Você sabe quanto gasta com streaming, app de comida e transporte?

Equilibrar receita e despesa não é papel só do governo; gastos pulverizados dificultam o controle financeiro e podem minar o orçamento

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Murilo Melo 5 minutos de leitura

Quando o assunto é corte de despesas, o foco costuma recair sobre os ajustes nas contas públicas. Mas e quando a discussão sai do Planalto e vai direto para a sala de estar das famílias brasileiras? Em tempos de economia apertada, equilibrar receitas e gastos é uma tarefa que não pode ser adiada, seja para o governo ou para pessoas.

Embora o cenário de cortes pareça desafiador, adotar uma estratégia consciente pode aliviar o orçamento sem grandes sacrifícios. E, como apontam especialistas, muitas vezes o que pesa no bolso não é o custo essencial, mas os pequenos desperdícios que passam despercebidos no dia a dia.

Segundo Ana Paula Borges, educadora financeira, o primeiro passo para eliminar despesas desnecessárias é realizar um diagnóstico detalhado do orçamento pessoal. "Assim como o governo precisa avaliar quais áreas podem sofrer cortes sem impactar serviços essenciais, cada família precisa olhar para suas próprias contas e entender onde estão os excessos", explica. E, acredite, os vilões do orçamento podem estar disfarçados de conveniências modernas.

Por exemplo, quantos serviços de streaming estão ativos em sua casa? Netflix, Spotify, Amazon Prime, Disney+, Star+, Globoplay... A lista é longa, e muitas vezes, um ou dois desses serviços não são usados com a frequência que justificaria a assinatura. "Pergunte-se: eu realmente assisto a todos os conteúdos que pago? Reduzir de três para um streaming pode gerar uma economia de mais de R$ 50 por mês, o que, em um ano, representa um valor maior do que se imagina", diz Borges.

REDUNDÂNCIAS

Outro ponto são os gastos redundantes. Ter internet banda larga de altíssima velocidade em casa é realmente necessário se você não trabalha com uploads ou downloads pesados? E a TV a cabo, que em tempos de streaming já não atrai tantos espectadores? Cortar ou renegociar esses serviços pode aliviar o orçamento mensal sem impactar diretamente sua qualidade de vida.

Pedro Ribeiro, professor e economista, reforça que as renegociações são uma ferramenta poderosa e subutilizada. "As empresas de telecomunicação e academias, por exemplo, têm planos flexíveis e frequentemente oferecem descontos para quem demonstra interesse em cancelar. É possível reduzir o valor do plano de celular ou da internet em até 30%, só com uma ligação", ensina Ribeiro. Ele também sugere atenção às assinaturas automáticas em aplicativos de delivery ou transporte. “Se você não usa esses serviços regularmente, o cancelamento pode representar uma economia imediata”.

Mas o problema das despesas não se restringe às faturas fixas, conforme os especialistas. O desperdício de alimentos é uma questão que afeta tanto o bolso quanto a consciência ambiental. Planejar as compras de supermercado, fazer listas e evitar adquirir itens em excesso são medidas simples, mas eficazes. “Muitas famílias compram por impulso, sem um planejamento adequado, e acabam jogando fora frutas, verduras e outros alimentos que vencem antes de serem consumidos”, alerta Ana Paula. Ribeiro complementa: "O desperdício é como um gasto invisível, mas que pode ser facilmente controlado com organização e disciplina".

SAIDINHAS

Jantar fora, idas ao cinema ou happy hours frequentes podem pesar no orçamento sem que percebamos. Trocar um restaurante caro por um programa caseiro – como cozinhar em casa com amigos – é uma mudança simples, mas que pode resultar em uma economia ao longo do mês. “As pessoas não precisam deixar de socializar, mas buscar alternativas mais acessíveis faz uma grande diferença no orçamento”, sugere Ana Paula.

Outro vilão das finanças modernas é o uso excessivo de aplicativos de comida. A praticidade de pedir refeições em poucos cliques esconde um custo alto, especialmente com as taxas de entrega e gorjetas. Planejar as refeições da semana e cozinhar em casa não só reduz os gastos, como também promove uma alimentação mais saudável. “Reservar um tempo para cozinhar é uma economia real. O valor que você gasta em um único pedido pode cobrir o custo de várias refeições feitas em casa”, aponta Pedro Ribeiro.

O mesmo vale para o transporte. Dependendo da frequência de uso, aplicativos de carona ou o excesso de deslocamentos de carro podem se tornar um peso no orçamento, especialmente com o preço elevado da gasolina. Para trajetos curtos ou lugares de fácil acesso, trocar o carro por caminhadas, bicicletas ou transporte público pode ser uma solução eficiente e econômica. Os especialistas dizem que é importante refletir se cada deslocamento é realmente necessário. Muitas vezes, dizem eles, usamos o carro ou aplicativos por hábito, sem considerar alternativas mais baratas e sustentáveis.

Além dos deslocamentos e entretenimento, outro campo que merece atenção são os gastos com roupas e cuidados de beleza. A compra de itens desnecessárias ou de serviços estéticos frequentes pode ser repensada. Ninguém precisa abrir mão do autocuidado, mas os especialistas explicam que é possível reduzir a frequência de tratamentos ou substituir compras impulsivas por escolhas mais conscientes. Há sugestões práticas como trocar peças de roupa entre amigos ou consertar e reaproveitar itens, em vez de comprar novos.

EQUILÍBRIO

Essa necessidade de ajustes, tanto no âmbito familiar quanto no público, vem de um princípio básico: as despesas não podem crescer mais do que as receitas. Para os especialistas, o dilema enfrentado pelo governo ao buscar cortes de gastos e aumento de arrecadação encontra paralelos claros na vida pessoal. "É difícil agradar a todos. No caso do governo, os cortes muitas vezes geram insatisfação em determinados setores. No orçamento familiar, sempre haverá algo que queremos manter, mas que não cabe no orçamento", compara Borges.

A chave, segundo os especialistas, está no equilíbrio. "Nem sempre é preciso cortar tudo, mas ajustar prioridades", destaca Ribeiro. Ele sugere que, antes de cancelar ou reduzir despesas, cada pessoa ou família deve identificar o que é realmente importante e o que pode ser dispensado sem grandes prejuízos.

Adotar estratégias de economia, como usar aplicativos de comparação de preços, comprar produtos em promoção e aproveitar ofertas de cashback, também pode trazer um alívio considerável ao bolso. “São atitudes que, somadas, ajudam a criar uma margem financeira maior, seja para investimentos ou emergências”, pontua Ana Paula.


SOBRE O(A) AUTOR(A)

Murilo Melo é formado em jornalismo e letras. Foi repórter da Folha de S.Paulo, Estadão e InfoMoney. É louco por dinheiro. Escreve sob... saiba mais