5 perguntas para o duo Los Pibes
Los Pibes é um duo de diretores brasileiros com formação em cinema na Argentina. Representados pela produtora Café Royal no Brasil e pela Antiestático na Europa e demais países da América do Sul, Caio Amantini e Rapha Pamplona trabalham juntos desde os tempos de faculdade, quando começaram a fazer videoclipes de baixo orçamento. O vídeo "Hear Me Now", do músico Alok, chamou a atenção do mercado e, desde então, a dupla tem feito também publicidade e cinema, com vários trabalhos premiados e milhões de visualizações na web.
Nesta conversa com a Fast Company Brasil, cada um dá sua perspectiva sobre inovação, liderança, qualidade de vida, entre outros temas.
O que é inovação para vocês?
Caio Amantini – Quando falamos de inovação, o que vem à cabeça são novas tecnologias e dentro do mercado cinematográfico eu a vejo muito mais atrelada a criatividade, a curiosidade de testar outras maneiras de filmar. A tecnologia é uma das ferramentas para se inovar, mas a própria inovação, muitas vezes, recorre ao passado para mudar o presente.
A StageCraft, por exemplo, trouxe uma grande mudança na forma de se filmar efeitos especiais, trocando a tela verde por uma tela led, o que não é especificamente algo novo. Nos anos 60 já se usavam projeções atrás dos personagens para criar grandes cenários. O que foi adicionado agora é uma tecnologia que rastreia o movimento da câmera em relação ao cenário.
Há alguns anos começou uma tendência no mercado audiovisual de misturar linguagens, texturas e tamanhos de tela: 16:9 com 4:4, 9:16, textura de película, com digital, cybershot, Super 8. Tudo isso me mostra que o importante, para inovar, é pensar fora da caixinha, provocar o status quo, duvidar do óbvio para criar algo novo, seja se apoiado em novas ou antigas tecnologias.
Rapha Pamplona – Acho que tudo já foi feito. Então, para mim, inovar é ter a criatividade de olhar para o que já foi feito e se perguntar como fazê-lo melhor ou mais eficiente. Muitas vezes a inovação está na junção de coisas diferentes.
Qual a habilidade mais fundamental para exercer a liderança?
Caio – Antes das habilidades, o autoconhecimento é o mais
o importante, para inovar, é duvidar do óbvio para criar algo novo, seja se apoiado em novas ou antigas tecnologias.
importante. Se você não se conhece, não tem como se colocar no lugar do outro, entender suas dores e anseios, o motivo de a pessoa precisar de motivação ou ser cobrada no momento certo. O principal da liderança mim é exercer seu lado humano, saber quando chamar a responsabilidade para si mesmo e quando jogar para outra pessoa, quando engolir um sapo e quando bater o pé. Por isso, acho que é essencial, antes de tudo, se conhecer e entender seus limites e necessidades antes de exigir algo de alguém.
Rapha – Serenidade e clareza. Quando você sabe o que quer, é importante que isso fique claro para todos os envolvidos.
O que é qualidade de vida para vocês?
Caio – Ter tempo para você. Algo muito raro hoje em dia no nosso meio e na nossa sociedade em geral. Acabamos entrando em um modo automático e, muitas vezes, esquecemos de nos cuidar, de pensar se estamos fazendo o que gostamos, se o que fazemos nos deixa felizes. Qualidade de vida é ter esse momento só seu, mesmo que seja uma vez por semana.
Rapha – É entender que você faz as coisas porque gosta, não porque te obrigam. Viver num lugar em que se possa fazer tudo a pé, ficar amigo do chapeiro da padaria e o principal: ter cachorros. Mais de um, se possível.
Qual a sua visão sobre sustentabilidade e como ela se aplica à sua vida e ao seu trabalho?
Caio – Sustentabilidade é uma pauta muito recorrente, mas pouco praticada. Estamos bem longe de sermos sustentáveis,
Quando você sabe o que quer, é importante que isso fique claro para todos os envolvidos.
tanto no âmbito ambiental como empresarial ou social. Ser sustentável está no dia a dia, desde recolher o lixo que alguém jogou no chão até ser politicamente ativo em relação a serviços básicos e com mais igualdade social. É algo que deveríamos debater e praticar mais. Tento fazer minha parte com a coleta seletiva, ajudando ONGs e pessoas próximas, mas tenho certeza de que ainda faço pouco perto do que realmente precisamos para ter um mundo mais sustentável.
Rapha – Não deveria mais ser uma discussão, mas sim consciência social e prática. É fazer sem esperar resultado, transformar em rotina. No dia a dia, manter pequenos hábitos: separação dos resíduos, uso consciente da água, optar por comprar embalagens recicláveis, evitar os descartáveis e por aí vai. No set, a política da Café Royal é muito clara: nada de papéis e impressões que podem ser vistos no celular.
Qual o melhor conselho que cada um de vocês já recebeu?
Caio – “Não faça com os outros o que não quer que façam com você”. É muito manjado, mas, para mim, é uma frase que sintetiza muito bem minhas últimas três respostas. Acho que fala muito de caráter e de como você se porta como pessoa e também como profissional em relação aos outros.
Rapha Pamplona – Filme é o resultado final. Não é processo. Ninguém de fora vê o processo, o orçamento, o prazo. Então, não dê desculpas. Dê resultado final.