5 perguntas para Leah Seligmann, CEO do The B Team

A executiva explica por que alguns líderes estão recuando e quais ações podem gerar o maior impacto, da mudança climática à diversidade

Leah Seligmann, CEO do B Team
Crédito: B Team/ Divulgação

Robert Safian 5 minutos de leitura

Os ventos contrários no mundo dos negócios desafiam qualquer líder que queira gerar impacto além do valor para acionistas. Poucas organizações conhecem tão bem essa luta quanto o The B Team, criado a partir do impulso do empresário Richard Branson (fundador do grupo Virgin) para elevar o papel e a responsabilidade das empresas na sociedade.

Em entrevista ao podcast Rapid Response, apresentado por Robert Safian (ex-editor-chefe da Fast Company), a CEO Leah Seligmann explica por que alguns líderes estão recuando, enquanto outros seguem adiante, e quais ações podem gerar o maior impacto, da mudança climática à diversidade.

Rapid Response – Quando o The B Team surgiu, houve uma onda de empresas como agentes de bem social, de impacto social e ambiental. Recentemente, esse ideal tem sido deixado de lado. Por que isso está acontecendo?

Leah Seligmann – Acho que os sinais já estavam aí há algum tempo. Mas sinto que os CEOs estão percebendo que precisamos retomar a narrativa, retomar o motivo pelo qual fazemos essas coisas – porque elas são boas para os negócios, são boas para nossas comunidades e nos afastar de termos, discursos e programas que acabaram deixando pessoas para trás.

Tenho o privilégio de trabalhar com esse grupo incrível de líderes globais. Metade vem do setor empresarial, metade da sociedade civil, mas todos focados em uma questão: como transformar os negócios?

Ficamos um pouco em estado de choque no começo do ano, quando começaram os ataques ver isso acontecer e ver CEOs assustados, sem saber o que podem dizer ou fazer.

Nos últimos meses, temos refletido sobre como retomar esse espaço e nos concentrar nos temas sobre os quais realmente temos legitimidade para falar e nos afastar daquela postura em que o CEO precisava se posicionar sobre absolutamente tudo o tempo todo, como vinha acontecendo há alguns anos.

Rapid Response – A ideia coletiva do The B Team parte do princípio de que é mais fácil ser corajoso quando outros fazem isso junto com você. Mas hoje não estamos vendo muita ação coletiva. Como fazer isso voltar a acontecer?

Leah Seligmann – A disposição para ouvir um monte de gente falando ao vento diminuiu bastante. Essas declarações tiveram importância, elas ajudaram a ampliar a conscientização e a reforçar que sustentabilidade e boas práticas podem ser boas para os negócios. Mas, neste momento, isso soa vazio.

logotipo da organização The B Team

Então, a coragem que buscamos agora é de outro tipo. É uma coragem mais engajada. Precisamos entender o que as pessoas valorizam, por que estão preocupadas e por que o que dizemos não está sendo bem recebido, e partir daí. Essa é uma mudança significativa.

Rapid Response – Houve um período em que a confiança em líderes corporativos e CEOs era maior do que em outras figuras da vida pública de muitas maneiras. Você tem uma ideia de por que isso se perdeu?

Leah Seligmann – Acho que uma parte grande disso tem relação com a diferença salarial entre trabalhadores comuns e executivos. Esse aumento da desigualdade torna difícil acreditar que a pessoa em quem você deposita tanta confiança realmente enxerga seus problemas e está tentando melhorar sua vida.

Ainda vemos empregadores e CEOs com altos níveis de confiança entre seus próprios funcionários. Mas a noção de que o setor empresarial como um todo é uma instituição confiável sofreu erosão, assim como muitas outras instituições. A confiança no governo, na imprensa, na mídia tudo tem sido impactado por uma crise de confiança generalizada.

Rapid Response – O The B Team anunciou recentemente uma nova estratégia. Muitos líderes corporativos de grande visibilidade fazem parte do grupo, como Marc Benioff (Salesforce), Hamdi Ulukaya (Chobani) e Ryan Gellert (Patagonia). O que é essa nova estratégia?

Leah Seligmann – O elemento mais importante é o ritmo. Antes, um grande acontecimento mobilizava todos, que tinham tempo para criar oposição, incentivar mudanças e formar coalizões. Agora, várias vezes ao dia surgem fatos que mudam o cenário, e precisamos estar mais atentos e aptos a responder ao contexto em que estamos.

Leah Seligmann, CEO do B Team

Os objetivos de longo prazo do The B Team continuam os mesmos: como fazer com que as empresas sejam uma força para o bem no mundo? Mas vivemos um momento em que todos os dias ocorrem mudanças profundas. Uma ordem mundial está terminando, mas ainda não definimos a ordem mundial que está por vir.

Além disso, estamos no meio de uma revolução tecnológica. Tecnologia não é boa nem ruim é potencial. E os negócios estão tentando descobrir como aproveitar a IA e minimizar seus efeitos negativos.

Por isso, no The B Team concluímos que precisamos ter muita clareza sobre nossos valores, clareza sobre os resultados que buscamos e muito mais agilidade em nossa atuação. E, sinceramente, como deixar de ser apenas um grupo que publica uma declaração a cada seis meses para se tornar um grupo que realmente catalisa mudanças concretas.

Rapid Response – Percebi que DEI (diversidade, equidade, inclusão) não aparece como prioridade na nova estratégia da B Team. Foi algo deliberado?

Leah Seligmann – O termo pode não estar lá, mas a organização busca criar locais de trabalho abertos a todas as pessoas, porque acreditamos fortemente não só que todos merecem oportunidades, mas que os negócios prosperam quando atraem os melhores talentos. Portanto, não se trata tirar a prioridade do tema.

O que DEI realmente significa? Que valor esse acrônimo nos traz? Ele cobre uma ampla gama de debates e ações muito importantes que precisam continuar nas empresas. Mas a sigla “DEI” passou a provocar uma enorme reação contrária, com uma retórica agressiva e desumanizadora. Então, sim, acho que a linguagem precisa mudar.


SOBRE O AUTOR

Robert Safian é diretor e editor do The Flux Group. De 2007 a 2017, dirigiu as operações da Fast Company em mídia impressa, digital e ... saiba mais