Na era da inteligência artificial, fazer faculdade é ainda mais importante

Investir tempo e dinheiro no ensino universitário traz vantagens para o resto da vida

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Art Markman 4 minutos de leitura

Entre as muitas funções que exerço na Universidade do Texas, está a de vice-diretor de assuntos acadêmicos. Por conta dessa atribuição, trabalhei em conjunto com diversos setores da universidade para pensar em formas de incorporar a IA generativa no processo de ensino e aprendizagem.

À medida que íamos avançando nessa investigação, muitas pessoas vinham me perguntar se a IA generativa diminuiria a importância do ensino superior. São ferramentas que dão apoio para uma série de tarefas que profissionais da educação realizam diariamente.

Ainda que a tecnologia por trás de grandes modelos de linguagem leve a alucinações e vieses de preconceito, é muito provável que, nos próximos 10 anos, testemunhemos o surgimento de outras técnicas de IA que tornarão esses sistemas capazes de raciocinar de forma mais eficaz e detectar inconsistências com mais competência.

Minha resposta é que, com o avanço das tecnologias de IA, os programas de graduação e pós-graduação ganharão ainda mais importância.

O debate sobre a importância do ensino superior veio à tona com a ascensão dos cursos intensivos de curta duração que ensinam certas habilidades. Esses programas são incríveis, mas não substituem a graduação.

A importância dada a determinado curso superior vem do conceito de disciplina. Você pode se formar em engenharia mecânica, química, história, filosofia ou contabilidade. As pessoas, em geral, julgarão o valor da sua formação pautando-se na proximidade dela com uma carreira que se relaciona diretamente com a área de formação.

Isto é, quem é formado em engenharia mecânica pode ser contratado por uma empresa para trabalhar como engenheiro mecânico. Quem é formado em contabilidade pode conseguir um trabalho como contador. Por outro lado, entre aqueles que se formam em história e filosofia, poucos de fato tornam-se historiadores ou filósofos.

No entanto, cada uma dessas formações é organizada em torno de uma disciplina. Essa disciplina ajuda as pessoas a desenvolverem duas habilidades essenciais que garantem o sucesso de longo prazo – sobretudo em tempos de IA.

A habilidade de lidar com problemas complexos é determinante para uma carreira de sucesso e requer muito estudo.

 A primeira é a habilidade de aprender matérias difíceis. As mudanças na tecnologia certamente vão exigir que as pessoas adaptem suas habilidades para assegurar sua relevância no mercado de trabalho. Aqueles que têm a capacidade de continuar desenvolvendo essas habilidades essenciais estarão sempre um passo à frente da tecnologia.

A segunda é a habilidade de, ao se deparar com uma situação complexa, transformá-la em uma série de problemas menores a serem resolvidos. Todas as disciplinas fazem isso de alguma forma.

Historiadores aprendem a detectar as forças humanas, sociais, políticas e econômicas que atuaram ao longo do tempo para levar a determinada situação atual. Também são bons em extrair de documentos, entrevistas e artefatos informações importantes sobre essas situações.

Filósofos desenvolvem a capacidade de investigar as suposições por trás de uma dada situação e trazê-las à tona. Eles analisam as implicações de uma situação atual, revelando possíveis problemas antes que eles ocorram. Filósofos reúnem uma variedade de fontes para traçar uma análise sistemática do que está acontecendo em uma sociedade.

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A habilidade de lidar com problemas complexos é determinante para uma carreira de sucesso e requer muito estudo. A internalização de uma disciplina leva tempo. Demanda prática, uma prática orientada, em tarefas que nos ajudem a aplicar nosso conhecimento e nossas habilidades básicas para pensar em questões maiores. Demanda a orientação de pessoas que já dominam a disciplina para guiar nosso pensamento. Por fim, demanda que nos aprofundemos nos mínimos detalhes da nossa área de estudo.

Disso, podemos tirar duas conclusões. A primeira: muitos dos debates sobre a importância dos cursos universitários são sobre o retorno do investimento do primeiro emprego que a pessoa consegue depois de formada (e, em geral, da relação direta entre o conteúdo do curso que ela fez e esse emprego).

No entanto, um curso de graduação tem valor quando permite que os formados se mantenham relevantes em sua área de atuação com o passar do tempo, independentemente de estarem trabalhando ou não na área em que se formaram.

A segunda: é difícil tornar as sólidas habilidades adquiridas no ensino superior mais eficientes. É necessário desenvolver um profundo domínio do conhecimento antes de começar a entender sistemas complexos.

    O programa universitário oferece grandes doses de conhecimento especializado e uma generosa porção de habilidades específicas, unindo tudo isso à experiência de pensar, entender e trabalhar sistemas complexos. Não é algo que conseguimos aprender em uma hora, nem mesmo em um curso intensivo de 10 semanas.

    Investir tempo e dinheiro no ensino universitário traz vantagens para o resto da vida. E esse investimento se mostrará ainda mais valioso à medida que a tecnologia avança.


    SOBRE O AUTOR

    Art Markman é PhD e professor de psicologia e marketing na Universidade do Texas e diretor-fundador do Programa nas Dimensões Humanas ... saiba mais