Empresa brasileira que exporta inovação lança nova campanha no Kickstarter

Dez anos depois de bater recorde no crowdfunding brasileiro, Mola comemora sucesso com novo kit de peças estruturais

Crédito: Mola

Camila de Lira 3 minutos de leitura

A empresa brasileira de design Mola começa hoje uma nova jornada no Kickstarter.  A companhia lança o quarto kit de sistema estrutural voltado para ensinar e projetar estruturas arquitetônicas. Diferente de 2014, quando estava estreando no financiamento coletivo, a startup usa o sistema para estreitar os laços com a comunidade criativa internacional.

E que comunidade criativa! Em 10 anos, a startup brasileira chegou a 103 países e mais de 1,4 mil empresas e profissionais, entre eles Apple e  Massachusetts Institute of Technology (MIT). “O financiamento coletivo faz parte do nosso DNA, mas, ainda assim, dá frio na barriga a cada campanha que lançamos”, revela o fundador e CEO da Mola, Marcio Sequeira. 

Os “legos de adulto” criados pela Mola conseguem simular realisticamente o comportamento de estruturas arquitetônicas. Os acessórios se encaixam e permitem que engenheiros, arquitetos, educadores e alunos, aprendam sobre conexões, colunas, vigas e treliças.

O primeiro kit da companhia, por exemplo, tem 122 componentes – entre placas, ligações e molas, que permitem explorar mais de 100 diferentes tipos de construções.

Logo quando foi lançado como projeto no Catarse, o primeiro kit Mola superou as expectativas. Sequeira esperava entregar 100 protótipos e levantar R$ 50 mil. Em 11 dias de campanha foram R$ 600 mil arrecadados e mais de dois mil kits. O segundo conjunto, anunciado também na plataforma de financiamento coletivo brasileira, arrecadou R$ 700 mil. 

Nessa época, o Mola já estava sendo vendido para mais de 30 países, com adesão inclusive de grandes centros universitários internacionais, como o MIT e as universidades de Yale e de Cambridge, o que fez a companhia procurar a plataforma norte-americana Kickstarter. Hoje, 80% das vendas são para o mercado internacional. 

ORIGAMI E ARCOS

A cada novo kit, a companhia acrescenta novas funcionalidades e capacidades para a montagem de estruturas. O terceiro, que contava com cabos e que permite o modelo de pontes estaiadas, levantou US$ 300 mil – três vezes mais do que a meta da campanha. O produto foi lançado em 2019.

Desde então, Sequeira mergulhou em pesquisas para o quarto kit. O projeto que começa hoje no Kickstarter tem inspiração no origami e irá acrescentar a capacidade de montar arcos e “cascas” para as estruturas.

Crédito: Mola

A superfície tridimensional das dobras do papel permite a experimentação com modelos de construção mais sustentáveis. “Dá para testar estruturas com grandes coberturas e com menos material. É um trabalho de eficiência de estrutura”, diz Sequeira. 

O executivo lembra que inovação não é só pensar em tecnologia ou em software. “Não temos tela, display, bateria, nada conectado a computador. O conhecimento do funcionamento das coisas no mundo real é ainda mais importante no mundo digital”, diz

 UMA CARTA PARA A APPLE

A startup brasileira não tem investidores externos e consegue sustentar 100% operação com as receitas. O financiamento coletivo é uma ferramenta importante para a Mola, já que é uma forma de estar ao lado dos clientes mais fiéis. “Não é a mesma relação do que se eles fossem na loja e comprassem”, diz o executivo.

O crowd vale mais que o funding, brinca Sequeira, citando uma frase do criador do Catarse. A comunidade que se criou em volta do produto é engajada e, por conta do sistema de financiamento coletivo, tem contato direto com a equipe que cria novos produtos no Mola. 

Marcio Sequeira (Crédito: Mola)

“O contato com a comunidade não tem preço. Mesmo se tivesse conseguido o financiamento inicial com um investidor, não sei se o produto ainda iria existir”, diz Sequeira. Ele já foi chamado para dar palestras no MIT e para conversar com instituições na Suíça e na Espanha. 

O poder da comunidade levou a Mola ao Apple Park. O líder do time da empresa de Cupertino comprou uma dezena de kits durante a pandemia. 

Como a Mola já está acostumada a mandar os kits com cuidado e personalização. Sequeira mandou uma carta para o comprador ilustre, explicando que a Apple era uma das inspirações de seu produto e que seria muito importante se eles pudessem dar um feedback.

Crédito: Mola

A resposta veio em forma de convite: Sequeira visitou o Apple Park, passou horas conversando sobre design de produto e ainda descobriu que os acessórios estruturais da startup brasileira são usados para desenvolver pensamento intuitivo nos engenheiros da companhia. 

A emoção de inspirar aqueles que o inspiravam só não foi maior do que o orgulho de Sequeira com um detalhe. “Uma das empresas mais inovadoras do mundo estava ali, usando um produto que tem na caixa um ‘produzido no Brasil’.”


SOBRE A AUTORA

Camila de Lira é jornalista formada pela ECA-USP, early adopter de tecnologias (e curiosa nata) e especializada em storytelling para n... saiba mais