Só a inovação pode ajudar a construção civil a virar um setor zero carbono

Por que a indústria precisa unir forças com startups para descarbonizar

Crédito: Andrew Konstantinov/ Unsplah

Nollaig Forrest 3 minutos de leitura

A maneira como construímos nossas cidades faz toda a diferença. Para acompanhar o crescimento populacional, estamos construindo o equivalente a uma cidade do tamanho de Nova York por mês – e esse ritmo deverá continuar pelos próximos 40 anos. Hoje, a construção civil é responsável por 37% das emissões globais de gases de efeito estufa.

Um terço disso – as chamadas “emissões incorporadas” – ocorre já na fase de construção, em grande parte devido à produção de materiais. O restante das emissões vem das operações dos edifícios, ligadas principalmente ao aquecimento, resfriamento e eletricidade. Por isso, a indústria busca soluções mais sustentáveis e circulares em todas as etapas, do alicerce ao telhado, e de forma escalável.

No entanto, para limitar o aquecimento global a 1,5 °C, precisamos descarbonizar o setor mais rapidamente. A inovação é um dos principais instrumentos da construção civil para alcançar essa meta.

Indústrias difíceis de descarbonizar, como a nossa, serão transformadas por soluções inovadoras desenvolvidas por startups. Essas inovações já estão disponíveis e prontas para serem adotadas em grande escala.

Com o papel essencial da inovação na descarbonização, é fundamental desafiar nossos limites, promovendo um ecossistema aberto e fazendo parcerias com startups promissoras para expandir suas tecnologias a uma escala global.

Essa é uma missão para todo o setor. Em 2021, a Holcim se tornou membro fundador do Consórcio de Clima e Sustentabilidade do MIT, representando a indústria de materiais de construção e impulsionando ações climáticas com outras empresas que compartilham a mesma visão.

Atualmente, nossa unidade de capital de risco e inovação aberta, Holcim MAQER Ventures, impulsiona nosso crescimento sustentável, ajudando a identificar startups com potencial para gerar impacto. Por exemplo, a parceria com Greentown Labs tem como objetivo acelerar a inovação aberta para descarbonizar o ambiente construído.

CIMENTO DESCARBONIZADO

O concreto é o material mais usado no mundo e a base da urbanização. Sua produção começa pelo cimento, que atua como um “aglutinante” que une os outros componentes. Tradicionalmente, fabricar cimento é um processo intensivo em carbono, mas estamos trabalhando para mudar isso.

Hoje, contamos com seis projetos que utilizam tecnologias avançadas de captura, armazenamento e reutilização de carbono, projetadas para viabilizar a produção de oito milhões de toneladas de cimento totalmente descarbonizado.

Isso já está ajudando a tornar o cimento e o concreto neutros em carbono uma realidade em larga escala nesta década. Algumas das tecnologias desenvolvidas pelas nossas startups parceiras vão ainda mais além – permitem transformar esses materiais em “sumidouros de carbono”.

A Sublime Systems, uma das mais novas adições ao nosso portfólio, utiliza um processo eletroquímico inovador que permite fabricar cimento em temperatura ambiente, eliminando a necessidade de fornos. Em vez de calcário, a Sublime usa minerais não carbonatados e resíduos industriais, evitando o CO2 normalmente gerado na produção do clínquer.

Processo eletroquímico da Sublime Systems (Crédito: Sublime Systems)

Mas desenvolver um cimento zero carbono é apenas o começo. O CO2 pode ser mineralizado e reintegrado ao processo de construção. A mineralização é um processo natural que transforma dióxido de carbono em pedra, mas que, na natureza, leva séculos.

A Holcim também investiu na Travertine, que utiliza uma tecnologia circular exclusiva para reciclar resíduos industriais como matéria-prima, fixando CO2 e gerando novos insumos para a construção. Esse investimento vai ajudar a escalar essa tecnologia para descarbonizar o cimento.

As inovações já estão disponíveis e prontas para serem adotadas em grande escala.

Já na produção de concreto para infraestrutura essencial, utilizamos a tecnologia da neustark, pioneira na mineralização de CO2 para remoção permanente de carbono. A tecnologia fixa o dióxido de carbono de forma permanente em concreto reciclado.

Essas são apenas algumas das tecnologias promissoras que nos ajudam a enfrentar um dos maiores desafios das emissões de carbono da construção civil – as emissões incorporadas. E essas inovações já começaram a fazer diferença.

Para estimular ainda mais a inovação, grandes empresas precisam continuar colaborando com startups e incentivando ecossistemas de inovação aberta. O diferencial dessas parcerias está na união de operações em larga escala com tecnologias de ponta das startups. Esse é também um ótimo exemplo de como a colaboração entre setores pode promover mudanças significativas.


SOBRE O AUTOR

Nollaig Forrest é chief sustainability officer da Holcim. saiba mais