Este painel que muda de cor ajuda a estimular pacientes com demência
Uma equipe da Universidade Politécnica de Hong Kong desenvolveu tecidos iluminados que mudam de cor reagindo a gestos específicos das mãos
Quando qualquer visitante entra no Wong Tai Sin, um centro de saúde na parte norte de Hong Kong, é surpreendido por uma exibição curiosa. À primeira vista, os três painéis iluminados pendurados na parede parecem ser obras de arte que retratam pontos turísticos locais, como o rio Kai Tak ou o parque Morse.
Mas se você levantar o polegar na frente de um dos painéis, eles mudarão de azul para verde. Se erguer os braços acima da cabeça, as luzes mudam para amarelo.
Feitos de tecidos iluminados compostos de fibras ópticas poliméricas esticadas e amarradas ao redor de uma moldura, os painéis são mais do que um colírio para os olhos: são ferramentas interativas projetadas para estimular os sentidos e incentivar a destreza e a mobilidade de pacientes idosos.
Cada painel tem uma minúscula câmera integrada que está vinculada a um modelo de visão computacional alimentado por IA, treinado para reconhecer gestos específicos da mão ou do corpo e, em seguida, acender em resposta aos gestos.
Esses “tecidos inteligentes” foram projetados por Jeanne Tan, professora associada da Universidade Politécnica de Hong Kong, em colaboração com terapeutas ocupacionais.
Desde que foram instalados pela primeira vez, em 2021, eles se tornaram tão populares que inspiraram a equipe a projetar um travesseiro de malha que pode mudar de cor quando você o pressiona ou passa a mão sobre ele; um divisor de tela interativo para pessoas com demência avançada; e uma caixa interativa menor e mais portátil, com uma tela têxtil dentro dela.
As pessoas com demência tendem a enfrentar dificuldades em muitos aspectos da vida cotidiana, incluindo raciocínio, memória, comportamento e mobilidade. Em muitos casos, se seus sentidos não forem estimulados e elas não tiverem nada para fazer, podem ficar frustradas, agitadas e profundamente angustiadas.
Isso é ainda mais grave no caso de pessoas com demência avançada, que podem ter perdido as habilidades cognitivas e precisam de atividades mais simples que estimulem seus sentidos.
“É preciso encontrar coisas que eles possam fazer no nível deles, mas que ainda assim lhes tragam alegria e algum tipo de satisfação e senso de propósito”, ressalta Anke Jakob, pesquisadora de design da Universidade de Kingston, no Reino Unido, que não participou do projeto, mas cuja pesquisa se concentra no design sensorial para ambientes de cuidados com a demência.
Jeanne Tan trabalha no campo dos têxteis eletrônicos há mais de uma década. Desde o início da pandemia, Tan e sua equipe também têm pesquisado como os tecidos interativos podem ser usados na reabilitação, especificamente para pessoas com demência.
Tan teve essa ideia pela primeira vez durante um jantar, depois de saber que pessoas com demência avançada tendem a se mexer de modo inquieto e até a explorar objetos com a boca. “Talvez devêssemos tentar encontrar algo com que elas pudessem interagir”, ela pensou. “Aqueles que gostam de tato podem tocar, aqueles que não gostam podem usar o reconhecimento de gestos.”
Assim, ela e sua equipe desenvolveram um tipo especial de fibra óptica polimérica que pode emitir luz por toda a fibra (em vez de apenas na ponta), de modo que todo o tecido fique iluminado de forma homogênea.
A equipe levou dois anos para descobrir como tricotar esse tecido usando máquinas industriais padrão, para que a produção têxtil pudesse ser dimensionada. Foi necessário mais um ano para ajustar o modelo de computador para que ele reagisse aos gestos das mãos com vários graus de tolerância.
UM MERCADO COM POTENCIAL
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, mais de 55 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de demência, e espera-se que esse número chegue a 139 milhões até 2050.
No entanto, há apenas 10 anos havia pesquisas acadêmicas sobre os benefícios da estimulação multissensorial para pessoas com demência, mas pouca ou nenhuma pesquisa sobre como essas ferramentas de estimulação multissensorial deveriam ser.
Atualmente, as pessoas que vivem com demência – e as que cuidam delas – têm uma quantidade cada vez maior de objetos terapêuticos para escolher. Os tecidos inteligentes e os travesseiros reativos ao toque foram usados em um centro de saúde, em um centro de atendimento a idosos e em uma empresa de moradia assistida.
Em um pequeno estudo com 20 participantes, a equipe descobriu que os pacientes tinham quase duas vezes mais probabilidade de se interessar pelos travesseiros reativos ao toque do que pelos travesseiros vibratórios normalmente usados no tratamento de demência.
Tan espera continuar aprimorando os tecidos por meio de uma empresa derivada que ela fundou recentemente, chamada Geri. Além dos ambientes de saúde, ela diz que as pessoas também expressaram interesse em comprar esses produtos para seus entes queridos em casa.
“O envelhecimento da população é um problema sério”, diz ela. “Esperamos que mais pessoas entrem em contato conosco para que nosso trabalho possa alcançar mais gente.”