5 perguntas para Philippe Cousteau Jr., ambientalista e empreendedor social
O oceano é profundo, escuro e amplamente negligenciado nas discussões sobre mudanças climáticas. Philippe Cousteau Jr., neto do lendário oceanógrafo, inventor e documentarista Jacques Cousteau, explica o imenso impacto do carbono em nossos mares.
Indicado várias vezes ao prêmio Emmy, Cousteau é apresentador e produtor de TV, além de escritor, palestrante e empreendedor social, cofundador da SeaWeed Naturals. A marca de bem-estar combina os benefícios de ingredientes marinhos e terrestres, cultivados de forma regenerativa, e se posiciona como uma iniciativa comprometida com a restauração da saúde e do bem-estar de seus clientes e do planeta.
O oceanógrafo também é fundador da EarthEcho International, organização sem fins lucrativos que trabalha com jovens, fornecendo capacitação e ferramentas que lhes permitem proteger e restaurar o ambiente marinho.
Os participantes controlam a qualidade da água nas suas comunidades, compartilham os dados numa base global e os utilizam para desenvolver projetos de proteção dos recursos hídricos.
Nesta entrevista, Cousteau fala sobre os erros que assolam o movimento climático, as lições que aprendeu com seu avô que poderiam reverter esses erros e por que precisamos aproveitar as dinâmicas de mercado para acelerar o progresso.
Esta é uma transcrição resumida de uma entrevista do programa Rapid Response, apresentada pelo ex-editor-chefe da Fast Company Bob Safian.
Rapid Response – Você passou muito tempo cobrindo o catastrófico vazamento da plataforma de petróleo Deepwater Horizon em 2010.no Golfo do México. Que lições aprendeu com essa experiência?
Philippe Cousteau Jr. – Meu avô sempre me ensinou que a responsabilidade que temos não é apenas explorar e apreciar, mas compartilhar esse conhecimento com os outros e o a usar o poder da mídia e da narrativa para fazer isso.
Quando o desastre da Deepwater Horizon aconteceu, lembro de assistir ao noticiário, provavelmente cerca de seis semanas após os primeiros relatos do vazamento. Por volta dessa época, a EPA (Agência de Proteção Ambiental dos EUA) aprovou que a British Petroleum (BP) aplicasse dispersante no óleo. Um dispersante é um solvente que "quebra" o óleo e o faz afundar.
E eu lembro que todas as redes de notícias diziam a mesma coisa: "eles estão aplicando o dispersante e isso está fazendo o óleo desaparecer". Essa frase ficou na minha cabeça, "desaparecer". Porque não existe esse "desaparecer"; o óleo vai para outro lugar. Ele some de vista.
Então liguei para um amigo, Sam Champion, que estava no "Good Morning America" [famoso programa da TV norte-americana] na época, e disse: "sabe, Sam, ninguém nunca mergulhou em um vazamento de óleo antes. O mundo precisa saber que esse óleo não está desaparecendo e o que realmente está acontecendo."
Então, fomos para lá e fizemos um segmento de filmagem debaixo d'água, onde você podia ver o afundar de peixes, algas, águas-vivas, todo tipo de coisas, cobertas por manchas de óleo. Isso mudou a conversa sobre o vazamento e destacou essa tentativa de encobrir o que estava acontecendo.
Rapid Response – Você fica frustrado com a maneira como as empresas tratam o meio ambiente como algo dado como certo e garantido? Como faz para que as pessoas mudem essa perspectiva?
Philippe Cousteau Jr. – Há um desafio maior em jogo quando pensamos sobre o meio ambiente. Em muitos aspectos, culpo o movimento ambiental tanto quanto a indústria ou o governo.
Nós, como movimento, tendemos a ser narradores bem ruins. Acredito que um dos problemas que enfrentamos hoje é que investimos pouco em narrativas e educação, investimos pouco em construir uma sociedade que entenda essas questões e se importe com elas, e que, assim, possa impulsionar as mudanças políticas, sociais e econômicas que precisam acontecer.
