Startup desenvolve sensor que consegue “sentir” e identificar cheiros

A ideia é usar a tecnologia de sensores para farejar tudo, desde tênis falsificados até tumores que crescem dentro do corpo humano

Crédito: Anton Vierietin/ luza studios/ iStock

Jesus Diaz 4 minutos de leitura

“O que eu quero fazer é um tricorder”, disse Alex Wiltschko, fundador da empresa de IA Osmo, referindo-se ao dispositivo portátil usado na série "Stark Trek" pela tripulação da Enterprise durante suas viagens de exploração pelo universo.

No seriado, o tricorder é capaz de informar aos membros da tripulação tudo o que eles precisam saber sobre um objeto, bastando apenas segurá-lo e mantê-lo por perto.

Digamos que Wiltschko e sua equipe criaram uma versão alfa desse dispositivo fictício. Eles desenvolveram uma máquina, do tamanho de uma mochila, equipada com um sensor de cheiro que usa inteligência artificial para identificar produtos falsificados, analisando sua composição química.

Recentemente, a Osmo fechou uma parceria com plataformas de revenda de tênis para mostrar que o exame de detecção de cheiros feito com essa alta tecnologia é capaz de identificar falsificações com alto grau de precisão.

O QUE IMPORTA SÃO AS MOLÉCULAS

Todas as coisas no mundo têm seu cheiro, desde as roupas até os carros e o nosso próprio corpo. Esses odores são moléculas voláteis, ou seja, a química que “voa” desses objetos e chega às nossas narinas para nos dizer coisas. Você sente isso de forma consciente e clara quando algo é novo para o seu nariz, como o cheiro de um carro novo ou de um par de tênis.

Mas, mesmo quando você não percebe os cheiros, essas moléculas estão sempre presentes. Os cães e outros animais são muito melhores na percepção de odores porque têm os órgãos desenvolvidos para isso. E, agora, temos sensores que podem fazer esse mesmo trabalho.

Os tênis falsificados têm um cheiro diferente dos verdadeiros. Os genuínos e os falsificados diferem não apenas nos materiais, mas também na composição química. Até agora, empresas como a StockX dependiam de testes de detecção humana e inspeção visual para identificar as falsificações – um processo que exige muita mão de obra e é caro. A tecnologia da Osmo busca simplificar esse processo.

De acordo com Wiltschko, sua equipe “treinou a IA usando sensores altamente sensíveis para distinguir essas diferenças moleculares”. A tecnologia vai transformar a forma como as verificações de autenticidade são conduzidas em setores que tradicionalmente dependem de inspeção manual e de intuição.

Imagem: Osmo.ai

O objetivo do Osmo é digitalizar esse processo, acrescentando consistência, velocidade e precisão. No momento, ele diz que a máquina leva cerca de 20 segundos para distinguir o falso do verdadeiro. Em breve, garante, serão apenas cinco. E, com o tempo, será quase instantâneo.

A tecnologia da Osmo foi construída com base em anos de trabalho de laboratório usando sensores altamente sensíveis que são, como Wiltschko descreve, “do tamanho de uma máquina de lavar louça”.

Esses sensores de nível laboratorial são projetados para serem tão sensíveis quanto o nariz de um cachorro, capazes de detectar as mais tênues impressões químicas. Os dados coletados formam a espinha dorsal do processo de treinamento da IA.

O OLFATO É A CHAVE PARA O FUTURO

Wiltschko enxerga seu sistema como parte de uma estratégia mais ampla para digitalizar o sentido do olfato, um conceito no qual ele começou a trabalhar no Google Research. A base do sistema é um conceito chamado Relação Estrutura-Odor (SOR, na sigla em inglês). A SOR consiste em prever o cheiro de uma molécula com base em sua estrutura química.

Atualmente, o dispositivo do Osmo é maior e não é tão mágico ou onisciente quanto o tricorder de Star Trek. Mas Wiltschko imagina que, um dia, ele será do tamanho de uma caixa de fósforos e conseguirá detectar tudo, desde uma substância tóxica em sua casa até o frescor dos alimentos na geladeira ou um tumor cancerígeno crescendo dentro de um corpo humano.

Crédito: Osmo.ai

Em termos práticos, Wiltschko acredita que há oportunidade de usar sensores portáteis para segurança doméstica, como para detectar produtos químicos tóxicos no ar ou identificar gases nocivos que possam estar presentes em uma cozinha ou garagem.

O potencial médico dessa tecnologia é igualmente revolucionário. Wiltschko prevê que o sistema seja usado para detectar doenças precocemente – como câncer, diabetes ou mesmo doenças neurológicas, como Parkinson – analisando as mudanças sutis no odor corporal que geralmente precedem os sintomas.

“O nariz humano consegue detectar algumas dessas alterações, como quando um ente querido está doente, mas estamos trabalhando para criar um sistema que possa quantificar e analisar essas alterações muito antes e com muito mais precisão”, explica Wiltschko.

O tricorder de "Star Trek"

Ele é cauteloso sobre quando esse avanço será possível, dizendo que os cientistas precisam primeiro identificar os marcadores moleculares desses aromas antes que a máquina consiga detectar diferentes doenças. A empresa já está trabalhando com pesquisadores, mas ainda há um longo caminho pela frente.

Dito isso, as implicações para a saúde preventiva são vastas, possibilitando um diagnóstico mais precoce e melhores resultados para os pacientes.

Apesar de terem começado com algo tão mundano e pequeno como um tênis, o objetivo vai muito além disso. O sonho de um aparelho compacto semelhante a um tricorder ainda pertence ao futuro, é verdade, mas Wiltschko está convencido de que chegaremos lá, mais cedo ou mais tarde.


SOBRE O AUTOR

Jesus Diaz fundou o novo Sploid para a Gawker Media depois de sete anos trabalhando no Gizmodo. É diretor criativo, roteirista e produ... saiba mais