Com o design tátil, o futuro do design de produto está na ponta dos dedos

Após quase duas décadas de interações digitais minimalistas, o toque volta a ter protagonismo na interação com o mundo à nossa volta

Crédito: Ayush Kumar/ Unsplash

Dan Harden 4 minutos de leitura

Em 2007, a Apple venceu a guerra dos smartphones apostando no nosso desejo de explorar o fascinante mundo digital espelhado nas telas do iPhone.

Desde então, mergulhamos de cabeça na construção desse vasto ciberespaço – desenvolvendo uma infinidade de produtos e experiências digitais. Mas, recentemente, começamos a perceber que, com o minimalismo digital, algo foi perdido no caminho.

O tato é o sentido mais complexo que temos e é fundamental para compreendermos o ambiente à nossa volta. Mas o foco excessivo nas experiências digitais levou a um estilo de design homogeneizado, que limita as formas como interagimos com o mundo.

O design tátil é um retorno ao tangível. É uma abordagem que prioriza elementos como material, textura e peso, ampliando os sistemas visuais e auditivos já estabelecidos para proporcionar uma experiência mais imersiva, intuitiva e multissensorial.

Quando focamos demais no aspecto visual, nos desconectamos de uma fonte rica de informações de que nosso cérebro precisa. Um estudo da Deloitte revela que 44% das pessoas entre 18 e 40 anos acreditam que o uso de dispositivos pode estar prejudicando sua conexão com o mundo físico. Além disso, pesquisas apontam que produtos com elementos táteis podem “reforçar memórias e intensificar as experiências” dos usuários.

Interagir com produtos físicos – sentir o material, ouvir o clique das teclas, perceber o peso – permite que os usuários desenvolvam uma relação única e ritualística com os objetos.

A sensação tátil sempre foi uma característica marcante dos produtos de luxo, de roupas até móveis, evocando o valor artesanal e destacando o cuidado que foi dedicado ao design de cada peça.

Seja feito à mão ou por máquina, essa conexão com o material aumenta o valor percebido e a conexão emocional com o objeto. Os melhores produtos são aqueles que estimulam todos os nossos sentidos, criando uma experiência completa e intuitiva.

Algumas marcas já estão explorando o potencial do toque para criar experiências memoráveis e multissensoriais. Na London Design Festival deste ano, a Dezeen e a ASUS Zenbook organizaram uma exposição chamada “Design You Can Feel” (design que você pode sentir), na qual desafiavam seis estúdios de design a explorar como forma, cor e textura podem estimular os sentidos.

Exposição "Design You Can Feel" (Crédito: Dezeen)

A Gentle Monster, por sua vez, está desenvolvendo um conceito de “futuro do varejo” chamado Haus Dosan, na qual cada andar oferece experiências sensoriais específicas. Já o projeto Little Signals, do Google, criou objetos físicos que usam movimento, som e sinais visuais sutis para ajudar os usuários a acompanhar suas tarefas, sem depender de uma tela.

DESIGN + ACESSIBILIDADE

Além do apelo estético e experiencial, o design tátil melhora a usabilidade e a acessibilidade dos produtos com os quais interagimos. Queixas de clientes sobre a segurança das telas sensíveis ao toque em carros levaram montadoras como Kia e Volkswagen a reintroduzir botões e botões giratórios para funções críticas.

Já o Programa Europeu de Avaliação de Novos Carros planeja introduzir novos padrões para botões físicos em 2026 para carros que buscam obter uma classificação de segurança de cinco estrelas. E os carros não são os únicos: a Apple colocou botões de controle de ação e de câmera para proporcionar acesso mais fácil a ações rotineiras.

Haus Dosan, da Gentle Monster (Crédito: Divulgação)

Botões físicos permitem que os usuários confiem na memória muscular para interações mais rápidas e intuitivas em ambientes onde as telas sensíveis ao toque podem ser distrações ou menos práticas de navegar. Eles ainda são uma alternativa às telas que dificultam a acessibilidade para pessoas idosas e com deficiência.

UM RETORNO ÀS INTERAÇÕES TANGÍVEIS

O design tátil não é apenas uma tendência. Ele representa uma transformação significativa nos produtos, levando as marcas a pensar em experiências multissensoriais em todos os pontos de contato com o usuário. No entanto, essa abordagem traz alguns desafios, sendo o maior deles o tempo e o esforço necessários para desenvolver recursos físicos que realmente funcionem.

Mas esses desafios não são exclusivos do design tátil; os consumidores também se cansaram das promessas exageradas e dos recursos digitais incompletos em lançamentos de produtos beta.

Quando as marcas investem no desenvolvimento cuidadoso de elementos físicos e digitais, os benefícios podem superar os desafios – melhor usabilidade, maior confiança do consumidor e uma conexão emocional mais profunda.

O design tátil oferece um retorno muito necessário às interações tangíveis, que estimulam nossos sentidos além das experiências visuais e auditivas, tão comuns nos últimos 15 anos. Os designers têm agora a chance de criar produtos que não apenas funcionem bem, mas que também gerem uma conexão emocional duradoura com os usuários.

Em um mundo dominado por telas, os consumidores buscam produtos que utilizem a materialidade e as interações físicas para criar uma relação mais significativa e concreta com a tecnologia.

Ao projetarmos o futuro, devemos priorizar experiências que envolvam todos os sentidos, para que nossos produtos não sejam apenas usados, mas também apreciados e valorizados por muito tempo.


SOBRE O AUTOR

Dan Harden é CEO da agência de design Whipsaw. saiba mais