O que acontece quando humanos e algoritmos começam a dançar juntos?

O Open Dance Lab está investigando maneiras de preservar uma forma de dança antiga – mas com a ajuda da inteligência artificial

Crédito: MIT Media Lab

Diana Budds 3 minutos de leitura

Na estreia de Cyber Subin, um espetáculo coreografado com a ajuda de IA generativa, dançarinos humanos cruzavam o palco ao mesmo tempo em que, na tela atrás deles, um personagem virtual também dançava. 

Seus movimentos – tanto dos humanos quanto das renderizações – seguem os princípios das “Mae Bot Yai”, as 59 poses de uma dança tradicional tailandesa com máscaras chamada Khon, mas são reinterpretados por meio de processos computacionais.

Os artistas que criaram o Cyber Subin o descrevem como uma “dança conjunta entre humanos e IA” e o encaram como uma forma experimental de preservação cultural.

“Sempre me senti fascinado por projetos que usam IA para conectar e promover o patrimônio cultural, especialmente minhas próprias raízes tailandesas”, conta  Pat Pataranutaporn, cientista interdisciplinar e candidato ao doutorado no MIT Media Lab. Sua pesquisa se concentra na psicologia ciborgue, o estudo de como a IA influencia a cognição e o comportamento humanos.

O Cyber Subin é o primeiro projeto a emergir do Open Dance Lab, projeto de Pataranutaporn no MIT Media Lab sobre como a tecnologia que está surgindo pode ser aplicada à preservação do patrimônio cultural.

A proposta não é que a IA substitua a coreografia humana, mas que a tecnologia ajude a torná-la mais empolgante e mais relevante para o público contemporâneo por meio da cocriação. 

Crédito: MIT Media Lab

Ele descreve o Open Dance Lab como uma forma de “preservação interativa” do conhecimento incorporado – um tipo de manifestação cultural que, devido à sua natureza intangível, é mais difícil de ser preservada porque, quando as pessoas morrem, o conhecimento geralmente se vai com elas. 

No século 20, a fotografia e o vídeo revolucionaram a forma como a dança passou a ser preservada. Pela primeira vez, o movimento entrou no arquivo. No entanto, essas ferramentas são limitadas: elas não são capazes de capturar a interatividade da dança. Pataranutaporn acredita que a IA oferece uma alternativa à preservação das formas artísticas.

Crédito: MIT Media Lab

“A ideia de que o patrimônio cultural é dinâmico e vivo é muito interessante e inspiradora para mim, pois ela sugere que somos uma parte ativa dele”, diz Pataranutaporn. “O patrimônio cultural é uma entidade viva e em evolução. Se tratarmos esse patrimônio como algo morto e acabado, estaremos apenas preservando-o,em vez de pensar em como podemos expressar e expandir as tradições.”

Pataranutaporn vem colaborando com o coreógrafo Pichet Klunchun nesse projeto desde a pandemia da Covid-19. Klunchun vem explorando ideias semelhantes em seu trabalho. Por mais de duas décadas, ele vem estudando os movimentos de Khon e encontrando maneiras de reinterpretá-los.

Crédito: MIT Media Lab

A dança é executada desde o século 14 e, em 2018, foi incluída na lista da Unesco de Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Klunchun desconstruiu seus movimentos simbólicos em seis elementos – energia, círculos e curvas, pontos de eixo, membros sincronizados, espaços corporais externos e relações de mudança – e os usou para desenvolver novas poses e movimentos com base neles.

Para o espetáculo Cyber Subin, a dupla incorporou esses elementos, bem como uma transmissão ao vivo de dançarinos em um modelo generativo que produziu um personagem virtual capaz de improvisar sua própria coreografia.

Crédito: MIT Media Lab

Klunchun e sua companhia utilizaram as poses do modelo virtual em suas próprias danças. Alguns dos movimentos não foram traduzidos diretamente, até porque os personagens virtuais não são limitados pela física ou pela anatomia das articulações. Mas, ainda assim, foram impressionantes. 

“Embora nossos personagens virtuais pudessem realizar movimentos impossíveis, foram os dançarinos humanos que realmente alcançaram a liberdade”, diz Klunchun. “Eles ganharam a capacidade de observar, de se inspirar na IA e de incorporar novos elementos em sua dança espontaneamente, ou de rejeitar completamente o que a IA propôs.”

Na percepção de Pataranutaporn, os resultados aumentaram a beleza da expressão humana. “A IA pode criar infinitas possibilidades, mas nossas restrições como seres humanos é que dão sentido à nossa arte. A razão pela qual temos o tipo de dança que temos hoje é porque temos uma cabeça, duas pernas e duas mãos.”


SOBRE A AUTORA

Diana Budds é jornalista especializada em design. saiba mais