Qual o efeito da vitória de Trump ou Harris na guerra tecnológica EUA x China

Independentemente de quem vencer, haverá novos esforços para limitar a entrada de chips e carros inteligentes chineses no país

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Karen Freifeld 4 minutos de leitura

A guerra tecnológica entre EUA e China vai inevitavelmente se intensificar, quer o republicano Donald Trump ou a vice-presidente Kamala Harris vença a eleição presidencial nos EUA no dia 5 de novembro. A diferença está na abordagem: a democrata provavelmente adotaria novas medidas mais focadas, enquanto o ex-presidente seguiria com uma postura mais direta e agressiva.

Especialistas e ex-funcionários dos governos Biden e Trump preveem novos esforços para barrar a entrada de chips chineses menos avançados, carros inteligentes e outros produtos no país. Também são esperadas mais restrições a ferramentas de fabricação de chips e chips de IA de alto valor, que seriam destinados à China.

Durante sua campanha, Harris afirmou que vai garantir que “os Estados Unidos, e não a China, vençam a competição do século 21”. Já o candidato republicano propõe tarifas cada vez mais altas como solução para conter o avanço tecnológico chinês.

Em resumo, a batalha para impedir que o dinheiro e a tecnologia dos EUA fortaleçam as capacidades militares e de inteligência artificial da China deverá se intensificar, independentemente de quem assumir o poder.

“Estamos vendo a abertura de uma nova frente na guerra fria tecnológica entre os Estados Unidos e a China, focada em dados, software e dispositivos conectados”, analisa Peter Harrell, ex-oficial de segurança nacional do governo Biden.

Em setembro, os EUA propuseram regras para impedir que carros conectados, fabricados com componentes da China, circulem pelas ruas do país. Além disso, foi aprovada uma lei exigindo que o TikTok, atualmente de propriedade de uma empresa chinesa, seja vendido até o próximo ano, sob risco de banimento.

“Há uma grande preocupação com a possibilidade de empresas chinesas terem acesso e fornecerem atualizações para dispositivos conectados”, diz Harrell. “O caso dos carros conectados e do TikTok é só a ponta do iceberg.”

Se Harris vencer, sua abordagem provavelmente será mais estratégica e coordenada do que a de Trump, de acordo com fontes próximas às duas administrações. Ela deve continuar trabalhando com aliados, como tem feito o governo Biden, para garantir que a tecnologia norte-americana não fortaleça o exército chinês, avalia Harrell.

a nova guerra fria tecnológica entre os Estados Unidos e a China é focada em dados, software e dispositivos conectados.

Por outro lado, uma nova administração Trump poderia agir com mais rapidez e não hesitaria em punir aliados que não seguirem as diretrizes dos EUA. “Aprendemos com o primeiro mandato de Trump que ele tem uma forte tendência a ações imediatas”, ressalta Jamieson Greer, ex-chefe de gabinete de Robert Lighthizer, representante comercial dos EUA no governo do ex-presidente, que está envolvido na campanha.

Nazak Nikakhtar, ex-oficial do Departamento de Comércio sob Trump, espera que a gestão do candidato republicano seja “muito mais agressiva” em relação às políticas de controle de exportação voltadas à China”.

Ela prevê uma “expansão significativa” da lista de entidades, incluindo afiliadas e parceiros comerciais de empresas já listadas. Foi Trump, por exemplo, quem colocou a gigante tecnológica chinesa Huawei nessa lista por violação de sanções. Segundo Nikakhtar, licenças para exportar tecnologia dos EUA para a China também teriam mais chances de serem negadas.

Além disso, ela não se surpreenderia se uma nova administração Trump impusesse restrições não apenas às importações de chips chineses, mas também a “produtos que contenham esses chips”. Também acredita que ele será mais duro do que Harris com aliados que não seguirem as diretrizes dos EUA. “A filosofia de Trump é mais baseada na punição”, comenta.

O presidente Joe Biden cumprimenta trabalhadores em fábrica de microchips no Arizona (Crédito: Brendan Smialowski/ AFP/ Getty Images)

Bill Reinsch, ex-oficial do Departamento de Comércio durante o governo Clinton, vê Trump como alguém mais propenso a usar uma “marreta” para impor controles, enquanto Harris optaria por um “bisturi”. “A abordagem de Trump sempre foi mais abrangente, como vimos em suas propostas tarifárias”, afirma Reinsch.

O republicano já sugeriu a imposição de tarifas de 10% a 20% sobre todas as importações (não apenas as chinesas) e até 60% ou mais sobre produtos vindos da China. Harris classificou o plano tarifário de Trump como um “imposto sobre os consumidores”, embora o governo Biden reconheça a necessidade de tarifas direcionadas, planejando aumentar a taxa sobre semicondutores de 25% para 50% até 2025.

A China, por sua vez, tem reiterado que protegerá seus direitos e interesses. No ano passado, o país mirou a empresa norte-americana de chips de memória Micron Technology após Washington impor uma série de controles de exportação, acusando Pequim de retaliar outras empresas norte-americanas em meio ao aumento das tensões.

Wilbur Ross, ex-secretário de Comércio sob Trump, destacou a necessidade de uma postura dura em relação à China, mas alertou sobre a importância de uma ação mais estratégica. “Cortar totalmente os laços seria extremamente perigoso”, alerta.


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