Empresa de jogos satiriza Elon Musk processando Space X por jogar lixo no seu quintal

Debochada, Cards Against Humanity entra com processo por conta do despejo de lixo em um terreno comprado para impedir Trump de construir um muro na fronteira com o México

Crédito: Frederic Legrand/ COMEO/ Shutterstock

Joe Berkowitz 4 minutos de leitura

Ninguém faz jogadas publicitárias como a Cards Against Humanity. A organização, conhecida pelo jogo de cartas de mesmo nome, cheio de humor ácido e politicamente incorreto (que chegou a ser lançado no Brasil), já enviou caixas de fezes para clientes e cavou um buraco enorme no chão – em ambos os casos, como sátiras à Black Friday.

A empresa se orgulha de gerar manchetes que refletem o humor escatológico do jogo. Mas sua mais recente jogada publicitária – um processo contra a SpaceX de Elon Musk, acompanhado de um site repleto de palavrões – é mais do que uma simples provocação a uma figura pública controversa ou uma forma de atrair atenção a qualquer custo.

Sob a postura rebelde e brincalhona, a empresa, com esse processo, se posiciona contra as táticas de intimidação agressiva de oligarcas tecnológicos extremamente ricos.

Tudo começou em 2017, com mais uma provocação da Cards Against Humanity. Nos primeiros dias da administração Trump, eles lançaram a iniciativa Cards Against Humanity Saves America, pedindo aos fãs que contribuíssem com US$ 15 cada para a empresa comprar um terreno na fronteira entre os Estados Unidos e o México.

O objetivo era atrapalhar os esforços do então presidente para construir um muro separando os dois países. No final, 150 mil pessoas contribuíram, ajudando a garantir um pedaço de terra no condado de Cameron, no Texas.

Embora o terreno, aparentemente, tenha sido mantido em seu estado natural desde então, a SpaceX supostamente começou a invadir a área no início do ano. Segundo o processo, a empresa havia comprado terrenos próximos e começou a usá-los como depósito de entulho, sem pedir permissão.

Agora, eles estão processando Musk, pedindo uma indenização de US$ 15 milhões. A promessa é doar o valor aos 150 mil fãs que ajudaram a financiar a compra sete anos atrás – US$ 100 para cada um.

Esse valor é mencionado na URL provocativa do hot site: ElonOwesYou100Dollars.com (Elon Te Deve 100 Dólares), que traz fotos de como a SpaceX "destruiu completamente aquele terreno com cascalho, tratores e lixo espacial".

Algumas partes, claro, parecem bem pouco sérias, como aquela em que a Cards Against Humanity diz aceitar o Twitter como compensação, em vez dos US$ 15 milhões – uma crítica à gigantesca perda de valor de mercado da plataforma.

No site, a empresa alega que, ao arruinar aquele pedaço intocado de terra, Musk está prejudicando a reputação da Cards Against Humanity de fazer promessas absurdas e cumpri-las.

A ideia de que travar uma batalha judicial cara e prolongada seria vista como negligência pelos fãs é pura farsa. A reputação da empresa por ir até o fim com suas promoções ridículas parece segura por enquanto, independentemente do que aconteça nesta disputa legal.

QUESTÃO DE HONRA

No entanto, a verdadeira razão para o processo, além da publicidade (e talvez alguma rejeição legítima em relação a Musk), não é apenas porque a SpaceX se recusou a cumprir regras – mas sim a maneira como ela se recusou a cumpri-las.

Como a Cards Against Humanity descreve em seu novo site: “depois que pegamos [Musk deixando material na propriedade], a SpaceX nos deu um ultimato de 12 horas para aceitar uma oferta muito abaixo do valor da nossa terra.” A Fast Company entrou em contato com a SpaceX para comentar o caso e atualizará este texto se houver resposta.

Essa descrição coincide com o que moradores da região relatam sobre os esforços da SpaceX para comprar suas propriedades, conforme noticiado recentemente pela Reuters, que também menciona o processo da fabricante de jogos.

O processo está chamando atenção para a reputação do bilionário de forçar a mão para conseguir o que quer.

No artigo, uma aposentada afirma ter recebido uma oferta do tipo “pegar ou largar” de US$ 340 mil por suas duas casas, com a SpaceX se recusando a comprar apenas uma.

Independentemente do quanto a campanha da Cards Against Humanity tenha sido pensada para gerar publicidade, ela também está chamando atenção para a reputação do bilionário da tecnologia de forçar a mão para conseguir o que quer.

Parte da campanha de pressão contra a SpaceX está acontecendo no Twitter (atual X). A Cards Against Humanity criou modelos para enviar tuítes diretamente a Musk sobre o acordo do terreno, seja você uma das pessoas que ajudaram a comprá-lo ou apenas um observador preocupado. Multidões de usuários do X estão tuitando os modelos.

É o tipo de campanha que poderia inspirar o encrenqueiro Musk a processar, talvez alegando assédio direcionado. Mas uma ação judicial desse tipo provavelmente serviria apenas para atrair mais atenção para a Cards Against Humanity. E esse parece ser, pelo menos em parte, o objetivo.


SOBRE O AUTOR

Joe Berkowitz é colunista de opinião da Fast Company. saiba mais