Marcas de dedos mostram quanta gente trabalhou para fazer a sua roupa

A fast fashion nos faz esquecer da exploração dos trabalhadores dessa indústria. A Human Touch encontrou uma forma de mostrar o fator humano desta equação

Crédito: Studio Mime/ Human Touch

Elissaveta M. Brandon 3 minutos de leitura

As roupas não se fazem sozinhas. Robôs podem cortar, imprimir ou tingir tecidos, mas ainda não conseguem costurar tão bem quanto os humanos. O que significa que cada peça do seu guarda-roupa foi costurada por um par de mãos que esticam e puxam um pedaço de tecido em uma máquina de costura. A questão é: com que frequência você pensa sobre isso?

Juliet Seger é alfaiate, engenheira de vestuário e designer em Berlim. Ela acredita que a fast fashion e sua cadeia de suprimentos globalizada nos tornaram insensíveis à exploração do trabalho associada à produção em massa.

Esquecemos que roupas são feitas por gente de verdade, fator que é peça-chave da indústria do vestuário. Para nos lembrar disso, ela fundou uma marca chamada Human Touch, que usa uma técnica chamada "costura com tinta" para ajudar a visualizar o trabalho humano por trás de cada camiseta e calça jeans.

A "costura com tinta" é exatamente o que parece: a pessoa que está costurando mergulha os dedos em tinta têxtil e continua seu trabalho normalmente. Nada muda no processo de costura, exceto que o trabalhador mergulha os dedos na tinta de vez em quando.

Mas o simples ato de costurar com tinta nos dedos significa que cada movimento é literalmente impresso na peça. Isso torna praticamente impossível para a pessoa que acaba usando uma camiseta ou casaco da Human Touch esquecer que foi feito por mãos humanas. O invisível torna-se visível.

MODA COMO ARTE E EDUCAÇÃO

A Human Touch surgiu do projeto de conclusão de curso de Seger no Edinburgh College of Art e evoluiu para uma marca de moda com a ajuda de Christina Albrecht, alfaiate, designer de moda e agora cofundadora da Human Touch.

Crédito: Studio Mime/ Human Touch

A marca foi lançada oficialmente na Berlin Fashion Week em fevereiro, com uma coleção de roupas de segunda mão e vintage que Seger e Albrecht reaproveitaram usando sua técnica de costura com tinta. Desde então, a chamada coleção Remedy tem esgotado regularmente, e a marca está planejando lançar sua primeira coleção original em fevereiro de 2025.

Mas a Human Touch não é apenas uma marca de moda: a equipe quer combinar negócios com educação e arte. A dupla tem realizado performances pop-up de costura com tinta, nas quais costuram na frente de uma pequena plateia e, mais tarde, vendem as peças com um código QR que leva a fotos da performance.

Crédito: Paula Reschke/ Fashion Positions

Seger diz que a tinta usada é acrílica à base de água, que se liga melhor a fibras naturais e celulósicas, lisas e uniformes. Sai facilmente das mãos, mas não do tecido, porque, uma vez que terminam uma peça, ela é aquecida para fixar a tinta.

O resultado final pode parecer com uma roupa que alguém usou para pintar a casa, mas as marcas e manchas só revelam as complexidades do processo de costura. Em uma camisa com gola, por exemplo, as maiores manchas vão aparecer na gola, porque é onde há mais manuseio: primeiro você costura por dentro, depois vira, costura por fora e só depois encaixa no resto da camisa.

Crédito: Studio Mime/ Human Touch

Felizmente para a Human Touch, o visual manchado coincide bem com tendências já em voga, como calças jeans respingadas de tinta. Mas a narrativa por trás de cada peça ajudou a elevar a Human Touch de uma simples marca de moda a uma marca ativista que defende o movimento contra a fast fashion e a favor de um consumo mais consciente.

"A Human Touch não é uma solução, é um convite para refletirmos sobre essas questões", diz Seger.


SOBRE A AUTORA

Elissaveta Brandon é colaboradora da Fast Company. saiba mais