5 perguntas para Renato Winnig, da Natura

Crédito: Natura/ Divulgação/ Daria Durand/ Rick Rothenberg/ Unsplash

Claudia Penteado 4 minutos de leitura

Com mais de 20 anos de experiência na construção de marcas que conectam propósito, negócio e comunicação, Renato Winnig é head global de branding e direção criativa Natura. Formado em arquitetura e marketing, com especialização em branding, na Natura ele é responsável pela concepção de narrativas, linguagem e experiência de marca, materializando o posicionamento da marca a partir de sua essência. Antes disso, Winnig atuou em consultorias e agências, atuando na construção de marcas como Itaú, Coca-Cola e P&G.

Nesta entrevista à Fast Company Brasil, ele fala sobre valores humanos, sensibilidade em cargos de liderança, sobre compromisso - e como cada um pode contribuir para ajudar a mudar o mundo.

O que é inovação para você?

É gerar uma nova solução que não tenha sido idealizada antes e que traga um impacto positivo ao mundo. Ou seja, não basta mais ser uma ideia legal que vai contribuir somente no crescimento de um negócio, ela precisa ser benéfica para o mundo de alguma forma.

Passamos já por três grandes revoluções industriais. Cada uma à sua medida promoveu inovações dentro do seu tempo e contexto. É notável o quanto nós, como sociedade, avançamos nos últimos 50 anos. Ao mesmo tempo, esse avanço, com uma inovação muito focada em um desenvolvimento da indústria, da escala, da extração, se sobrepôs aos valores humanos e sustentáveis.

Chegamos a um limite. A inovação nunca foi tão necessária como hoje, desde que praticada com uma nova lente – uma lente de mudança, transformação e bem-estar para todos. Para isso, tem que ter muito esforço, coragem e coração.

Na sua visão, qual é a habilidade essencial de um bom líder, hoje?

Sensibilidade. Ela é essencial no trabalho com as pessoas e os times. Com sensibilidade, você consegue fazer uma prática real de empatia, ouvindo, enxergando e trocando com as pessoas de forma legítima. Ela permite captar como as pessoas estão quando muitas vezes não verbalizam. Uma boa e sincera conversa abre um espaço muito importante de acolhimento e confiança, tudo facilitado pela sensibilidade. Isso é fundamental no exercício de um bom líder.

Também ajuda na leitura de contextos, cenários e expectativas. Os dados e indicadores estão todos ali, mas, muitas vezes, é com a sensibilidade que correlacionamos as informações com seus ritmos, tempos e movimentos. A famosa relação tempo x espaço, onde a sensibilidade é fator chave para gerar uma percepção mais efetiva das coisas ao nosso redor.

O que o conceito de sustentabilidade representa para você?

Um compromisso. Com o hoje e com o futuro.

Uma boa e sincera conversa abre um espaço muito importante de acolhimento e confiança. Isso é fundamental no exercício de um bom líder.

Tenho aprendido muito na minha carreira, especialmente dentro da Natura, sobre esse conceito, que é ao mesmo tempo profundo e prático. Procuro, no meu universo pessoal e profissional, refleti-lo na medida do possível.

Acredito que, para a sustentabilidade ir se concretizando no tempo, é fundamental a participação e o engajamento das pessoas. Para gerar transformação, precisamos ampliar a consciência de nós mesmos e dos que estão ao nosso redor. Costumo dizer que basta começar. Podem ser pequenos gestos, mas simbólicos de mudança, como separar o lixo e consumir com mais responsabilidade. Essas duas coisas são simples e fáceis de serem implementadas no dia a dia. Se todos as praticassem, o mundo já seria muito diferente.

O que é qualidade de vida?

Primeiro, é importante reconhecer a bolha de privilégios da qual faço parte e os desafios enormes que existem no mundo, em especial, hoje em dia, no Brasil.

Me sinto até em conflito para falar sobre qualidade de vida, visto todo o contexto e com tantas pessoas em situação de vulnerabilidade. A qualidade de vida só será potente quando for vivida por todas e todos.

Acho que posso dizer, considerando tudo isso, que qualidade de vida é honrar a vida, ter presença naquilo que me proponho a fazer e poder amar a minha família.

Qual o melhor conselho que já recebeu na vida?

Há uns seis ou sete anos atrás, recebi um que lembro até hoje e de tempos em tempos recorro a essa memória. Foi sobre me apropriar de mim mesmo, do que acredito, da minha potência, da minha paixão, e não me preocupar em seguir outros estilos e padrões.

É muito raro a gente parar e fazer autorreflexões sobre como estamos alocando nossa energia e como aquilo diz tanto sobre nós. Quando ouvi isso, precisei parar tudo e fazer um exercício profundo de reconhecimento de mim mesmo para perceber o que estava na ponta do meu nariz e não enxergava. Isso foi um ponto de virada para mim, não só em termos de como passei a desempenhar profissionalmente, mas em relação ao meu bem-estar mental e à minha relação de troca e complementaridade com outros perfis de pessoas.


SOBRE A AUTORA

Claudia Penteado é editora chefe da Fast Company Brasil. saiba mais