5 perguntas para Juliana Assad, CEO da Esfera, programa de pontos do Santander
Juliana Assad é CEO da Esfera, programa de fidelidade do banco Santander. A executiva tem uma carreira marcada por uma combinação de liderança estratégica e inovação tecnológica. Doutora em ciências da computação, passou por empresas como IBM, Itaú e Rio Bravo. Também é empreendedora, tendo fundado duas fintechs.
Sob sua gestão na Esfera, Juliana tem fortalecido parcerias estratégicas e impulsionado a transformação digital, alinhando tecnologia e experiência do cliente. Nessa entrevista, a executiva conta como ser empreendedora apoiou a sua carreira dentro de uma grande corporação, sua visão sobre IA na área das finanças e sobre representatividade das mulheres em tecnologia.
FC Brasil – Na Esfera, o foco é fortalecer a relação com a base de clientes. Quais são os desafios de manter a atenção e fidelizar um público que tem acesso a quase todos os serviços financeiros com facilidade?
Juliana Assad – O maior desafio é se manter relevante em meio a tantas opções. Hoje, o cliente espera mais do que bons produtos: ele quer conveniência, personalização e experiências significativas no seu dia a dia.
Na Esfera, nos diferenciamos ao ir além das recompensas tradicionais, oferecendo produtos focados em experiências exclusivas, que conectam as pessoas a momentos únicos e de valor.
Nosso foco é entender profundamente as necessidades dos clientes e usar dados para antecipar demandas, surpreendendo em cada interação. A fidelização exige consistência – é preciso gerar confiança e cultivar relações de longo prazo, não apenas com promoções pontuais, mas com benefícios que realmente façam diferença na vida das pessoas.
FC Brasil – O Brasil está na vanguarda da tecnologia financeira. O que podemos esperar do futuro das fintechs com a sofisticação da IA? Qual o papel das lideranças nessa transformação?
Juliana Assad – A sofisticação da inteligência artificial promete serviços cada vez mais personalizados, eficientes e seguros, que poderão ser oferecidos tanto por fintechs quanto pelas grandes instituições que forem capazes de incorporar rapidamente a nova tecnologia e aplicá-la em larga escala.
Estima-se a possibilidade de antecipar necessidades, oferecer soluções financeiras em tempo real e aprimorar a gestão de riscos.
Neste cenário, o Brasil tem uma oportunidade de se posicionar na vanguarda deste avanço, especialmente dada as evoluções que vemos de forma mais contundente nos últimos cinco anos. O papel das lideranças será fundamental para garantir que essa transformação seja ética e centrada no cliente.
FC Brasil – Você foi cofundadora de duas fintechs. Como ser empreendedora apoiou a sua carreira dentro de uma grande corporação como o Santander?
Juliana Assad – Ser empreendedora me proporcionou uma visão 360º do negócio, algo essencial e diferencial ao liderar dentro de uma grande corporação. Aprendi, na prática, a lidar com incertezas, adaptar rapidamente estratégias e manter o foco no cliente, competências fundamentais para inovar em ambientes dinâmicos.
Curiosamente, essas são algumas das características que fazem mais sentido no mundo de constantes mudanças que vivemos hoje.
Além disso, a experiência de construir empresas do zero me deu uma compreensão mais profunda dos desafios enfrentados por parceiros e fornecedores, o que fortalece minha capacidade de colaboração e tomada de decisão. Empreender também me ensinou a cultivar resiliência e autonomia, habilidades que aplico para liderar equipes com agilidade e propósito.
FC Brasil – Existem muitas promessas em relação à inteligência artificial e muitas projeções. Na sua opinião, quais serão as aplicações mais relevantes dessa tecnologia?
Juliana Assad – É difícil prever a dimensão dos impactos do uso de inteligência artificial em todos os âmbitos da sociedade. Nos últimos anos vimos somente os primeiros passos. De forma mais prática, acredito que as aplicações mais relevantes estarão ligadas à personalização em escala e à eficiência operacional.
Com inteligência artificial, será possível oferecer produtos e serviços sob medida, como recomendações de investimentos e identificação de soluções baseadas em contexto e nas necessidades de cada cliente.
Ser empreendedora me proporcionou uma visão 360º do negócio, algo essencial ao liderar dentro de uma grande corporação.
No atendimento, assistentes virtuais e chatbots evoluídos vão garantir experiências rápidas e precisas, enquanto a automação de campanhas de marketing permitirá ações mais ágeis e direcionadas.
Outra expectativa é na adoção de co-pilots para suportar as equipes de tecnologia, automatizando tarefas repetitivas e acelerando o ciclo de desenvolvimento de soluções. O desafio estará em integrar essas inovações de forma ética e transparente, sempre priorizando a confiança e o valor entregue ao cliente.
FC Brasil – Você se graduou em ciências da computação no começo dos anos 90 e fez doutorado, com parte da tese desenvolvida na IBM Research. Hoje em dia, mulheres são menos de um terço das pós-graduandas em engenharia e computação. Como se pode reverter essa situação?
Juliana Assad – Esse tema preocupa, uma vez que são poucos os que se concentram no desenvolvimento do cerne das novas tecnologias. E as mulheres estão cada vez menos presentes nesse espaço.
Acredito que a mudança começa na base, incentivando meninas desde cedo a explorar ciência e tecnologia de forma natural e empolgante. É preciso dar visibilidade aos exemplos reais de mulheres na área e como a tecnologia impacta o mundo, para que elas se identifiquem e se vejam nesse espaço.
Quando falamos que "representatividade importa" é sobre isso. O modelo precisa ser exibido para que vire molde. Também considero essencial que empresas e universidades promovam ambientes mais inclusivos, com programas de mentoria e redes de apoio que fortaleçam a confiança e o pertencimento.
Reverter essa situação não é só uma questão de números, mas de criar uma cultura onde a diversidade de perspectivas seja valorizada como motor de inovação e transformação.