O futuro do trabalho precisa de nova consciência – nós, mulheres, podemos ajudar
O que mais falta para entendermos que este mundo agressivo, ambicioso, excludente e masculino está destruindo nossa sociedade, nossa natureza, nossas vidas?
Medo, comando e controle, workaholism, assédio. Para qualquer pessoa minimamente consciente e sensata, essa fórmula parece ser de fracasso, e não de sucesso.
Obviamente, pessoas exaustas, humilhadas, assediadas e sobrecarregadas não são produtivas, engajadas – e claro que também têm sua saúde mental, bem-estar, autoestima e felicidade afetadas, o que impacta em todos os aspectos da sua vida. É ruim para o profissional, mas também para nós como sociedade.
Se isso é tão óbvio, então, por que o mesmo empresário há anos aumenta seu ibope, sua fortuna e seus seguidores com suas falas ignorantes e inconscientes?
"Na minha empresa não se trabalha menos do que 80 horas semanais."
"Disciplina é dor. Suporte mais e reclame menos."
"Você deveria demitir 30% do seu time."
"Democracia não funciona e nem nunca funcionou."
"A glória vem do sofrimento."
"Work life balance aos 20 anos é uma maneira fácil de garantir uma vida medíocre."
"Ah, cadê diversidade? Cadê mulheres na posição de liderança e tal? Eu estou cagando pra isso, cara."
E a mais recente: "Deus me livre uma mulher CEO."
Apesar da repercussão ruim em cada fala, há outros em silêncio, apoiando, concordando e reverberando a misoginia, a homofobia, o racismo e abusos diversos. Estamos em um grande ponto de inflexão. Não podemos mais seguir caladas, silenciadas, descrentes e desesperançosas.
Segundo a OMS, mais de um bilhão de pessoas sofrem de transtornos mentais. Nos últimos 50 anos, o suicídio aumentou 60%. E mais de 80% das pessoas com transtornos mentais graves não receberam tratamento (segundo a OPAS).
Além disso, o baixo engajamento custa quase US$ 9 trilhões para a economia global. Segundo a Deloitte, 40% dos profissionais dizem que o trabalho afeta negativamente sua saúde mental.
Está na hora de atualizar modelos de gestão e crenças que carregamos há 100 anos.
O que mais falta para entendermos que este mundo agressivo, ambicioso, excludente e masculino está destruindo nossa sociedade, nossa natureza, nossas vidas?
Há muitas frentes de atuação para nos regeneramos. Pois não é mais sobre prevenir, e sim regenerar o que já destruímos. Para isso, a força feminina será essencial. Seja nas lideranças políticas ou empresariais.
Workaholic não gera resultados sustentáveis
Workaholics tendem a experimentar altos níveis de estresse crônico, o que pode levar à fadiga cognitiva, redução da capacidade de concentração e prejuízo na tomada de decisões, além de prejudicar a criatividade e a eficiência, contradizendo a ideia de que mais horas de trabalho sempre resultam em maior produtividade.
Medo e microgerenciamento destroem a inovação
Um estudo do Google, chamado Projeto Aristóteles, revelou que equipes de alto desempenho compartilham um fator-chave: a segurança psicológica. Os pesquisadores descobriram que equipes onde os colaboradores se sentem seguros para falar e se expressar sem medo são mais inovadoras, colaborativas e geram melhores resultados.
Mulheres sabem liderar
Segundo uma pesquisa da McKinsey, líderes mulheres fazem 26% a mais para ajudar seus times a enfrentar desafios no trabalho em comparação com líderes homens. Além disso, oferecem 60% a mais de suporte emocional.
Está na hora de atualizar modelos de gestão e crenças que carregamos há 100 anos. No pós-revolução industrial, o modelo era um trabalho braçal, que exigia força. Hoje, grande parte do trabalho se desenvolve intelectualmente.
O futuro pode ser consciente, regenerativo, humano, empático. Nós, mulheres, podemos construir um mundo mais humano, empático, equilibrado, saudável – e produtivo.