Fim da escala 6×1: quais os ganhos para a saúde mental do profissional?

Será que, ao encurtar nossa jornada, não abriríamos espaço para uma vida mais equilibrada e, consequentemente, mais produtiva?

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Henrique Bueno 3 minutos de leitura

Um estudo de 2024, publicado na "Revista de Ciências Sociais Aplicadas" revelou a forte correlação entre a jornada excessiva e o aumento de registros da síndrome de burnout.

Além disso, o levantamento realizado pela International Stress Management Association (ISMA) reforça essa realidade difícil, revelando que o Brasil é o segundo país com mais casos dessa síndrome – perdendo apenas para o Japão.

Esses dados refletem não apenas a carga horária exaustiva, mas também a falta de atenção com a saúde mental do trabalhador, que fica, muitas vezes, no limite físico e emocional.

Precisamos avaliar se o desgaste que impomos aos profissionais realmente traz os benefícios de produtividade e crescimento que imaginamos. Por isso, o debate sobre a redução da escala de trabalho 6x1 é tão relevante no Brasil. 

Afinal, o que o burnout significa para o trabalhador? É um esgotamento extremo, quando corpo e mente já não conseguem responder à pressão cotidiana. É perder a motivação e, aos poucos, a capacidade de realizar tarefas simples, ao mesmo tempo em que se entra em um colapso físico e mental.

Em um país onde tanto se fala em produtividade, é paradoxal que pouco se invista em um ambiente saudável para quem realmente produz. Ignorar essa necessidade básica é incentivar um ciclo de alta rotatividade, queda de rendimento e aumento de custos para as empresas. Repensar a jornada de trabalho e investir em suporte à saúde mental deveria ser prioridade nas organizações.

Esse cenário se agrava ainda mais ao olharmos para os dados da plataforma de terapia online Vittude, que mostram que 33% dos trabalhadores brasileiros enfrentam transtornos mentais em níveis severos ou extremamente severos. Isso significa que uma em cada três pessoas sente os efeitos de um ambiente de trabalho hostil ou indiferente às suas necessidades de saúde mental.

A pressão constante, as metas irreais e a falta de pausas adequadas transformam o trabalho em um gatilho para a depressão e a ansiedade. Vivemos em uma cultura onde buscar ajuda ainda é, muitas vezes, visto como fraqueza. Como podemos esperar que nossos profissionais estejam saudáveis quando essa visão persiste?

Reduzir a jornada para 36 hora seria um passo importante para repensar a relação dos brasileiros com o trabalho.

O peso de um modelo de trabalho que não respeita a saúde mental é sentido nas famílias. Quantas vezes ouvimos relatos de pessoas que, por estarem presas a uma rotina exaustiva, veem pouco seus filhos, negligenciam o autocuidado e têm pouco ou nenhum tempo para si mesmas?

Essa falta de equilíbrio impacta diretamente na vida pessoal e familiar, criando gerações de pessoas que não sabem o que é descanso e que carregam o peso de uma cultura de exaustão. Reavaliar a jornada de trabalho não é apenas uma questão econômica, mas um imperativo ético para uma sociedade mais saudável.

Reduzir a jornada para 36 horas, como a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) sugere, seria um passo importante para repensar a relação dos brasileiros com o trabalho. Em países que já adotaram jornadas de trabalho reduzidas, os resultados incluem aumento de satisfação, maior produtividade e menor índice de afastamento por doenças mentais e ocupacionais.

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Será que, ao encurtar nossa jornada, não abriríamos espaço para uma vida mais equilibrada e, consequentemente, mais produtiva? É hora de deixar o medo de mudanças de lado e reconhecer que produtividade e saúde não são mutuamente excludentes.

Por fim, uma transformação tão essencial quanto a saúde mental precisa da ação de líderes empresariais e políticos. Precisamos romper com o estigma de que o descanso é sinal de improdutividade e que longas horas são um reflexo de comprometimento. Em vez disso, a verdadeira lealdade de uma empresa para com seus colaboradores está em cuidar de sua saúde física e mental.

Quando as lideranças começarem a abraçar essa responsabilidade, assumindo o co-protagonismo pela promoção do bem-estar e da felicidade de suas equipes, o Brasil finalmente poderá ver um impacto positivo na produtividade e na qualidade de vida e de saúde dos trabalhadores.


SOBRE O AUTOR

Henrique Bueno é especialista em estudos da felicidade, mestre em psicologia positiva e CEO do Wholebeing Institute no Brasil e em Por... saiba mais