5 perguntas para Luis Fernando Magalhães, fundador da O2Eco

A empresa desenvolveu uma tecnologia de bioestimulação natural que acelera o processo de despoluição de rios, lagos e reservatórios

Luis Fernando Magalhães, fundador da O2Eco
Crédito: Divulgação

Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

E se, no futuro, a água poluída pudesse se regenerar sozinha sem produtos químicos, apenas com a ajuda da própria natureza? Essa é a visão que move Luis Fernando Magalhães, fundador da O2eco Tecnologia Ambiental, cleantech brasileira que transforma a ciência em aliada.

A empresa desenvolveu uma tecnologia de bioestimulação natural que acelera o processo de despoluição de rios, lagos e reservatórios, estimulando bactérias benéficas já presentes nos ecossistemas.

Desde que surgiu, em 2018, a O2eco cresceu mais de 500%, venceu o 100+ Accelerator da Ambev e o Global Tech Innovator 2025 da KPMG, e firmou parcerias com Sabesp, Unilever, Novelis e Ambev.

Agora, prestes a representar o Brasil no Web Summit, em Lisboa, e na COP30, em Belém, o empreendedor fala sobre o que aprendeu ao trabalhar com os ciclos da natureza, explica como funciona a tecnologia que criou e reflete sobre o papel da inovação na construção de futuros regenerativos.

FC BrasilComo funciona, na prática, a tecnologia criada pela O2eco? Usando um exemplo: a tecnologia de vocês conseguiria limpar o rio Tietê? Em quanto tempo?

Luis Fernando Magalhães Uma das nossas tecnologias, o Ecoblocks, atua por bioestimulação natural. Usamos um substrato mineral inerte que estimula as bactérias benéficas que já existem na água a voltar a fazer o que sempre fizeram: decompor matéria orgânica e reequilibrar o ecossistema. Tudo isso sem químicos, sem consumo de energia e sem introduzir organismos externos.

No caso do Tietê, é plenamente possível regenerar trechos, mas o resultado depende da carga orgânica, da vazão e da conectividade dos afluentes. Com uma ação coordenada, os resultados começam a aparecer em poucos meses — com recuperação gradual da biodiversidade e redução de odores e lodo.

Se a água é um bem comum, quem ajuda a regenerá-la deve ter valor reconhecido.

Mas regenerar o Tietê inteiro exige uma política de bacia hidrográfica, não apenas uma tecnologia. É isso que buscamos na O2eco: unir inovação, gestão e vontade política.

Respondendo objetivamente: sim, é possível ver resultados em meses. O mesmo vale para o rio Pinheiros, que tem a vantagem de contar com mata ciliar, o que acelera o processo regenerativo.

FC Brasil A O2eco cresceu 500% e já atua com gigantes como Ambev, Sabesp e Unilever. Quais os desafios de uma empresa vender inovação para o governo e para impactar políticas públicas?

Luis Fernando Magalhães O maior desafio é que, muitas vezes, a inovação chega antes das normas. Enquanto a iniciativa privada consegue testar e ajustar rápido, o setor público precisa de segurança jurídica e técnica e isso leva tempo. Por isso, nosso papel não é só vender tecnologia, mas abrir caminhos.

Luis Fernando Magalhães, fundador da O2Eco
Crédito: Reprodução/ LinkedIn

Aprendemos que vender inovação também é educar, dialogar e mostrar resultados concretos: quanto de água foi regenerada, quanto de CO2 foi evitado, quanto de lodo deixou de ser transportado. É assim que se constrói confiança. Quando o governo entende que inovação gera economia, saúde e dignidade, a política pública começa a mudar.

FC Brasil Você fala sobre devolver à natureza a capacidade de se curar. O que te faz acreditar que ainda é possível regenerar em vez de apenas reparar o que já foi perdido?

Luis Fernando Magalhães Vi isso acontecer com meus próprios olhos. Rios voltando a ter vida, peixes reaparecendo, lagoas antes cheias de poluentes voltando a respirar. A natureza tem uma inteligência ancestral – só precisamos criar as condições para que ela volte a agir. Reparar é tapar o buraco. Regenerar é reescrever a história.

Acredito que ainda há tempo, porque a ciência já mostrou que os ciclos naturais podem ser restaurados e porque vejo, todos os dias, comunidades, empresas e governos dispostos a mudar a forma como tratam a água.

FC Brasil Você defende a criação de um “mercado de crédito hídrico”, onde empresas poderiam financiar a recuperação de rios. Esse modelo poderia inaugurar uma nova economia da água?

Luis Fernando Magalhães O crédito hídrico é uma evolução natural do mercado de carbono. Se a água é um bem comum, quem ajuda a regenerá-la deve ter valor reconhecido. Esse sistema permitiria que empresas compensassem ou antecipassem seus impactos hídricos, financiando projetos de regeneração e recebendo créditos proporcionais à água devolvida à natureza.

A natureza tem uma inteligência ancestral, só precisamos criar as condições para que ela volte a agir.

Entendo que as métricas são um desafio, mas, se conseguimos organizar um mercado tão difuso quanto o de carbono, por que não focar numa força tarefa para o “crédito hídrico”? 

Isso cria um novo ciclo econômico, a água como ativo regenerativo. É uma mudança de paradigma: de ver a água apenas como recurso para vê-la como valor compartilhado, capaz de gerar benefícios ambientais, sociais e econômicos ao mesmo tempo.

FC Brasil Toda inovação começa com uma pergunta. Qual foi a pergunta que originou a O2eco e qual é a nova pergunta que você se faz agora, depois de ver sua tecnologia ganhar o mundo?

Luis Fernando Magalhães A pergunta que originou a O2eco foi: “como posso contribuir de forma mais profunda com o meio ambiente, tendo a água, o recurso que mais amo, como ponto focal e, ao mesmo tempo, gerar impacto positivo para o planeta?”

Equipamento de desaguamento da empresa de tecnologia ambiental O2eco
Equipamento de desaguamento (Crédito: O2eco)

Essa curiosidade nos levou a pesquisar tecnologias que respeitam os ciclos naturais e ampliam nossa capacidade de preservar recursos. Um exemplo é a tecnologia Salus, que, em uma única planta industrial, economiza mais de 42 milhões de litros de água por ano e evita toneladas de CO2 na atmosfera.

Hoje, a pergunta é outra: “como transformar essa solução em legado?”. Como fazer com que cada rio recuperado e cada litro de água regenerado se tornem parte de um movimento maior capaz de inspirar comunidades, empresas e governos a enxergar a água não como um desafio, mas como uma oportunidade de reconexão com a vida.


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