A corrida por energia limpa na era da inteligência artificial

O setor de tecnologia deve colaborar com o setor energético para gerenciar a crescente demanda por eletricidade

Créditos: bombermoon/ iStock/ Gordon Johnson/ Pixabay

Flora Bitancourt 2 minutos de leitura

Nas últimas duas semanas, milhares de pessoas se reuniram em Nova York para as principais discussões climáticas durante a conhecida Climate Week e para importantes encontros da geopolítica global, como o Summit of the Future, que lançou o mais recente Pacto pelo Futuro, e a Assembleia Geral da ONU.

Nesses 15 dias de cidade lotada, trânsito caótico e chefes de estado de todo o mundo reunidos, vimos a potência da inteligência artificial, que, mesmo recém-chegada, já se tornou protagonista.

Nesses mesmos dias também ocorreu o lançamento do Global Digital Compact, um pacto da ONU para criar uma nova governança de tecnologia e inteligência artificial. Nele estão uma série de compromissos e ações para aproveitar as oportunidades e mitigar os riscos da IA para o desenvolvimento sustentável e os direitos humanos.    

Embora nem todas as pessoas enxerguem risco nessas ações, temos um exemplo atual: a Microsoft anunciou um acordo bilionário para a reativação de uma usina nuclear exclusivamente para fornecimento de energia para seus projetos de inteligência artificial.

Quais os impactos e responsabilidades ambientais dessa corrida por novas, complexas e mais potentes tecnologias generativas? Como equilibrar custos ambientais e esta demanda de desenvolvimento tecnológico? Estamos todos entrando em um trem em alta velocidade sem saber o destino. 

Atualmente, a crescente demanda por energia, especialmente para data centers que treinam e gerenciam modelos de inteligência artificial, tem intensificado o consumo de recursos naturais e as emissões de carbono, contribuindo para o aumento global de gases de efeito estufa (GEE).

Em recente anúncio, o Google revelou que, em 2023, suas emissões de GEE foram quase 50% superiores às de 2019, refletindo a necessidade energética desses centros.

Especialistas alertam que a geração de energia limpa poderá enfrentar dificuldades para acompanhar esse crescimento, prevendo um aumento significativo nas emissões de GEE provenientes da tecnologia utilizada.

o avanço da IA traz desafios significativos, considerando o nível de inclusão digital necessário nos países do Sul Global.

Sistemas de IA generativa, por exemplo, podem consumir até 33 vezes mais energia que softwares especializados, de acordo com estudo da Hugging Face, empresa especializada em aprendizado de máquina.

Outro dado surpreendente divulgado pelo Electric Power Research Institute: uma mesma pergunta feita para o chat de IA pode gastar 10 vezes mais energia do que em um buscador como o Google Search. 

Diante desse cenário, urge um debate sobre a utilização que garanta ampliação da eficiência energética e a gestão inteligente do consumo e produtividade, assim como uma maior regulamentação do setor e uma ampla frente de pesquisa e educação sobre o uso dessas novas tecnologias.

O setor de tecnologia da informação e comunicação deve colaborar com o setor energético para gerenciar a crescente demanda por eletricidade para que a ampliação de uma matriz energética limpa também acompanhe o mesmo ritmo de crescimento.

Fica claro que o avanço da inteligência artificial não traz apenas promessas de desenvolvimento, mas também desafios significativos considerando o nível de inclusão digital que ainda é necessário nos países do Sul Global para que essas tecnologias sejam verdadeiramente emancipatórias.

Por isso, é essencial um diálogo aberto sobre o uso responsável da IA e suas implicações ambientais, garantindo que possamos desfrutar dos benefícios dessa inovação sem comprometer o futuro do nosso planeta.


SOBRE A AUTORA

Flora Bitancourt é líder da World Climate Foundation no Brasil e co-fundadora da Impact Beyond, ecossistema de plataformas de impacto ... saiba mais