Domínios .ai são a nova grande onda da web. Sorte dos anguillanos

Território britânico faturou milhões. Mas os tempos estão mudando e o serviço agora enfrenta desafios

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Chris Stokel-Walker 3 minutos de leitura

Anguilla, um território britânico ultramarino no Caribe, costumava ser um lugar pouco conhecido, exceto por quem buscava um destino de férias com praias paradisíacas. Mas isso mudou com a revolução da IA generativa. De repente, a ilha, com apenas 16 mil habitantes, se tornou uma peça central no futuro digital.

Nos anos 1990, o país recebeu o domínio .ai. Na época, os gTLDs (domínios genéricos de nível superior) não iam muito além de .com, .org e .net. A expectativa era que ele fosse utilizado apenas por empresas e organizações locais. Mas, com a chegada do ChatGPT, isso mudou radicalmente e a demanda explodiu.

Hoje, mais de meio milhão de domínios .ai estão registrados pelas autoridades de Anguilla, que até pouco tempo atrás contavam com uma empresa local chamada DataHaven.net. Entre eles, estão x.ai e claude.ai, mas, curiosamente, open.ai está em uma longa disputa judicial envolvendo uma pessoa que alega ter criado o nome e o conceito antes de Sam Altman o lançar, em 2015.

O boom da IA resultou em um aumento de quase 400% nos registros de domínios nos últimos cinco anos. Esse aumento de interesse trouxe uma fortuna para a ilha. Em 2023, o país faturou US$ 32 milhões com as vendas – 20% de toda a receita do governo.

Em 2017, quando um artigo acadêmico chamado “Attention Is All You Need” (atenção é tudo o que você precisa) formalizou a ideia dos transformadores – tecnologia que dá origem ao “T” do ChatGPT –, Anguilla arrecadou US$ 1 milhão com os domínios .ai.

Mas o sucesso teve um custo. A infraestrutura do país e a empresa responsável pelo registro não estavam preparadas para o aumento exponencial da demanda gerada pela inteligência artificial. A DataHaven era gerida basicamente por uma única pessoa: Vince Cate. Por isso, Anguilla decidiu mudar sua estratégia.

O governo abriu uma licitação para a gestão dos direitos do domínio .ai. A vencedora foi a Identity Digital, com uma oferta cujo valor não foi revelado. A empresa administra 28 milhões de domínios por meio de sua plataforma de serviços de registro e é dona de quase 300 TLDs, como .info, .pro e .live.

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“Houve uma divisão de receita”, conta Ram Mohan, diretor de estratégia da Identity Digital. Ele revelou que a “grande maioria” dos lucros será destinada ao governo de Anguilla. Como parte do acordo, a empresa também garantiu uma receita mínima para o país.

Além do dinheiro – Mohan prevê que a ilha vai receber até o final do ano o dobro da receita de 2023 –, a Identity Digital promete oferecer mais segurança para o gTLD .ai, algo que uma empresa menor não conseguiria garantir.

QUESTÕES DE SEGURANÇA

Anguilla tem enfrentado ataques cibernéticos contra seu provedor de domínios, o que tem preocupado companhias que usam a extensão .ai para hospedar sites e serviços. “Quando a IA deixa de ser um produto e se torna uma infraestrutura crítica para as empresas, surgem questões como: ‘isso vai escalar? Vai funcionar? Vai ser mais rápido?’”, explica Mohan.

Em 2023, o país faturou US$ 32 milhões com registros de domínios .ai.

A Identity Digital não só garantiu proteção contra ataques externos como também se comprometeu a combater ataques lançados a partir de domínios .ai. Cerca de dois terços dos conteúdos hospedados nesses domínios envolvem phishing, algo que tanto Anguilla quanto a Identity Digital estão trabalhando para eliminar.

“Uma das nossas primeiras medidas será garantir que o domínio esteja devidamente protegido”, afirma Mohan. “Se houver casos de ciberocupação ou uso do nome .ai para phishing, esses problemas serão resolvidos rapidamente.”

O fato de poder contar com serviços externos também será essencial, de acordo com Mohan, que lembra que, em 2017, a ilha ficou sem energia por três meses após a passagem do furacão Irma. Em um mundo onde os domínios .ai são essenciais para a sociedade digital, esse tipo de interrupção seria inaceitável.


SOBRE O AUTOR

Chris Stokel-Walker é um jornalista britânico com trabalhos publicados regularmente em veículos, como Wired, The Economist e Insider saiba mais