Ferramentas tradicionais ainda são mais produtivas do que similares com IA

As últimas inovações em inteligência artificial da OpenAI e do Google são impressionantes, mas pequenas empresas continuam criando produtos indispensáveis

Crédito: Fast Company Brasil

Harry McCracken 3 minutos de leitura

O termo “chat”, em ChatGPT, resume bem o motivo pelo qual o assistente de inteligência artificial da OpenAI teve tanto impacto. Há anos usamos computadores e smartphones para conversar com outras pessoas. Falar com um software, usando uma interface parecida, não é uma grande mudança.

No entanto, essa abordagem centrada em bate-papo também tem suas limitações. Nem toda tarefa se encaixa em um diálogo simples. Escrever, por exemplo, exige algo mais próximo de um processador de texto, com uma janela ampla para compor e a possibilidade de editar à vontade. Isso não muda só porque você está usando uma inteligência artificial.

No início de outubro, a OpenAI lançou uma versão de seu chatbot que leva isso em consideração. O ChatGPT 4o com Canvas é uma nova opção no menu de modelos para assinantes, projetado tanto para escrita quanto para programação.

À primeira vista, é bem parecido com o que já estamos acostumados. Mas quando você pede para que ele escreva algo, o resultado pode ser exibido em uma grande janela de documento e o chat será movido para o lado esquerdo. Se fizer mais solicitações, a nova versão atualizará a janela, em vez de começar tudo de novo.

Com ele, é possível editar o texto manualmente ou abrir um documento em branco para adicionar seu próprio conteúdo, como algo que você queira que a inteligência artificial resuma. Há ainda opções para melhorar a escrita, revisar a gramática, ajustar o nível de leitura e encurtar ou alongar o texto.

Conceitualmente, o Canvas aproxima o ChatGPT de uma ferramenta de IA do Google chamada NotebookLM. Esse aplicativo web, lançado no final do ano passado, é uma ferramenta de pesquisa voltada para escritores que trabalham com materiais de referência – arquivos de texto, transcrições de entrevistas, páginas da web, PDFs e até arquivos de áudio. Basta inserir um documento no aplicativo para ter acesso a resumos, respostas e até sugestões de perguntas sobre o conteúdo.

Muito disso pode ser feito com qualquer chatbot de IA. Mesmo assim, fico impressionado com a qualidade dos resumos e com a rapidez com que ele identifica fatos relevantes.

Contudo, a nova função Audio Overview é mais divertida do que útil. Em questão de minutos, ela cria um podcast com dois apresentadores robôs discutindo tópicos do arquivo que você inseriu. A fluidez da conversa é surpreendente, mas o conteúdo é superficial e o entusiasmo forçado sobre qualquer assunto pode ser hilário.

Crédito: Reprodução/ YouTube

O Audio Overview é uma façanha técnica impressionante, mas parece deslocada em um app voltado para pesquisas sérias. É como se, em um seminário sobre biblioteconomia, um mágico fosse chamado para fazer truques com livros – uma distração que pode indicar que o NotebookLM está se afastando do seu propósito.

O maior risco, no entanto, é que nem ele nem o ChatGPT 4o com Canvas atinjam a maturidade ou se mantenham no mercado. O Google é conhecido por abandonar produtos – mesmo quando são bem-recebidos. E a OpenAI (que afirma que o Canvas ainda está na fase beta) está tão ocupada com outros projetos que é difícil prever onde a nova versão se encaixa nas suas prioridades.

Tudo isso me faz valorizar ainda mais algumas ferramentas já consolidadas. Hoje, faço a maior parte das minhas anotações em um aplicativo elegante para Mac, iPad e iPhone chamado Bear. Já para projetos de escrita que envolvem pesquisa e textos mais longos, uso a versão para iPad do Scrivener, um app com muitos seguidores fiéis.

O ChatGPT 4o com Canvas é uma nova opção para assinantes, projetado tanto para escrita quanto para programação.

Além de serem excelentes, os dois têm outra coisa em comum: foram desenvolvidos por pequenas empresas. Ambos são focados, bem pensados e completos em termos de recursos – características que aparecem com mais frequência quando os desenvolvedores apostam suas fichas em um produto bom o suficiente para fazer valer o investimento.

Nenhum deles utiliza, ao menos de forma evidente, inteligência artificial. Não sei se isso é uma escolha intencional dos criadores ou uma questão de recursos limitados. Só me preocupo porque pode chegar o dia em que não conseguir competir com gigantes como OpenAI e Google coloque pequenos desenvolvedores em uma desvantagem tão grande que possa ameaçar sua sobrevivência.

Enquanto isso, torço para que o ChatGPT com Canvas e o NotebookLM sobrevivam a esse estágio inicial. Como muitos produtos de IA generativa, eles são realmente impressionantes. Mas isso não significa que se tornarão indispensáveis.


SOBRE O AUTOR

Harry McCracken é editor de tecnologia da Fast Company baseado em San Francisco. Em vidas passadas, foi editor da Time, fundador e edi... saiba mais