Parece mármore de verdade. Mas é feito de sobras de plástico

Plásticos reciclados podem ser a nova solução para revestimentos de edifícios

Crédito: Post Rock/ Faculdade Taubman de Arquitetura e Planejamento Urbano

Nate Berg 4 minutos de leitura

Um novo material de construção está sendo desenvolvido em um laboratório da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.

Os painéis modulares, de cor preta, parecem perfeitos para revestir fachadas de prédios, algo que geralmente é feito com concreto ou pedra. Com listras alaranjadas que lembram os padrões naturais do mármore, eles parecem vindos de outro planeta. No entanto, são feitos de plástico, provenientes da indústria automotiva de Detroit.

Chamado Post Rock, o painel é um protótipo de um novo material de construção que pode reduzir drasticamente a pegada de carbono dos edifícios. Atualmente em exibição no museu Craft Contemporary, em Los Angeles, ele busca diminuir o impacto ambiental da construção civil ao reutilizar resíduos de uma outra indústria.

O conceito foi desenvolvido por Meredith Miller e Thom Moran, professores de arquitetura da Universidade de Michigan, que, desde 2015, vêm buscando formas de transformar plásticos descartados em novos materiais de construção.

A inspiração veio dos plastiglomerados, rochas que se formam no oceano a partir de resíduos plásticos, areia e outros detritos. Com aparência ao mesmo tempo natural e artificial, essas rochas destacam o problema do descarte inadequado, mas também apontam para novas maneiras de reaproveitar o plástico.

Miller e Moran começaram a testar o uso destes resíduos como base para criar objetos arquitetônicos. Usando plástico triturado de diversas cores, os resultados, surpreendentemente, lembravam rochas – um dos primeiros materiais a ser usado na arquitetura.

Crédito: Post Rock/ Faculdade Taubman de Arquitetura e Planejamento Urbano

Essa descoberta os levou a explorar o uso de forma mais ampla. Como arquitetos, perceberam que, sob as condições adequadas, o plástico poderia substituir materiais tradicionais usados na construção. Em vez de extrair mármore do solo, eles viram a oportunidade de usar a coloração do material para criar um novo tipo de revestimento para edifícios.

Através de um processo patenteado de termoformagem, que derrete uma mistura de plásticos, e um braço robótico que os molda, os resíduos são transformados em painéis sólidos com padrões coloridos que lembram rochas naturais.

Crédito: Post Rock/ Faculdade Taubman de Arquitetura e Planejamento Urbano

Com o apoio financeiro da National Science Foundation, Miller, Moran e o especialista em fabricação Christopher Humphrey, também da Universidade de Michigan, testaram vários tipos de plásticos para identificar quais se adequavam melhor – tanto esteticamente quanto em termos de desempenho. Agora, eles estão trabalhando para transformar essa ideia em um produto para o mercado.

“Existe uma percepção de que o plástico é um único material, mas, na verdade, é uma tecnologia. Cada tipo é projetado para um uso específico”, explica Miller. “Para encontrar novos usos, é preciso ser bem específico sobre o tipo de plástico que está sendo reciclado.”

UTILIDADE E ESTÉTICA ÚNICAS

Para que o produto possa ser comercializado no futuro, eles precisaram encontrar materiais-base que atendessem às normas de segurança. “O maior desafio era o fato de que polímeros à base de petróleo são altamente inflamáveis”, afirma Miller.

É aí que entra a indústria automotiva. Durante suas pesquisas, ela e sua equipe descobriram que muitos dos plásticos usados na fabricação de automóveis já são resistentes ao fogo.

Crédito: Post Rock/ Faculdade Taubman de Arquitetura e Planejamento Urbano

Esses plásticos, geralmente usados para revestir fios elétricos, baterias e painéis de carros, atendem aos padrões de segurança contra incêndio exigidos para uso em edifícios e funcionam bem no processo de termoformagem que os pesquisadores desenvolveram.

Além disso, são extremamente abundantes. Em uma cidade próxima ao laboratório, Ann Arbor, eles encontraram uma fonte rica em resíduos plásticos gerados pela indústria automotiva local. Montadoras e fornecedores da região produzem mais de 300 mil toneladas de resíduos plásticos por ano.

Crédito: Post Rock/ Faculdade Taubman de Arquitetura e Planejamento Urbano

Agora, esses resíduos de poliamida estão sendo usados para produzir os painéis Post Rock, incorporando a coloração alaranjada comum nesses plásticos como uma espécie de assinatura visual do material, refletindo sua origem. “Essa versão do Post Rock é totalmente moldada pela indústria automotiva local. A estética vem dessa região”, destaca Miller.

O painel em exibição no Craft Contemporary ainda é um protótipo, mas os pesquisadores afirmam que o conceito está avançando rapidamente e se aproximando da fqase de comercialização.

Os designers continuam trabalhando para garantir que os painéis mantenham as características visuais únicas dos plásticos utilizados em sua composição. “Sempre foi importante para nós manter o aspecto visual”, ressalta Miller.


SOBRE O AUTOR

Nate Berg é jornalista e cobre cidades, planejamento urbano e arquitetura. saiba mais