Joias da Pandora serão produzidas com ouro e prata 100% reciclados

O uso de metais totalmente reciclados custará à maior joalheria do mundo US$ 10 milhões por ano. A Pandora acredita que o investimento vale a pena

Crédito: Pandora

Elizabeth Segran 4 minutos de leitura

Os metais preciosos são valiosos justamente porque podem ser reciclados várias vezes sem perder a qualidade. Mesmo assim, 1,6 mil toneladas de ouro são extraídas todos os anos para a fabricação de joias, em um processo que consome muito carbono e costuma ser desumano para os trabalhadores.

A Pandora, joalheria dinamarquesa famosa por suas pulseiras com pingentes a preços acessíveis, está eliminando a mineração de ouro e prata em sua cadeia de suprimentos. Essa é uma medida importante, porque esta é a maior joalheria do mundo em termos de volume, vendendo 103 milhões de peças por ano.

Depois de anos de esforços para mudar sua cadeia de suprimentos, a empresa anunciou que todas as peças de joalheria que vende agora já são feitas de ouro e prata reciclados. Espera-se que isso evite a emissão de 58 mil toneladas de dióxido de carbono por ano, o que equivale ao consumo anual de eletricidade de 11 mil residências.

Foram necessários anos para mudar a cadeia de suprimentos da empresa, conta Luciano Rodembusch, presidente da Pandora na América do Norte. O esforço começou há muito tempo, quando um grupo de mais de 100 funcionários recebeu a tarefa de obter metais reciclados.

Atualmente, menos de 20% do suprimento mundial de prata e menos de 25% do ouro do mundo são provenientes de fontes recicladas. Isso significa que ainda não havia uma cadeia de suprimentos de joias para a Pandora explorar.

A empresa teve que procurar refinarias de metais reciclados pelo mundo. Ela conseguiu encontrar esses fornecedores em dezembro de 2023 e, desde então, tem trabalhado para reduzir seu estoque não reciclado. Rodembusch diz que a maior parte desse ouro vem de fontes industriais, como máquinas de raio X e equipamentos eletrônicos.

Crédito: Pandora

“A quantidade de ouro e prata usada em joias é relativamente pequena”, diz ele. “Mas o ouro e a prata são frequentemente usados em grandes quantidades em maquinário industrial. Portanto, essa é a nossa melhor fonte de materiais reciclados.”

UMA ESCOLHA MAIS SUSTENTÁVEL

A mineração tradicional de ouro e prata é um processo muito destrutivo e que libera uma grande quantidade de carbono. Em todo o mundo, há minas de pequena e grande escala, onde os trabalhadores usam maquinário para extrair esses metais preciosos do solo.

A Human Rights Watch, organização internacional que realiza pesquisas sobre os direitos humanos, afirma que milhões de trabalhadores em todo o mundo dependem da mineração de ouro, prata e diamantes para sua subsistência, mas as condições nesses garimpos são geralmente muito precárias.

Crédito: Pandora

Os trabalhadores – inclusive crianças – são frequentemente feridos e mortos durante o processo. E a mineração prejudica as comunidades, contaminando os cursos d'água com produtos químicos tóxicos.

Em contrapartida, a reciclagem de ouro e prata ocorre em grandes fábricas, onde os metais são derretidos e as impurezas, removidas. Atualmente, a pegada de carbono da prata reciclada é cerca de um terço da prata extraída e o ouro reciclado gera menos de 1% das emissões de carbono em comparação com o ouro extraído.

Porém, o ouro e a prata reciclados ainda são bem mais caros do que os minerados – uma das razões pelas quais ainda não são amplamente difundidos no setor de joias. Rodembusch diz que essa mudança nos materiais resultará em US$ 10 milhões em custos adicionais para a Pandora, mas que a empresa não vai aumentar os preços.

Crédito: Pandora

Em vez disso, ela está tentando reduzir os custos de outras maneiras. A Pandora produz todas as suas joias em duas fábricas de sua propriedade na Tailândia, com 14 mil funcionários. Como tem controle sobre esse processo de fabricação, pode introduzir equipamentos mais eficientes, o que reduz os custos.

“Estamos tentando ser mais eficientes em toda a nossa cadeia, inclusive reduzindo as viagens dos funcionários”, diz Rodembusch. “Somos uma empresa global, por isso estávamos acostumados a viajar muito. Mas, depois da pandemia, vimos que essas viagens nem sempre são necessárias e podemos reduzir as despesas.”

A Pandora está abrindo caminho para que o restante do setor de joias passe a usar materiais reciclados. Ao explorar essas refinarias, ela está facilitando a identificação e a parceria de joalheiros menores com esses fornecedores também.

Se todo o setor de joias passasse a usar fontes recicladas, a Pandora estima que economizaria 53 milhões de toneladas de carbono – o equivalente à pegada de carbono anual da cidade de Nova York.

Crédito: Pandora

No entanto, uma parte significativa dos negócios da empresa provém de joias mais modernas, em vez de joias finas. Ela está constantemente promovendo novas coleções de pingentes, como a atual coleção de Halloween ou a de vilões da Disney.

Esses produtos provavelmente não terão o mesmo tempo de vida útil que as joias mais clássicas, o que significa que são menos sustentáveis. Rodembusch argumenta que, como os pingentes são altamente personalizados, os clientes tendem a se apegar a eles e a guardá-los por anos.

Mas a Pandora também está pensando em como pode receber de volta joias antigas dos clientes para reciclá-las. “Isso criaria um sistema totalmente circular.”


SOBRE A AUTORA

Elizabeth Segran, Ph.D., é colunista na Fast Company. Ela mora em Cambridge, Massachusetts. saiba mais