Documentário tenta desvendar quem é Satoshi Nakamoto, o criador do bitcoin
O cineasta Cullen Hoback fala sobre seu novo filme, que estreia na HBO e estará disponível na Max
Quem é Satoshi Nakamoto?
Essa é a grande questão que ronda o mundo das criptomoedas desde que o bitcoin foi introduzido, há mais de 15 anos.
Satoshi Nakamoto é o pseudônimo usado pela pessoa (ou grupo de pessoas) que desenvolveu a primeira moeda digital, publicou o white paper e apresentou uma visão sobre como as criptomoedas poderiam transformar o mundo.
O problema é que ninguém sabe quem ele é. Pelo menos, ninguém admitiu saber, embora alguns tenham afirmado ser o próprio Satoshi no passado.
Agora, a criptomoeda está consolidada no sistema financeiro e sendo negociada por mais de US$ 60 mil no momento em que escrevo esta matéria. Satoshi – seja quem for – detém cerca de 1,1 milhão de bitcoins. Isso o colocaria entre as pessoas mais ricas do mundo, o que torna sua identidade uma questão de grande relevância.
É por isso que Cullen Hoback decidiu investigar a fundo a identidade do misterioso criador da criptomoeda em seu novo filme, “Moeda Digital: O Mistério do Bitcoin”, que será exibido na HBO e estará disponível no serviço de streaming Max.
Hoback conversou com a Fast Company sobre o longa, o que despertou seu interesse no mistério envolvendo Satoshi, por que é importante descobrir sua identidade e por que as conclusões do documentário podem ser polêmicas.
Fast Company – O que despertou seu interesse nesse mistério e como surgiu a ideia do projeto?
Cullen Hoback – Eu já sabia o que era bitcoin antes de 2017, mas foi naquele ano que comecei realmente a entender seu funcionamento. Acho que qualquer pessoa interessada em investigações, ou que goste de resolver mistérios, olha para o caso de Satoshi e pensa: “seria incrível investigar isso”.
Essa história está aí há muito tempo, e eu queria montar um caso sólido. Esperava usar a experiência que adquiri em investigações digitais anteriores, como na série “Q: No Olho da Tempestade”, aplicando o que aprendi sobre figuras anônimas que fazem de tudo para apagar seus rastros.
Acho que isso nos colocou em uma boa posição para tentar desvendar o mistério. E, com três anos dedicados a essa investigação, lendo tudo o que pudemos, investigando todos os suspeitos e vasculhando uma quantidade absurda de postagens, acredito que conseguimos fazer algo que poucas pessoas teriam os recursos ou tempo para realizar.
Fast Company – Como se começa a investigar algo assim?
Cullen Hoback – Você tem que partir de onde outros pesquisadores pararam. Muita pesquisa e esforço já foram investidos para tentar solucionar esse mistério. Por isso, sempre voltam os mesmos quatro ou cinco nomes principais – pessoas que, mesmo que não sejam Satoshi, talvez saibam quem ele é. Ou, ao menos, podemos mapear a origem do bitcoin a partir dessa rede de indivíduos.
Deixei isso de lado por um tempo e pensei: “se eu conseguir acesso prolongado a uma dessas pessoas, pode ser a chave para a história maior”. E esse ponto de partida foi Adam Back. Ele se tornou fundamental para desvendar o mistério.
Fast Company – Por que descobrir quem é Satoshi é importante, especialmente para quem não está inserido no mundo das criptomoedas?
Cullen Hoback – Isso tem um valor imenso. Existe uma narrativa de que Satoshi desapareceu e nunca mais foi visto. Mas se ele estiver ativamente promovendo a adoção global do bitcoin, se tornando a pessoa mais rica do mundo, isso muda a história.
Antigamente, confiávamos no padrão-ouro. Agora, há um movimento para confiar no padrão bitcoin – seria como se uma pessoa desconhecida controlasse um quinto de todo o ouro disponível.
Satoshi Nakamoto, seja quem for, detém 1,1 milhão de bitcoins, o que o colocaria entre as pessoas mais ricas do mundo.
O fato de Satoshi deter essa enorme reserva, considerando que o bitcoin está sendo integrado ao sistema econômico de diversos países, sendo usado como moeda legal em alguns lugares e negociado em Wall Street, torna a questão da sua identidade ainda mais relevante.
Satoshi poderia ter destruído sua reserva de bitcoins publicamente, caso estivesse vivo, o que teria sido positivo tanto para sua própria segurança quanto para a longevidade da criptomoeda. Mas ele não fez isso, o que significa que a possibilidade de usar essa reserva ainda existe. Portanto, entender quem está por trás de tudo e se essa pessoa usaria esse poder é extremamente importante.
Fast Company – Não havia garantia de que você encontraria uma resposta em toda essa investigação. Como avalia o fato de que poderia trabalhar tanto e não ver nenhum resultado?
Cullen Hoback – Esse é o risco desse tipo de projeto. Não estamos lidando com um caso que já passou pelos tribunais, não estamos olhando para algo do passado. Estamos investigando em tempo real, e nesses casos sempre há risco, especialmente quando você está investindo seus próprios recursos nisso. A HBO entrou em algum ponto no meio do projeto.
Nós conseguimos o que eu considerava ser acesso suficiente para começar a avaliar a rede na vida real, não online – porque essa é outra questão sobre esses tipos de história, você só consegue chegar até certo ponto com o que pode ser encontrado na internet. Se o mistério pudesse ser resolvido na internet, já teria sido.
Acho que isso ajuda, é como uma bússola, apontando na direção das pessoas certas. Aí você só precisa passar tempo com elas, conhecê-las, saber quem elas conhecem. Ver com quem elas interagem e quem elas te apresentam.
Fast Company – Sem dar spoilers, você sente que fez progresso na solução do mistério?
Cullen Hoback – Acho que construímos um caso e tanto no filme. Acredito que quem chegamos a identificar é inesperado e vai gerar bastante controvérsia. As pessoas vão debater, independentemente de quão forte é o nosso argumento, e está tudo bem. Essa é a natureza desse espaço.
Temos muito mais evidências do que conseguimos incluir no filme. Mas vai depender do público – como as pessoas veem o caso, como interpretam as evidências e se ficarão ou não convencidas.