Astroturfing: técnica de manipulação pode influenciar o resultado das eleições

Estratégia usada por empresas e campanhas políticas para manipular a opinião pública está sendo cada vez mais exposta

Crédito: Fast Company Brasil

Eve Upton-Clark 2 minutos de leitura

A indústria do tabaco, as grandes corporações e até mesmo as campanhas de Donald Trump e Kamala Harris à presidência dos EUA têm uma coisa em comum: todas já foram acusadas de praticar algo chamado “astroturfing”. 

Embora o termo possa parecer estranho, esta é uma estratégia bastante utilizada. Trata-se da prática de criar uma falsa impressão de que existe um grande apoio popular a uma pessoa, organização ou causa, quando, na verdade, esse apoio não existe.

Essa técnica explora a tendência humana de se deixar influenciar pela maioria, o que muitas vezes nos faz ignorar fatos e até nossas próprias convicções, nos levando a seguir o que parece ser a opinião dominante. 

O termo foi criado em 1985 pelo já falecido ex-senador dos EUA Lloyd Bentsen e faz referência a uma marca de grama sintética de mesmo nome. Na época, após receber uma avalanche de cartas em apoio a um projeto de lei favorável à indústria de seguros, Bentsen comentou: “quem é do Texas sabe a diferença entre grama de verdade e AstroTurf... estas cartas não são legítimas.”

Anos depois, a estratégia encontrou um terreno fértil no anonimato da internet, onde pessoas e organizações com muitos recursos – de campanhas políticas a grupos de ativistas – podem agir sem serem detectadas.

Hoje, o astroturfing se utiliza das redes sociais, fóruns e seções de comentários para inundar as discussões e manipular a opinião pública através de demonstrações de apoio ou ataques a um determinado alvo, silenciando as vozes e os desejos das pessoas reais.

Nos últimos 11 meses, milhares de contas falsas automatizadas no Twitter (atual X) elogiando Donald Trump e atacando seus críticos foram descobertas, de acordo com uma nova pesquisa.

Um artigo publicado no “The Guardian” mostra como estes perfis conseguem enganar os usuários: um software avançado de “gestão de persona” cria uma identidade completa para cada um deles – com nome, e-mail, site –, fazendo com que não levantem suspeitas.

ASTROTURFING NAS ELEIÇÕES DE 2024

Para complicar ainda mais, essas campanhas não dependem apenas de “bots”. Muitas vezes, são pessoas de verdade, e não IAs ou programadores, que estão por trás das contas, pagas para criar confusão online.

Essa técnica explora a tendência humana de se deixar influenciar pela maioria.

O “New York Postrevelou recentemente que um criador de conteúdo do OnlyFans foi procurado pela Palette MGMT, uma empresa de marketing de influenciadores, em nome da Future Forward – comitê de ação política ligado ao Partido Democrata.

“Oi,  Michael, espero que você esteja bem! Estou entrando em contato em nome de um dos parceiros da Palette com uma oferta paga para criar e postar conteúdo anti-Trump no TikTok”, dizia a mensagem. O curioso é que o dono do perfil era um apoiador do candidato republicano.

Embora existam leis nos Estados Unidos que proíbem o uso de técnicas de astroturfing na publicidade, quando se trata de propaganda política, não existem regras claramente definidas. Então, como tudo na internet, é sempre bom ter cautela com o que você lê.


SOBRE A AUTORA

Eve Upton-Clark é jornalista especializada em cultura digital e sociedade. saiba mais