5 perguntas para Noah Levin, vice-presidente de Design do Figma

Para o executivo, o papel do design, hoje, é ainda mais amplo: ele não é só um passo, mas o próprio processo

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Redação Fast Company Brasil 5 minutos de leitura

Na mesma semana em que abriu escritório no Brasil, o Figma anunciou sua oferta pública de ações na bolsa de Nova York. A movimentação marca uma nova fase da plataforma de design colaborativo que, nos últimos anos, se consolidou como referência global na criação de interfaces, produtos e fluxos digitais, com mais de 85% dos usuários ativos fora dos Estados Unidos.

O crescimento acelerado também transformou o perfil de quem usa a ferramenta. Hoje, dois terços da base do Figma não se identificam como designer. Um terço é formado por desenvolvedores. E todos, de alguma forma, estão criando. “Nunca houve um momento melhor para atuar com design”, diz Noah Levin, vice-presidente de design do Figma.

Nesta entrevista à Fast Company Brasil, Levin fala sobre o futuro da profissão, a colaboração entre áreas, os limites da inteligência artificial e o papel do design como diferencial em um mundo em que ficou fácil demais criar e difícil se destacar.

FC Brasil – O  Figma começou como uma ferramenta colaborativa de design e hoje vale bilhões, acaba de pedir seu IPO e tem uma comunidade global de milhões de usuários. Quando foi que você percebeu o potencial da plataforma?

Noah Levin – Na verdade, foi quando eu trabalhei usando o Figma. Foi em 2015, quando eu trabalhava na ClassPass, uma startup de fitness. Estávamos lançando uma nova homepage e precisávamos mapear todas as cidades com estúdios parceiros. Era um trabalho enorme, com prazo apertado e os mapas estavam sendo feitos manualmente.

Na época, o Figma ainda era bem cru: não cobrava nada, não tinha prototipagem, quase nada do que tem hoje. Mas dava para colaborar em tempo real. Então chamei o time de design (seis pessoas) e entramos todos no mesmo arquivo.

Em poucas horas, tínhamos resolvido o que parecia impossível. Foi divertido, leve, colaborativo. Esse foi meu momento mágico com o Figma. Foi aí que percebi que não se tratava só de uma ferramenta, mas de uma nova forma de trabalhar.

FC Brasil – Uma pesquisa do Figma mostra que 47% dos designers brasileiros já atuam em áreas estratégicas das empresas e dos produtos que criam. Na sua visão, qual é o papel do design hoje?

Noah Levin – Hoje, o papel do design é ainda mais amplo: ele não é só um passo, mas o próprio processo. Vai além de empurrar pixels. É liderar com curiosidade, questionar “e se?”, se aprofundar nos detalhes, perseguir uma sensação, expandir o possível. Nunca houve um momento melhor para ser designer.

Está ficando cada vez mais fácil criar um aplicativo, até sem saber programar.

Vejo também um movimento de aproximação entre funções. A tecnologia tem permitido que designers, PMs e engenheiros compartilhem responsabilidades que antes eram mais separadas.

Isso não significa que todo mundo precise fazer tudo, mas que ficou mais fácil contribuir em partes que antes pareciam distantes. No fim, estamos todos criando produtos para as pessoas. E é bom dividir esse propósito.

FC Brasil – Mark Zuckerberg disse que, até 2026, a inteligência artificial da Meta vai substituir uma agência inteira de publicidade. O Figma tem acrescentado cada vez mais IA em suas ferramentas. Como você enxerga previsões como essa?

Noah Levin – Estamos em um momento muito fértil para previsões sobre o futuro. Todo mundo está tentando prever o que vem aí. Mas, honestamente, não acho que estamos acertando tanto. O que eu vejo é o contrário: mais pessoas interessadas em design, mais empresas querendo contratar seu primeiro designer. Isso está crescendo.

Os modelos de IA estão ficando realmente bons em escrever código, por exemplo. Mas nenhum deles é bom em design. Ainda há muito valor que os designers trazem, e esse valor só cresce. Eu não acredito que a IA vai substituir os designers. Acredito que ela pode colaborar com a gente e que isso pode ser muito poderoso.

Acredito, sim, que os fluxos de trabalho baseados em agentes vão continuar evoluindo. Mas ainda vai ser necessário aplicar julgamento, bom gosto, estratégia, reflexão. Todos os fundamentos do design que a gente aprendeu continuam valendo. Não dá para delegar as decisões para a IA.

Tomar decisões exige contexto. Exige entender e refletir sobre o “porquê” do seu trabalho. Um design gerado por IA vai ser tão bom quanto o prompt que você der.

FC Brasil – Ou seja, na sua visão, a IA é mais amiga do que inimiga?

Noah Levin – Tem algumas frases que eu gosto, historicamente, sobre tecnologia e como ela muda as coisas. Tipo: o fogo nos deu calor, mas também nos queimou. A ideia é que, com qualquer nova tecnologia, sempre existe algo incrível, algo útil, algo que muda o mundo e um perigo.

os consumidores valorizam experiências que realmente falam com eles. Isso exige bom design.

Com os automóveis, por exemplo, você pode salvar uma vida chegando mais rápido ao hospital, mas também existem acidentes de carro, coisas acontecem. Com qualquer mudança tecnológica, você vai ter os dois lados.

Pessoalmente, eu sou otimista. Gosto de olhar para as coisas com curiosidade e torcer pelo melhor. Acredito mesmo nisso. Já vi nossos processos melhorarem. Vi os processos dos nossos clientes melhorarem. Então, até agora, tudo certo. Mas acho que com toda nova tecnologia, sim, é preciso estar atento, ser intencional.

FC Brasil – Em um mundo em que criar produtos digitais ficou mais fácil do que nunca, por que o design ainda importa?

Noah Levin – Tem uma explosão de novos softwares acontecendo. Está ficando cada vez mais fácil criar um aplicativo, até sem saber programar. Mas, como humanos, temos atenção limitada. A gente não quer ter mil apps no celular, quer só os que realmente importam.

Nesse contexto, o design bem feito se torna ainda mais importante. Quando tudo fica fácil demais de fazer, tudo começa a parecer igual. Mas os consumidores valorizam experiências que realmente falam com eles. Isso exige bom design.


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