Apple Intelligence se apresenta como a cura para a preguiça e a ignorância

Comercial de lançamento da a inteligência artificial da Apple trata o usuário como alguém nem um pouco inteligente

Crédito: Apple

Jeff Beer 2 minutos de leitura

Nesta segunda-feira (dia 28) a Apple finalmente lançou suas ferramentas impulsionadas pela Apple Intelligence, e colocou no ar dois comerciais para divulgá-las.

À primeira vista, ambos parecem divertidas cenas da vida comum, no estilo das sitcoms. Em um deles, o "idiota do escritório" transforma uma ideia mal formulada em um e-mail perfeitamente profissional que impressiona e surpreende o seu chefe.

No outro, uma mulher esquece o aniversário do marido, mas utiliza a “mágica” da inteligência artificial da Apple para fazer, em poucos segundos, um vídeo emocionante cheio de memórias com as filhas.

Em teoria, é um conteúdo engraçado e fácil de gerar identificação com o público. Afinal, todos já passamos por momentos de esquecimento ou quisemos escrever um e-mail realmente bom. Isoladamente, não há nada de errado com esses anúncios – ambos criados internamente e dirigidos pelo mestre das comédias publicitárias, David Shane.

Mas esses anúncios não existem isoladamente. Desde o comercial “Crush” (da própria Apple) até a gafe do Google nas Olimpíadas com o anúncio de sua IA Gemini, passando pela última rodada de anúncios da Apple Intelligence com Bella Ramsey, a Apple faz parte de uma tendência maior de empresas de tecnologia usando IA para menosprezar as pessoas que deveriam usar a tecnologia.

UMA NOVA ERA PARA O MARKETING DE IA

Com esses novos anúncios, a Apple parece estar promovendo suas ferramentas de IA como uma cura para a ignorância e a preguiça. Mas também as usa como um substituto um dos fatorss mais básicos das relações humanas: a consideração pelas outras pessoas.

Basta olhar para o rosto daquele pai ao ver o vídeo. Ou para a alegria daquele rapaz quando Ramsey se lembra do nome dele (com a ajuda da IA, claro). Uma coisa é melhorar um e-mail de trabalho; outra é terceirizar suas relações pessoais para a IA.

O estranho nessa nova abordagem é que a Apple não é novata em divulgar produtos de tecnologia com um equilíbrio perfeito entre emoção e humor. Um bom exemplo é o comercial de Natal de 2013, “Misunderstood”.

A princípio, parece que um típico adolescente está o tempo todo olhando para o celular e ignorando tudo à sua volta em vários momentos divertidos do fim de semana em família. Ao final, é revelado que ele estava, na verdade, fazendo um filme comovente sobre a família o tempo todo.

Ou então a série de anúncios “The Underdogs”, de 2019, que destaca quase todos os produtos Apple ao mesmo tempo em que cria uma história hilária, cheia de personagens incrivelmente humanos. Ficamos conhecendo esse grupo excêntrico de colegas de trabalho enquanto eles têm ideias, começam uma nova empresa e mais, tudo com a ajuda das ferramentas e produtos da Apple.

Em todas essas campanhas, as ferramentas do futuro aprimoram nossa humanidade, e não a substituem. Até agora, a Apple Intelligence está nos mostrando como construir uma impressão falsa de nós mesmos, sem incentivo para melhorar. Por que se importar, se a inteligência artificial fará tudo por você?


SOBRE O AUTOR

Jeff Beer cobre publicidade, marketing e criatividade para a Fast Company. saiba mais