Você se sente sozinho? Micro comunidades podem ser a solução
Pesquisa mostra que comunidades intencionais reduzem a solidão e criam relacionamentos mais saudáveis. O truque? Ter menos gente
Mesmo conectados ao WhatsApp a todo momento e com centenas de seguidores nas redes sociais, mais de 25% dos brasileiros se sentem sozinhos. Não é uma situação isolada: a Organização Mundial de Saúde (OMS) declarou que a solidão é uma "epidemia global". A ligação digital e quase em tempo real com familiares e amigos não é o bastante para reduzir esta epidemia.
Uma das saídas é menos complexa e traz mais prazer: aquele grupo de corrida ou aquele clube do livro. São as micro comunidades intencionais. A pesquisa Queridos Estranhos, da KOGA (unidade de estudos de comportamentos da agência DOJO), aponta que 85% dos participantes dessas comunidades tiveram aumento de felicidade e 87% dizem que não se sentem isolados.
Com uma média de 12 membros, essas micro comunidades se destacam por oferecer laços profundos e apoio emocional, algo que as redes sociais tradicionais, com seus milhões de seguidores, raramente proporcionam.
"São espaços mais fechados, seguros, que oferecem acolhimento. E não exigem tanto quanto o mar aberto das redes sociais", explica Georgia Reinés, diretora de pesquisa da KOGA.
Um exemplo são os grupos de proteção animal. Uma dezena de pessoas, de uma mesma região, se juntam para ajudar os gatos e cachorros do bairro. Aquele espaço se torna um lugar para se criar laços entre elas. Três em cada quatro brasileiros que participam de micro comunidades consideram aquelas conexões tão ou mais importantes quanto amizades de longa data.
MAIS DO QUE UM GRUPO DE WHATSAPP
Além de pequenas e focadas, as micro comunidades intencionais são marcadas pela presença física. Quase 45% da dinâmica dessas comunidades acontece principalmente no presencial, embora tenham um grupo digital – normalmente, de WhatsApp – apoiando.
Ter um "ponto de encontro" é essencial para aprofundar os laços. E também para furar as bolhas criadas nas redes sociais, já que o grupo une pessoas que nem sempre estariam nos mesmos feeds.
micro comunidades se destacam por oferecer laços profundos e apoio emocional.
Para 69% dos participantes de micro comunidades intencionais, as habilidades de empatia, escuta ativa e imparcialidade desenvolvidas ali também melhoram outras relações. Isso revela uma busca por vínculos escolhidos, onde o que importa não é a quantidade, mas a profundidade e a qualidade da conexão.
A pesquisa destaca ainda que essas micro comunidades têm várias funções. Em alguns casos, funcionam como um "escudo", oferecendo segurança e empatia para que as pessoas compartilhem suas experiências sem o receio de julgamento ou exposição.
Os pequenos grupos também desempenham papeis específicos que reforçam os laços entre os membros. Há grupos que funcionam como "seta", unindo seus integrantes em torno de objetivos comuns, e outros como "lupa", onde trocas sensíveis e pessoais são encorajadas em um ambiente seguro. A pesquisa sugere que, nesses espaços, as pessoas encontram uma liberdade que nem a família consegue dar.
Um dos grupos pesquisados, por exemplo, foi o de uma comunidade de troca sobre animes e séries de televisão. Outro grupo era voltado para pessoas LGBTQIA+ de uma determinada região. Existem os micro grupos políticos, ligados a causas. Mas também aqueles que começam e terminam com um objetivo comum, como o caso dos grupos de treino para maratonas.
"Muitas vezes, são pessoas que gostam de um assunto, mas nenhum familiar ou amigo gosta da mesma forma. Ou se interessam por uma causa e querem ser escutados", diz Georgia.