5 perguntas para Ricardo Moreno, fundador do The Summer Hunter

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Redação Fast Company Brasil 7 minutos de leitura

Em pleno começo de outono, o verão brilha para Ricardo Moreno, fundador e publisher do The Summer Hunter. Criada há 10 anos, a plataforma de conteúdo ligado a tendências e comportamento se tornou referência de formato e linguagem no Instagram

Em meio a um mar de imagens e textos, a combinação do The Summer Hunter chama atenção de milhares de usuários todos os dias. A razão, segundo Moreno, é o jornalismo. "Num mundo onde tudo é conteúdo, do engolidor de fogo do sinal ao BBB, um jornalismo feito com esmero é raro e faz toda a diferença", diz o executivo, que também é jornalista.

A plataforma também faz parcerias com marcas, como Air France, Visa, Corona e Gol.

Em janeiro, The Summer Hunter fez a primeira edição da Casa de Verão, evento que misturou shows, palestras e exposições. Para o jornalista, se manter off-line é essencial para se conectar com a audiência.

FC Brasil – O The Summer Hunter nasceu como uma plataforma de conteúdo "solar" – sobre viagens, tendências e comportamento. Virou referência no Instagram com pautas que traduzem o espírito do nosso tempo, textos bem escritos e uma identidade visual marcante. Como esse movimento aconteceu? Como foi a construção dessa linguagem, que diferencia a marca em uma rede social com tanta oferta de conteúdo? 

Ricardo Moreno – O Summer Hunter surgiu quase 10 anos atrás, em junho de 2014, com o discurso de eterno verão – aquela ideia de que, não importa onde, sempre é verão em algum lugar do mundo. Mas aí veio a pandemia e sacamos que o verão é mais que uma estação: é um estado de espírito.

Em um tempo no qual tudo parecia meio cinza, nos desafiamos a encontrar o lado solar da vida. A tentar achar o verão interno de cada um de nós.

Crédito: Victor Affaro

Paramos de focar só em destinos e pautas hedonistas para explorar temas mais complexos e não necessaria- mente solares, como burnout, solidão e abuso de álcool. Mas sempre com uma pegada positiva e jornalisticamente responsável, mergulhando fundo nas histórias e nas fontes. Foi essa virada que nos fez crescer. 

A gente não inventou a roda, mas soube misturar referências e criar um estilo único de revista online, usando o máximo possível dos recursos do Instagram para contar uma história em textos, fotos e, eventualmente, vídeos. É como fazer uma revista: títulos que chamam atenção, subtítulos claros e textos afiados, tudo embasado em boas pesquisas e entrevistas.

O diferencial do The Summer Hunter? A gente aposta no jornalismo de qualidade, independente da plataforma e do assunto. Num mundo onde tudo é conteúdo, do engolidor de fogo do sinal ao BBB, um jornalismo feito com esmero é raro e faz toda a diferença.

FC Brasil – Além do Instagram, The Summer Hunter tem newsletter, podcast, site, revista impressa e, mais recentemente, fez um evento. Qual o papel de cada canal para a plataforma? O público é o mesmo? 

Ricardo Moreno – Faltou mencionar nosso clube de benefícios, que é totalmente gratuito! Nele, mais de 1,5 mil membros têm a chance de ganhar ingressos para os maiores festivais de música do Brasil todos os meses, além de outras promoções. Além disso, temos uma linha de acessórios em collab com Allcatrazes.

Importante dizer que nosso público é bem variado, ainda que a faixa etária seja parecida em todos eles: quase metade (45%) das quase 10 milhões de pessoas que impactamos todos os meses têm entre 25 e 34 anos. Outros 30% são de indivíduos entre 35 e 44 anos.

Pessoas engajadas e sintonizadas. Inquietas e protagonistas de movimentos globais de transformação. Criativas. Empáticas. Abertas a novas ideias e experiências. E financeiramente independentes. 

No nosso site, a audiência chega principalmente pelo Google, graças ao nosso esforço em SEO, o que gera um interesse duradouro tanto nos nossos conteúdos editoriais quanto nos patrocinados. Já no Instagram, conectamos com a turma das redes sociais e creators. O podcast atrai aqueles que nos buscam diretamente no Spotify, seja por temas específicos ou porque já curtem nosso conteúdo.

