IA pode encontrar “esqueletos no armário” de políticos nas redes sociais – e os seus também

Com conteúdos antigos de políticos vindo à tona e novas ferramentas de IA sendo usadas para analisar candidatos, as consequências da superexposição na internet são maiores do que nunca

Crédito: Cash Macanaya/ Unsplash/ Tolola/ iStock

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Dizem que o caráter de uma pessoa é definido pelo que ela faz quando ninguém está olhando. Mas, nesta corrida eleitoral, o que está ficando cada vez mais claro é que o caráter também se revela naquilo que você faz quando pensa que apenas algumas pessoas estão vendo.

Desde que JD Vance foi escolhido como vice de Donald Trump em julho, o senador pelo estado de Ohio tem sido alvo de críticas depois que alguns conteúdos seus vieram à tona. Entre eles, estão falas misóginas e xenófobas em podcasts e ligações controversas em sua lista de contatos no aplicativo de pagamentos Venmo.

O primeiro millennial a integrar uma chapa presidencial nos EUA é também o primeiro candidato a vice cuja presença digital voltou para assombrá-lo.

A conturbada candidatura de JD Vance é prova de que, independentemente da ideologia política, a superexposição na internet virou um risco para qualquer pessoa que deseja entrar para a vida pública em uma posição de destaque.

Não só está mais difícil esconder os rastros digitais, como especialistas em desenterrar conteúdos comprometedores estão mais eficientes do que nunca – principalmente no campo da política.

REVIRANDO SEU HISTÓRICO ONLINE

Passar muito tempo nas redes sociais pode nos colocar em bolhas que formam nossas opiniões. e essa câmara de eco cria um ambiente em que nos sentimos à vontade e confiantes para compartilhá-las. Em um cenário político onde cada comentário pode viralizar, isso é um grande problema. E trata-se de uma questão relativamente recente.

JD Vance e seus colegas millennials tinham pouco mais de 20 anos quando o Facebook foi lançado, em 2004. De lá para cá, eles acumularam duas décadas de postagens, tuítes, posts em blogs e vídeos no YouTube – tudo isso enquanto uma cultura de expor contradições alheias se formava, ensinando as pessoas a vasculhar minuciosamente os rastros digitais dos outros.

Mas o problema não se limita apenas aos candidatos. A Ferretly, por exemplo, acaba de lançar uma plataforma de análise de perfis em redes sociais com IA voltada especificamente para funcionários de campanhas políticas.

especialistas em desenterrar conteúdos comprometedores estão mais eficientes do que nunca, principalmente no campo da política.

“Não sou a favor da censura, mas acredito que o que alguém diz publicamente pode ter consequências”, afirma Darrin Lipscomb, fundador da Ferretly. “Se alguém quer fazer parte de uma empresa e da sua cultura, a empresa tem todo o direito de avaliar suas declarações públicas.”

Desde 2019, a Ferretly vem ajudando empresas a descobrir o que potenciais funcionários disseram online. Ela usa IA para vasculhar redes sociais e outras fontes públicas de até 15 anos atrás, buscando possíveis comportamentos de risco que podem passar despercebidos em verificações convencionais – como retórica inflamatória, discurso de ódio, bullying, uso de drogas e até nudez.

Com clientes em 32 países, a empresa atende uma base diversificada, que inclui desde equipes esportivas universitárias e profissionais até departamentos de polícia e influenciadores. Não é difícil imaginar que contratações problemáticas poderiam ter sido evitadas com a ajuda desse tipo de serviço.

No entanto, a Ferretly não tinha, inicialmente, a intenção de criar uma plataforma para campanhas políticas. “Começamos a identificar comportamentos relacionados à política, discurso governamental e extremismo em redes sociais, e partimos daí”, conta Lipscomb.

Crédito: Reprodução/ Ferretly

Após notar um aumento desses comportamentos entre os perfis avaliados em outras áreas, a empresa foi contratada para analisar alguns candidatos ao parlamento do Reino Unido. Depois disso, lançou seu serviço voltado para equipes eleitorais e agora trabalha com alguns comitês de ação política nos EUA.

A plataforma, que pode ser personalizada de acordo com as necessidades do cliente, vai além da análise padrão ao focar em retóricas extremas e conteúdo visual.

Os algoritmos de aprendizado de máquina conseguem filtrar milhares de postagens e memes em busca de gestos ofensivos, como o dedo do meio, símbolos extremistas, como insígnias nazistas e bandeiras terroristas, além de imagens de armas, objetos cortantes e explosivos.

DESENTERRANDO TUÍTES ANTIGOS

O fato de a plataforma da Ferretly estar sendo muito requisitada é mais um sinal de como as redes sociais estão sendo rigorosamente examinadas.

Além das mídias sociais, ela também analisa transcrições de podcasts públicos em busca de palavras e frases específicas. Imagine o que poderia ser revelado sobre um candidato com opiniões polêmicas cuja campanha está tentando esconder e fingir que algo não existe. 

A análise de perfis de candidatos a cargos políticos possivelmente não vai fazer com que parem de reproduzir certos comportamentos. Mas é provável que aprendam a escondê-los melhor. O segredo pode estar em saber quando e como apagar seus rastros.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais