Impulsionados por crise climática, seguros cobrem até vendaval

Mercado se adapta aos extremos climáticos e conta com a meteorologia e a ciência de dados para ampliar opções

Imagem feita por IA/Freepik
Imagem feita por IA/Freepik

Paula Pacheco 6 minutos de leitura
Imagem feita por IA/Freepik
Imagem feita por IA/Freepik

O mundo se despede de um ano que evidenciou a urgência com que as mudanças climáticas e seus efeitos devem ser tratados. Temperaturas mais altas do que a média, períodos de estiagem atípicos e volumes recordes de chuvas.

O Brasil foi um dos tantos países que sentiram o que os cientistas mais credenciados têm dito nos últimos anos: o aquecimento do planeta aumenta e a situação só piora. Recentemente, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) anunciou que este deve ser o ano mais quente já registrado.

Por aqui, os efeitos dos extremos foram sentidos em diferentes regiões. Importantes rios das regiões Norte e Centro Oeste se exauriram, isolando comunidades e comprometendo a atividade econômica. Em parte do Nordeste e do Sudeste, a falta de chuvas se prolongou por meses.

O Rio Grande do Sul, que já havia sofrido com dois períodos recentes de grande volume de chuvas, foi cenário de uma catástrofe que, além de 182 mortes, deixou prejuízos materiais da ordem de R$ 12,2 bilhões, segundo estimativa da Confederação Nacional de Municípios (CNM).

A mesma entidade aponta que a maior participação nas perdas do setor público ficou por conta do setor habitacional, com um prejuízo calculado em R$ 4,7 bilhões, ou seja, pouco mais de um terço do total.

AJUDA DA CIÊNCIA

Com a realidade dos extremos climáticos, as seguradoras correm para entender quais são as melhores alternativas de proteção ao patrimônio. Para isso, uma das estratégias tem sido a incorporação de informações obtidas pela climatologia aos seus modelos preditivos. Cientistas do tempo se juntam aos cientistas de dados como forma de antecipar ameaças climáticas, proteger vidas e os bens materiais das pessoas e empresas.  

As informações, além de servirem para alertar a base de clientes sobre riscos, ajuda as seguradoras a se prepararem melhor para dar agilidade no atendimento pós-extremos climáticos, como as enchentes no Rio Grande do Sul ou as chuvas fortes, acompanhadas de um vendaval, que passaram pelo Estado de São Paulo em outubro.

"O monitoramento das condições climáticas conta com o apoio de centrais meteorológicas, que mandam alertas para que possamos avisar os segurados para que sejam adotadas por eles ações de prevenção de sinistros. Da mesma forma, o acesso e a lapidação dos dados permitem mobilizar uma força-tarefa formada pelos prestadores de serviço para trazer normalidade o quanto antes", diz Rodrigo Catanzaro, superintendente de Produtos Residenciais e Imobiliários do Grupo HDI.

DESAFIOS

Os extremos climáticos têm mobilizado também as equipes responsáveis por fazer cálculos e desenhar novas coberturas de seguros. Foi assim, por exemplo, que seguradoras como a Porto e o Grupo HDI passaram a oferecer proteção para os danos causados ventos fortes.

Faz tempo que as mudanças climáticas são tema nas discussões internas da Porto Seguro. Afinal, lembra Jarbas Medeiros, diretor de Ramos Elementares e Vida da Porto Seguro, os eventos climáticos são cada vez mais frequentes. “É uma realidade que tem se intensificado, por isso o mercado de seguros, que já tinha algumas soluções, tem avançado na ampliação, como estamos fazendo na Porto”.

“Antes existia um padrão, uma certa coerência entre o período intercalar entre o El Niño e La Niña. A tragédia no RS, por exemplo, aconteceu em maio, que não é um período de chuvas intensas”, diz Catanzaro.

ESTRAGOS DOS VENTOS

Se antes os clientes optavam por coberturas mais básicas, como no caso de danos causados por incêndios, agora, segundo Medeiros, buscam-se opções relacionadas a danos elétricos e até vendaval.

