Na era da automação, humanos deveriam adotar a “produtividade lenta”

Executivo defende que a automação não deve ser usada para acelerar o ritmo, e sim que devemos usá-la para trabalhar mais devagar

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Aytekin Tank 3 minutos de leitura

A Revolução Industrial nos deu a linha de montagem e, com ela, um conceito simplificado de produtividade: mais é mais. Supondo que a qualidade permanecesse a mesma, gerar uma produção maior equivalia a uma maior produtividade.

Para os trabalhadores do conhecimento de hoje, a natureza da produção mudou. O objetivo de muitos não é necessariamente fazer mais, mas sim realizar um trabalho melhor, mais inovador e mais impactante.

Frequentemente, os profissionais caem na armadilha de perseguir uma noção ultrapassada de produtividade. O resultado, muitas vezes, é o burnout, uma síndrome psicológica caracterizada por exaustão emocional, cinismo e uma menor sensação de realização pessoal.

Talvez como resposta à epidemia de burnout, muitas empresas estão adotando um novo conceito de produtividade. A "produtividade lenta", termo cunhado pelo autor Cal Newport, sugere que fazer menos coisas com mais qualidade resulta em uma produtividade mais genuína. E a automação pode nos ajudar a desbloquear a produtividade lenta.

Embora alguns possam acreditar que as novas ferramentas automatizadas devem ser usadas apenas para produzir mais, eu acredito que elas devem servir para nos ajudar a produzir um trabalho melhor.

Aqui está o motivo pelo qual o trabalho sem sentido e a "pseudo-produtividade" são a antítese da realização significativa e como podemos abraçar a produtividade lenta na vida pessoal e profissional.

QUANTO CUSTA ESTAR SEMPRE OCUPADO

Apesar de tudo o que a tecnologia proporciona, como facilidade de conexão, comunicação e criatividade, ela também criou um universo infinito de coisas que podem desviar nossa atenção. Distrações momentâneas, como checar o e-mail ou "dar uma olha rápida" nas redes sociais, combinadas com tarefas tediosas, acabam nos desviando de tarefas mais importantes.

É fácil perder de vista o que realmente nos dá sentido no trabalho e focar (ou desperdiçar) a energia em riscar mais um item da lista de afazeres.

Newport chama esse estilo de trabalho de pseudo-produtividade: a tendência de evitar grandes esforços e nos ocupar com tarefas mais superficiais e concretas, que podem ser facilmente realizadas. Essa abordagem cria uma energia mais caótica, que esgota nossas forças e nos deixa funcionando no limite.

OS BENEFÍCIOS DA PRODUTIVIDADE LENTA

O antídoto, segundo Newport, é a produtividade lenta, que envolve fazer menos coisas, trabalhar em um ritmo natural e se concentrar na qualidade. Isso significa reduzir o volume de trabalho, não necessariamente as horas no escritório.

Então, quais são essas "poucas coisas" nas quais você deve focar? Para começar, reserve 15 minutos para definir o que realmente importa para você e para sua carreira. Considere:

- Quais tarefas te trazem mais alegria?

- Em quais atividades você gostaria de focar mais sua atenção?

- Quais esforços geram mais impacto?

Uma vez identificado o trabalho significativo, seu próximo desafio é garantir tempo para ele. Desligue as notificações, elimine outras distrações e, como recomenda Newport, foque na qualidade. A questão é como lidar com as tarefas que preenchem os dias, mas drenam nossa energia?

COMO ALCANÇAR A PRODUTIVIDADE LENTA

Automatizar as tarefas de rotina começa por mapear cuidadosamente um dia comum de trabalho – cada etapa de cada tarefa, incluindo as contingências e dependências. Nesse processo, você perceberá que a maioria das tarefas e projetos envolve várias etapas que levam a um determinado resultado, ou fluxos de trabalho.

Com esse mapeamento, você será capaz de planejar seu dia com mais precisão. Mas, mais importante ainda para este exercício, poderá identificar falhas em seus processos, bem como as tarefas que podem ser total ou parcialmente automatizadas.

A "produtividade lenta" sugere que fazer menos coisas com mais qualidade resulta em uma produtividade mais genuína.

Por exemplo, digamos que você seja um jornalista mapeando o processo de escrever um perfil de alguém. Você mapeia as etapas: enviar e-mail para agendar a conversa, realizar a entrevista, transcrever as notas, criar o esboço da matéria etc.

Duas dessas etapas – agendar a entrevista e transcrever as notas – podem ser automatizadas. Existem ótimas ferramentas de IA para ambas. De repente, dois itens são removidos da sua lista de afazeres. Você pode dedicar mais tempo ao aspecto mais importante do seu trabalho: criar um retrato cativante do entrevistado. Você tem mais energia mental para se concentrar na qualidade.

Quanto mais você automatiza, mais tempo pode dedicar às tarefas que lhe dão um senso de propósito e mais o seu momentum e a sua motivação aumentam. Isso se torna um ciclo virtuoso. Essa é a chave para avançar no trabalho significativo, ou, como Newport diz, alcançar a "produtividade genuína".


SOBRE O AUTOR

Aytekin Tank é fundador e CEO da Jotform, solução SaaS de formulários online. saiba mais