria criativa a mudar esse paradigma, a sair da venda pelo trauma e começar a despertar o que há de melhor nas pessoas. Do contrário, vão seguir alimentando egos e enchendo a conta bancária. Mas não terão planeta para usufruir de tudo isso.

Saiba mais sobre o Innovation Festival 2023.


SOBRE A AUTORA

Carolina De Marchi é jornalista, escritora, gestora de projetos e pesquisadora independente em cultura e comportamento. Acredita na na... saiba mais