Opinião: homens, é hora de superar a “broderagem” e combater a misoginia

O enfrentamento da misoginia exige que os homens criem coragem e vençam o medo de ter a própria masculinidade questionada

Créditos: Tung Lam/ Zach9222/ Pixabay

W. Brad Johnson 3 minutos de leitura

“Seu corpo, minhas regras.” “Lugar de mulher é na cozinha".

Desde o final das últimas eleições norte-americanas, cresceu muito o número de publicações machistas e abusivas dirigidas às mulheres nas redes sociais. A esta altura, não me interessa mais em quem você votou. Se você se identifica como homem, agora é a hora de se posicionar.

O embate com outros homens por causa de comportamentos misóginos, de assédio e machistas é a parte mais difícil da aliança pela equidade de gênero. Quando se vai contra os códigos de conduta masculinos de longa data para promover um local de trabalho equitativo e inclusivo, o custo da aliança com as mulheres se torna rapidamente palpável.

David Smith e eu definimos isso como “vestir de verdade a camisa” quando se trata de se manifestar como um aliado. E não podemos deixar passar batido nenhum absurdo que testemunharmos ou escutarmos.

Não tem certeza do que dizer ou fazer? Basicamente, da próxima vez que você ouvir ou ler alguma gracinha como “mulher minha não sai de casa assim” ou qualquer outro comentário machista e de assédio dirigido às mulheres, diga:

“Não tem nada a ver isso que você falou.”

“Aqui a gente não julga as pessoas desse jeito.”

“Você acabou de expressar discurso de ódio contra as mulheres e isso é inaceitável.”

“Achei seu comentário ofensivo e não quero mais escutar coisas desse tipo."

Responsabilizar outros homens pelas palavras machistas e de assédio que ele soltar, além de outros comportamentos antiquados de “broderagem”, geralmente depende muito menos de uma resposta bem formulada e muito mais da identidade da pessoa que está falando – a que grupo ela pertence?

quando um homem na sala chama a atenção para essas coisas, outros homens bons se juntam à causa.

“Um confronto com o objetivo de mudar atitudes e comportamentos tem mais efeito quando vem de alguém considerado como 'um semelhante' pelo agressor – nesse caso, outro homem. De homem para homem, um colega pode dizer: 'nós, homens, não somos assim' ou 'não é isso que nós, homens, devíamos fazer'." 

O que tem ficado claro é que os homens muitas vezes ficam com receio de serem o único da turma que rebate comentários sexistas ou piadas obscenas (embora as evidências mostrem que muitos outros também se sentem ofendidos).

Por isso, eles ficam quietos, mesmo sabendo que poderiam quebrar o silêncio e permitir que outros aliados do sexo masculino também levantassem suas vozes se ao menos se manifestassem.

Embora a atitude a de se manifestar contra as agressões de outros colegas homens possa parecer difícil, há estratégias que você pode adotar para estimular um comportamento menos ofensivo e facilitar essa tarefa.

1. Use a regra dos dois segundos

Se você não tiver presença de espírito para responder à altura na hora, simplesmente diga “caramba!” de forma clara e enérgica. Isso lhe dá alguns segundos a mais para formular uma declaração clara sobre o motivo pelo qual o comentário não foi bem recebido.

2. Compartilhe sua história

Compartilhar de forma autêntica como o preconceito ou o sexismo foi prejudicial a alguém próximo a você pode fazer com que outros homens se questionem, vendo o próprio comportamento por uma nova ótica. 

3. Confronte os outros com cuidado

Um grupo de verdadeiros aliados pode transformar um embate em uma conversa carinhosa. Você não precisa levar a conversa para o nível de alerta máximo, mas precisa fazer com que o agressor entenda como o comportamento dele está prejudicando outras pessoas, tirando a credibilidade dele e explicando por que você se incomoda com isso.

Em seguida, quando ele demonstrar alguma consciência de gênero ou uma mentalidade inclusiva, não deixe de reconhecer essa melhora com um reforço positivo.

Enfrentar os discursos arraigados de masculinidade tóxica exige que superemos a hesitação, que criemos coragem e superemos o medo de ter nossa própria masculinidade questionada.

Pode apostar, quando um homem na sala chama a atenção para essas coisas, outros homens bons (mas mais quietinhos) muitas vezes esquecem a vergonha, se livram das amarras e se juntam à causa.


SOBRE O AUTOR

W. Brad Johnson, é professor de psicologia na Academia Naval dos EUA e autor de "Good Guys: How Men Can Be Better Allies for Women in ... saiba mais