O que pensa o bilionário que está doando sua fortuna para causas sociais

“A igualdade de oportunidades deve começar no nascimento”, escreve o Oráculo de Omaha, criticando estilos de vida ostentatórios

Crédito: Chris Goodney/ Bloomberg

Chris Morris 3 minutos de leitura

Warren Buffett fez mais uma doação bilionária, em um gesto que já se tornou uma tradição do Dia de Ação de Graças (feriado celebrado nos EUA no final de novembro) para o sétimo homem mais rico do mundo. Este ano, no entanto, ele aproveitou a ocasião para criticar bilionários que ostentam sua riqueza e refletiu sobre o que acontecerá com sua fortuna após sua morte.

Em uma carta divulgada no início desta semana, Buffett anunciou que vai doar cerca de US$ 1,14 bilhão em ações para quatro instituições de caridade. Aproximadamente US$ 720 milhões serão destinados à Fundação Susan Thompson Buffett, enquanto US$ 144 milhões irão para cada uma das fundações administradas por seus três filhos.

Na carta, além de explicar como os recursos serão distribuídos, Buffett refletiu sobre sua própria morte e sobre os desafios de lidar com a riqueza.

“O tempo sempre vence. Mas ele pode ser caprichoso – na verdade, injusto e até cruel –, às vezes, encerrando a vida ao nascer ou logo depois; outras, esperando um século para aparecer. Até agora, tenho tido muita sorte, mas, em breve, ele chegará para mim”, escreveu. 

Buffett tem 94 anos. Seu parceiro de negócios, Charlie Munger, morreu no ano passado aos 99, a apenas 34 dias de completar 100 anos. Embora não haja sinais de que sua saúde esteja em risco, o bilionário é conhecido por sua dieta pouco convencional, que inclui frequentes cafés da manhã no McDonald’s.

“Consultei as tabelas atuariais e descobri que a menor taxa de mortalidade é entre crianças de seis anos”, brincou. “Então decidi comer como uma criança de seis anos. É a escolha mais segura que posso fazer.”

FORTUNA QUE ATRAVESSA GERAÇÕES

Buffett também falou sobre a forma como alguns bilionários ostentam suas fortunas, algo que ele sempre buscou evitar.

“Tenho sorte de a minha filosofia filantrópica ter sido amplamente compartilhada – e ampliada – pelas duas mulheres com quem me casei”, escreveu. “Nem eu, Susie Sr., nem Astrid, que a sucedeu, acreditamos em criar fortunas dinásticas. Concordamos que a igualdade de oportunidades deve começar no nascimento e que estilos de vida ostentatórios, embora legais, não são admirados. Como família, tivemos tudo o que precisávamos e desejávamos, mas nunca buscamos prazer no fato de que outros cobiçassem o que tínhamos.”

Quando Buffett morrer, praticamente toda a sua fortuna, atualmente estimada em cerca de US$ 150 bilhões, será transferida para um novo fundo filantrópico administrado por seus filhos. Eles precisarão decidir juntos e de forma unânime como o dinheiro será distribuído.

Crédito: AP Photo/ Nati Harnik/ arquivo

Nenhuma quantia será destinada à Fundação Gates, para a qual ele já doou mais de US$ 43 bilhões no passado – Buffett deixou o cargo de diretor da fundação em 2021, após o divórcio de Bill e Melinda Gates. Até o momento, ele já doou mais de 56% de sua fortuna.

Ao falar sobre sua morte, Buffett também deixou um conselho prático para pais de todas as classes sociais: conversem com seus filhos sobre seu testamento. Essa comunicação aberta, segundo ele, pode evitar conflitos após sua partida e dar aos herdeiros a chance de opinar.

Buffet aproveitou o Dia de Ação de Graças para criticar bilionários que ostentam sua riqueza.

“Ao longo dos anos, Charlie e eu vimos muitas famílias se desfazerem por causa de testamentos que deixavam os beneficiários confusos ou irritados. Ciúmes e ressentimentos – reais ou imaginados – da infância se intensificavam, especialmente quando os filhos homens eram favorecidos em detrimento das filhas, seja financeiramente ou em posições de importância.”

Os filhos de Buffett têm atualmente 71, 69 e 66 anos – e ele reconhece que sua fortuna pode durar mais do que a vida deles. Na carta, o bilionário mencionou que já escolheu três possíveis sucessores para administrar o fundo, caso seja necessário.

“Nunca quis criar uma dinastia ou estabelecer algo que se estendesse além dos meus filhos. Conheço muito bem os três e confio plenamente neles”, escreveu. “Ainda assim, a enorme fortuna que acumulei pode levar mais tempo para ser utilizada do que a vida deles. E decisões futuras serão melhores se tomadas por três mentes vivas e bem orientadas do que por uma que já se foi.”


SOBRE O AUTOR

Chris Morris é um jornalista com mais de 30 anos de experiência. Saiba mais em chrismorrisjournalist.com. saiba mais