Plataforma no Pacífico vai testar geração de energia pelo movimento das ondas
O projeto PacWave cuida do licenciamento e construção da instalação para que os desenvolvedores consigam testar suas tecnologias no oceano
Um dos maiores desafios da energia renovável é sua inconstância: num dia, pode ser que as nuvens encubram o sol; no outro, a força dos ventos pode diminuir. Mas sempre há ondas no mar, mesmo nos dias mais calmos e até durante a noite.
Captar a energia das ondas, no entanto, tem sido historicamente um desafio. Agora, um projeto na costa do estado do Oregon, no oeste dos EUA, pretende mudar isso, proporcionando um local de testes para que a energia das ondas se torne uma realidade.
O setor de geração de energia a partir das ondas está cerca de 20 anos atrasado em relação à energia eólica, relata Burke Hales, professor da Universidade Estadual do Oregon e cientista-chefe do projeto PacWave, nome do local de testes a 11 quilômetros da costa da cidade de Newport. Um dos principais motivos para esse atraso é a dificuldade de testar a tecnologia.
É muito difícil construir no mar, tanto em termos de construção física quanto em termos das licenças e autorizações necessárias. “Se a intenção é construir uma turbina eólica, você vai precisar de um terreno, mas não terá que alugar uma embarcação nem descobrir como construir um sistema de ancoragem para evitar que ela fique à deriva”, explicou. “É muito mais fácil fazer testes em terra do que no mar.”
Quando a energia eólica ainda estava surgindo, os desenvolvedores tentaram todo tipo de projeto. A turbina eólica que hoje vemos no mundo todo, com suas três pás de rotor, foi o resultado desses testes no mundo real.
Quando se trata de energia das ondas, há muita diversidade nos dispositivos que existem atualmente, mas o setor ainda precisa testá-los e determinar quais funcionam melhor. “É possível projetar um sistema que produza muita energia em um ambiente teórico”, diz Hales. Mas colocar esse sistema no mar de verdade, com toda a sua variedade de ondas e condições, é diferente.
É aí que entra o PacWave. O projeto é um local de teste de cinco quilômetros quadrados no oceano Pacífico para desenvolvedores de energia das ondas. Ele inclui quatro cabos independentes, enterrados abaixo do fundo do mar, que se conectam em terra à rede elétrica local e a uma instalação da PacWave que coleta dados.
Esses cabos têm cinco megawatts cada um, totalizando uma capacidade de pico de 20 megawatts de energia - o suficiente para abastecer milhares de residências comuns.
O PacWave está sendo desenvolvido há anos. Hales entrou no projeto em 2017 e diz que a iniciativa o antecedeu em uma década. Durante esse tempo, os especialistas trabalharam em toda a complicada construção e obtenção de licenciamento para construir a instalação, instalar os cabos submarinos e enterrar os conduítes sob a praia de forma a minimizar o impacto ambiental.
O projeto já ganhou um prêmio de engenharia pela forma como enterrou esses conduítes. Para chegar ao ponto em que o local está quase pronto para os testes, a PacWave teve que concluir um documento de licenciamento de duas mil páginas, trabalhando com a EPA (a agência de proteção ambiental dos EUA), órgãos de pesca, agências estaduais e outros.
Não são a PacWave e o estado de Oregon que estão descobrindo a melhor forma de aproveitar a energia das ondas. Eles estão apenas fornecendo as instalações para pesquisadores e desenvolvedores.
“É uma instalação que apoia as pessoas que trabalham nesse setor. Esse tem sido o gargalo que tem impedido o avanço da energia das ondas nas últimas duas décadas”, diz Hales.
A expectativa é que o local de testes esteja aberto para funcionamento em junho de 2025. Nem todos os dispositivos de energia das ondas que serão testados no local vão se conectar à rede elétrica, mas o primeiro a fazê-lo, o CalWave, começará a funcionar no local em 2026. Vários dos clientes da PacWave são financiados pelo Departamento de Energia dos EUA.
Embora os testes estejam sendo realizados na costa do Oregon, a energia das ondas não é a melhor opção para essa região no momento, pois o custo da eletricidade ali é baixo e a nova fonte deve demorar para se tornar economicamente viável.
Para Hales, ela é mais adequada para lugares como o Alasca, onde a energia solar não está disponível durante todo o ano e onde as comunidades costumam usar muito diesel para fazer funcionar os geradores durante os meses de escuridão.
Os testes na PacWave, no entanto, podem abrir caminho para que a energia das ondas se some à eólica e à solar na matriz energética nacional. Os cientistas estimam que as ondas poderiam fornecer 20% da eletricidade dos EUA. “Faz parte de um portfólio diversificado de energias renováveis”, conclui Hales.