5 perguntas para Marcelo Tas, apresentador, consultor e autor

Crédito: Renato Nascimento

Mariana Castro 4 minutos de leitura

“Crianças são especialistas em perguntas. Nascem sabendo que o ponto mais importante da vida é o ponto de interrogação. Em um mundo que muda o tempo todo, certezas limitam o campo de visão.” No abre de seu novo livro, "Hackeando sua carreira: Como ser relevante num mundo em constante transformação”, o comunicador Marcelo Tas dedica a obra à criança que existe em cada um.

Apresentador do Provoca, comentarista do Jornal da Cultura, consultor e palestrante, Tas é famoso por personagens memoráveis, como o repórter Ernesto Varela, o professor Tibúrcio do Castelo Rá-Tim-Bum e pela atuação no CQC.

Nesta entrevista para a Fast Company Brasil, ele fala sobre o novo livro, o uso da inteligência artificial, sobre liderança, medo e a importância de hackear a curiosidade com boas perguntas.

FC Brasil – Na abertura do livro "Hackeando sua Carreira", você escreve que “em um mundo que muda o tempo todo, certezas limitam o campo de visão”. E que “a curiosidade é o motor da criatividade”. De que forma você mantém a curiosidade aguçada e consegue navegar pela incerteza?

Marcelo Tas – Da mesma forma que há gente que liga o alarme quando sai de casa ou do carro, na hora de resolver problemas você deve ligar o radar da criança interior. Para a construção de soluções de gente grande, acionar o olhar amplo e livre da criança é a chave para manter a curiosidade acesa.

Já para navegar na incerteza, a tarefa é não ter medo de encarar o medo. Há um capítulo inteiro no meu livro sobre esta palavra. Coloco até MEDO em caixa alta para chamar a atenção para não termos MEDO de falar de MEDO.

FC Brasil – Você traz no livro o conceito “anti-São Tomé”. Ou seja, sai de cena o “ver para crer” e entra o “ver para reforçar minhas crenças.” Como quebrar essa lógica em um mundo pautado por algoritmos?

Marcelo Tas – Na comunicação acelerada trocou-se o "ver para crer" para o "só vejo o que acredito". Vamos ser justos, o algoritmo, coitadinho, não é o culpado da dissonância cognitiva.

A tarefa de cada um de nós é "enxergar o mesmo elefante", como eu gosto de dizer. Por exemplo, em uma equipe empenhada na solução de um problema específico, antes de qualquer movimento, é crucial que todos estejam vendo o mesmo problema.

Na velocidade dos processos, que acontecem geralmente em múltiplas plataformas e instâncias de tomadas de decisão, sem esse alinhamento nos vieses, pode-se perceber tardiamente que o encaminhamento da solução não levou a lugar algum. Ou pior, chegou-se num lugar totalmente distante do alvo.

FC Brasil – De acordo com o cientista e professor Silvio Meira, não é a IA que vai roubar empregos, mas sim quem sabe usar a IA. Como você está usando a IA no dia a dia? Ela já funciona pra você como uma ferramenta para potencializar a criatividade?

Marcelo Tas – Tenho usado a IA como uma assistente, uma estagiária em aprendizagem. Procuro não nutrir o deslumbramento pela ferramenta, mas ficar de olho no resultado que ela me traz. Tem sido bastante eficiente na qualificação das minhas pesquisas para a produção de textos, estudos e palestras.

Ontem, hoje e sempre, a principal habilidade de um líder é saber ouvir.

Tem sido útil comparar os resultados de diferentes IAs. Tenho usado com mais frequência neste cruzamento de resultados o Copilot/ Microsoft, o Gemini/ Google e o Chat GPT/ OpenAI.

FC Brasil – Quais são, na sua opinião, as principais habilidades que lideranças devem ter hoje?

Marcelo Tas – Ontem, hoje e sempre, a principal habilidade de um líder é saber ouvir. Com a aceleração digital, a tarefa se tornou mais complexa. Em um mundo de mudanças exponenciais, além de ouvir, é crucial o líder treinar a pontaria das perguntas a cada instante. Deve estar atento à escolha da pergunta da hora.

Na comunicação acelerada trocou-se o "ver para crer" para o "só vejo o que acredito".

Nem sempre ela é a pergunta mais inteligente, completa ou surpreendente. A pergunta da hora é aquela capaz de provocar um desequilíbrio criativo e colaborativo em um grupo de liderados. Em resumo, a tarefa mais importante hoje para as lideranças é aprender a navegar com suavidade e firmeza pelo desequilíbrio.

FC Brasil – O repórter Ernesto Varela, seu primeiro trabalho com o Fernando Meirelles e a Olhar Eletrônico, é uma referência. O formato foi muito inovador nos anos 80, na TV aberta. A que atribui o sucesso do personagem que, de certa forma, hackeava a forma de apurar os fatos, fazer reportagem e entrevistas? Atuando como apresentador/ entrevistador, o que você traz do Ernesto Varela?

Marcelo Tas – A marca do Varela é o olhar da criança. Nascido em plena transição da ditadura para a frágil democracia, criamos um personagem que fazia perguntas ingênuas para a realidade bruta, confusa e complexa diante da câmera.

Ernesto Varela entrevista Paulo Maluf/ 1984 (Crédito: TV Cultura)

Tanto no Varela como depois, no CQC, muitas vezes a pergunta era mais importante que a resposta. O repórter atirava uma pedra na vidraça e saia de fininho. Hoje, o meu papel é outro.

No Provoca e nas minhas atividades como palestrante, consultor e educador, a demanda é por uma outra dimensão da tarefa de perguntador.

Tão importante quanto disparar a pergunta é criar um ambiente de confiança para que o entrevistado ou o grupo de interlocutores se sintam acolhidos para navegar pelas suas dúvidas mais sinceras. A tarefa agora é mais sutil e desafiadora, por isso continuo fascinado pela arte de fazer perguntas.


SOBRE A AUTORA

Mariana Castro é editora executiva da Fast Company Brasil. saiba mais