Em casos de queda de energia - como a que se viu na cidade de São Paulo, em novembro de 2023 e outubro passado -, os danos aos equipamentos elétricos são comuns. Muitos aparelhos de TV, geladeiras, computadores, por exemplo, não resistem às oscilações e aos picos de energia. Esse tipo de cobertura tem interessado a um público crescente, que já sofreu prejuízo ou quer proteger o patrimônio.

Além do problema de queda de árvores sobre fios e postes, o fornecimento de energia das casas pode sofrer danos e danificar equipamentos de residências e de empresas por causa de um outro fenômeno meteorológico: as descargas elétricas, que tem o Brasil como campeão mundial em incidências. Dados de 2023, divulgados pelo Grupo de Eletricidade Atmosférica (ELAT), apontam que a incidência de raios no ano passado chegou a 78 milhões, com 59 vítimas fatais.

POUCA PROTEÇÃO

Apesar da combinação de condições desfavoráveis, no Brasil, só 17% das residências têm seguro, com concentração no Sul, onde esse número chega a quase 30%. “A percepção de risco climático na região é maior, o que se reflete na procura maior”, explica Medeiros.

Há cerca de três anos, a Porto Seguro passou a oferecer uma cobertura também para os casos de alagamento e inundação que afetem imóveis. Hoje, segundo o executivo, menos de 3% dos clientes têm essa cobertura.

PREÇO

Se os extremos climáticos estão cada vez mais frequentes e impactam nos sinistros, o que as pessoas devem esperar de impacto nos preços? Para reduzir os riscos e os custos nas duas pontas – seguradoras e segurados -, o desafio é aumentar a adesão a essas coberturas e diversificar a região, avalia o executivo da Porto Seguro. A estratégia evita que as contratações de seguros se concentrem em regiões onde as chances de sinistros sejam maiores.

A solução também passa, segundo Catanzaro, do Grupo HDI, pelo investimento em tecnologia e conhecimento. “Para diminuir o impacto nos custos, investimos em sistemas e metodologias de precificação e subscrição (se aceita o risco e custo).

Para quem mora no Rio Grande do Sul, a composição de custos e riscos leva em consideração, por exemplo, a probabilidade maior de vendaval. Esse fato, sozinho, representa um custo maior para o segurado. Mas se ele inclui no contrato o seguro em caso de roubo de residência ou de veículo, vai ter um custo menor do que quem vive em São Paulo, onde os índices de criminalidade, na média, são mais elevados.

COMO OS VENTOS SÃO CLASSIFICADOS

Veja como são classificados os ventos, segundo a Escala Beaufort de Força De Vento:

  • Vendaval - Deslocamento violento de uma massa de ar, de uma área de alta pressão para outra de baixa pressão. Também chamados de ventos muito duros, os vendavais correspondem ao número 10 na Escala de Beaufort, com velocidades que variam entre 89 e 102 km/h.
  • Ciclones – é classificado em dois tipos. O ciclone extratropical, de origem não tropical, também chamado tempestade extratropical, corresponde ao número 11 na Escala de Beaufort, com ventos entre 103 e 117 km/h. Já o ciclone tropical, desenvolvido sobre as águas tropicais devido às altas temperaturas e umidade, se movimenta de forma circular organizada. Pode ser classificado como perturbação tropical, depressão tropical, tempestade tropical, furacão ou tufão. Equivale ao número 12 na Escala de Beaufort, com ventos superiores a 118 km/h.
  • Tornados, furacões e tufões: são subtipos dos ciclones tropicais. O furacão e o tufão são o mesmo fenômeno, mas em localizações distintas. Na porção leste do Oceano Pacífico ou do Atlântico ganha a denominação de furacão e tufão se ocorrer na porção oeste do Pacífico. Caracterizados por ventos muito fortes, com velocidades que podem ultrapassar 120 km/h, com um diâmetro que pode variar entre 200 km e 400 km. Já os tornados são mais intensos e destrutivos, mas são menores e duram menos. As velocidades dos tornados podem ultrapassar 500 km/h.
  • Microexplosão O fenômeno climático é uma nuvem carregada de ar, água, granizo e acompanhada de ventos intensos que atingem até 270 km/h.

SOBRE A AUTORA

Paula Pacheco é jornalista old school, mas com um pé nos novos temas que afetam, além do bolso, a sociedade, como a saúde do planeta. saiba mais