Mas é uma escala móvel. O debate, há uma década, era “as mudanças climáticas nem sequer existem.” Agora, os negacionistas não estão negando que isso está acontecendo. Em grande parte, estão dizendo “mas as pessoas não são responsáveis.” Então, há uma mudança. A escala está mudando.
Precisamos fazer um trabalho melhor, como movimento, para amadurecer nossa mensagem. Cometemos um grande erro ao fazer dos ursos polares o símbolo da mudança climática, porque a pessoa que está lutando para pagar suas contas ou conseguir um emprego não se importa com ursos polares.
Precisamos fazer um trabalho muito melhor para relacionar a solução desses problemas à criação de empregos e de oportunidades para as pessoas. Quais são os impactos na nossa saúde? Quais são os impactos nos nossos filhos?
Temos que tornar isso mais relevante para os seres humanos e menos sobre os animais e o gelo do Ártico, algo que está distante do dia a dia das pessoas. Algo em que meu avô era realmente bom: precisamos dar às pessoas uma visão de como o mundo poderia ser quando fizermos essas mudanças.
Rapid Response – Um dos desafios que os ativistas enfrentam é manter a conversa viva. As pessoas se envolvem em algo por um tempo e depois seguem em frente, não é?
Philippe Cousteau Jr. – Isso é verdade. Então, como podemos dividir isso em partes tangíveis para que as pessoas entendam?
Por exemplo, o krill é um pequeno crustáceo do tamanho do seu polegar que faz parte de um sistema bioquímico no mar.
investimos pouco em construir uma sociedade que entenda essas questões e se importe com elas.
O krill come fitoplâncton. Seus resíduos, resultantes do consumo desse fitoplâncton, são sequestrados nas profundezas do oceano. Aí as baleias e outros animais comem o krill e estocam cerca de 13 bilhões de toneladas de carbono no oceano todos os anos, de graça.
O ponto crucial desse processo é essa pequena criatura chamada krill. E, no momento, 70% do valor de mercado do krill é destinado a suplementos de ômega-3 na América do Norte. Então, estamos prejudicando a mais importante cadeia alimentar do mundo.
Rapid Response – E quanto aos investimentos para lidar com as mudanças climáticas?
Philippe Cousteau Jr. – Quando olho para a questão dos corais, por exemplo, precisamos investir algo em torno de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões por ano – trilhões com “T” – na economia azul emergente e restauradora, para lidarmos com algumas dessas questões. É muito dinheiro.
Acho que estamos em torno de US$ 1,5 trilhão por ano agora. Então, há uma grande oportunidade para os investidores dizerem “dá para ganhar muito dinheiro.” Certo? Esse é o tipo de coisa que precisamos para liberar o capital que precisa fluir para a economia azul.
Quando você olha para a quantidade de dinheiro que investimos no envio de sondas ao espaço para explorar galáxias distantes em comparação com a quantidade que gastamos para explorar e entender esses sistemas complexos no nosso planeta, o que investimos aqui na Terra é um erro de arredondamento em comparação com o que gastamos no espaço. Precisamos mudar isso.
Rapid Response – Você viajou pelo mundo todo. Qual a importância de ver todos esses lugares pessoalmente para entender o que precisa ser feito?
Philippe Cousteau Jr. – Ver certamente é acreditar. Quando você vê os rostos das pessoas que estão animadas com as oportunidades que uma nova tecnologia pode trazer, ou que um investimento em sua comunidade local pode proporcionar para transformar suas vidas e as vidas de seus filhos, isso é realmente empolgante.
Por outro lado, quando você vê os rostos das pessoas cujas vidas foram devastadas porque o meio ambiente colapsou, isso também toca fundo.
Isso ganhou um novo grau de urgência para mim quando minha primeira filha nasceu, há apenas cinco anos. Agora, com duas menininhas, olho para o mundo que estamos construindo e me sinto envergonhado, na verdade, que tenhamos a audácia egoísta, como espécie, de deixar para nossos filhos um planeta mais degradado do que aquele que herdamos.
No mínimo, essas experiências me lembraram de quão pouco tempo temos e quão imprevisível a vida é. Então, vamos tentar construir um mundo que, quando partirmos, possamos nos orgulhar do pequeno papel que desempenhamos em tentar torná-lo melhor para nossos filhos.