A missão de cada um dos canais é fortalecer essa comunidade engajada, também com o objetivo de fazer algo que amamos: promover a interação social fora das telas. E isso ficou evidente na Casa de Verão que realizamos em janeiro, no Rio.

Em um fim de semana, reunimos mais de 2,5 mil pessoas, na Glória, marcando um ponto alto na jornada do The Summer Hunter e provando que conseguimos transportar para o mundo real a vibe do digital. No fim das contas, todas essas plataformas são apenas meios para um fim maior: fazer nossa rede social off-line. É isso que queremos cada vez mais.

FC Brasil – Como manter uma relação saudável e equilibrada com as marcas ao fazer produção de conteúdo? De que modo a plataforma se diferencia das agências?

Ricardo Moreno – Não somos uma agência e nunca quisemos ser, assim como não somos e nunca seremos uma produtora de festas e eventos. Somos uma plataforma de conteúdo editorial focada em contar histórias, como disse, com muita responsabilidade jornalística, com basicamente três objetivos: oferecer serviço, inspiração e informação ao leitor. A gente costuma dizer que o que fazemos não é branded content, mas (un)branded content

Explico: diferentemente de contar a história de uma marca, a gente vai entender o valor, as crenças, o ethos da marca e, a partir daí buscar uma história que conecte essa crença da marca com o público.

Já entendemos, e hoje conseguimos provar com números, que quando a gente conta uma história que entrega serviço, informação e inspiração, a audiência engaja, independente de ter uma marca apresentando.

Claro, quando você força a barra e tenta objetivamente vender um produto X ou Y, a audiência te abandona. Porém, quando as marcas confiam na gente e nos deixam fazer o que a gente sabe, garantimos para eles os melhores números.

FC Brasil – No festival South by Southwest deste ano, o criador do Patreon, Jack Conte, falou sobre a dificuldade que criadores de conteúdo estão enfrentando para manter sua comunidade nas redes sociais, cada vez mais orientadas por algoritmos. Estão sentindo esse desafio? Como lidam com ele?

Ricardo Moreno – Eu temo discordar do Jack Conte. Enfrentamos desafios, claro, mas conseguimos manter essa comunidade viva, engajada e crescente. Temos crescido cerca de 3,5% ao mês, constantemente.

A gente leva um pouco a sério o algoritmo, mas nem tanto. Levamos mais a sério o nosso feeling, a nossa sintonia com os ambientes cultural e social, e entender ao nosso redor o que as pessoas querem consumir de informação, qual é o "talk of the town". 

Em um tempo no qual tudo parecia meio cinza, nos desafiamos a encontrar o lado solar da vida. A tentar achar o verão interno de cada um de nós

Diferente de um creator, de um influenciador, temos a vantagem de sermos uma plataforma. O The Summer Hunter não tem uma cara específica. Somos mais de 10 pessoas trabalhando para produzir conteúdo de segunda a domingo.

O fato de sermos jornalistas de formação também nos dá uma vantagem, pois fomos treinados para produzir conteúdo diariamente – ou você já viu algum dia que o Jornal Nacional não foi ao ar por falta de notícia? Todo dia a gente tem que publicar algo novo. Não tem tempo para crise existencial.

FC Brasil – Em um post no Instagram, The Summer Hunter disse que “as redes sociais que mais gostam são as off-line”. Você consegue ficar off-line e aproveitar o espírito do verão? Onde e como abastece o seu repertório quando não está trabalhando?

Ricardo Moreno – Consigo equilibrar bem as duas coisas de uma maneira bastante saudável. Passo bastante tempo off-line, mas também estou muito conectado, especialmente consumindo conteúdo e tendências, lendo relatórios e assistindo a vídeos de outros criadores, tanto brasileiros quanto gringos.

Acredito que minha vantagem em não me afetar tanto com as redes sociais vem do fato de eu não publicar muito sobre mim mesmo. Se você procurar por mim no Instagram ou no LinkedIn, por exemplo, não vai encontrar muita coisa.

As demais redes sociais eu nem tenho. Não me preocupo em gastar meu tempo criando uma persona ou compartilhando minha vida nas redes sociais. 

Utilizo a internet para consumir conteúdo da mesma forma que usaria a TV a cabo, uma biblioteca ou uma banca de revistas. Além disso, viajo e exploro bastante, passeando pelas ruas, conhecendo pessoas, visitando cafés, praias e hotéis. No fim das contas, praias e cafés são as duas coisas que eu mais gosto (risos).


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